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terça-feira, 13 de março de 2018

Luísa, Lúcia e Leila; Luciano, Leonardo e LeBron

Encomendaram-me um estudo prévio de nomes para uma criança de sexo ainda não conhecido que começasse por ‘L’. Que começasse o nome, não a criança ou o sexo não conhecido, entenda-se.
A tarefa foi interessante e profícua. Há muito por onde escolher no setor da letra L, e hesito entre três fantásticos nomes para menina e outros tantos igualmente merecedores para rapaz: Luísa, Lúcia e Leila; e Luciano, Leonardo e LeBron.

Luísa

De entre todos os nomes possíveis, este é um dos que tem uma sonoridade mais doce, mais suave e mais musical. Começa por um ‘l’ que vem do céu da boca, depois temos um ‘u’ que coloca os lábios na posição de beijo, para logo se abrirem num sorriso, com o ‘i’. Já na parte final do nome, surge o sibilante som ‘z’, ainda que ortograficamente representado por um ’s’, e tudo termina num bonito ‘a’, breve e átono.
Luísa é a variante feminina de Luís, tal como Luís é a variante masculina de Luísa. Trata-se de um nome de origem germânica formado por duas partes: simplificando “lu”, em germânico “hlod”, significa “fama”; “isa” (ou “is” para homem), em germânico “win”, significa combate. Portanto “Luísa” significará “combatente famosa” ou “valente guerreira”, o que é extremamente apropriado, vista a família que encomendou este estudo.
À escala mundial, a Luísa mais importante e mais notável é a tia Luísa:
Ninguém faz ensopado de borrego como ela. Nem gelado de morango. Espero e desejo que a nossa Luisinha aprenda com a tia Luísa todos as exigentes técnicas culinária em que ela é perita. Aliás, eu próprio domino razoavelmente umas dessas técnicas: a técnica do alho cru no caldo verde. Em relação ao ensopado de borrego, em alternativa à original, numa emergência, sugiro esta receita.
A seguir à Tia Luísa, a Luísa mais famosa é a Luísa do António Carlos Jobim. A versão original, de 1981, era cantada pelo Edu Lobo. Este vídeo em que surgem ambos, Tom Jobim e Edu Lobo, é imperdível. Para mim, esta é a melhor canção em língua portuguesa com nome de mulher! A nossa Luisinha orgulhar-se-á disso, certamente.
Dois apontamentos úteis acerca desta Luísa musical. Primeiro, a filha mais nova de António Carlos Jobim chama-se Maria Luísa e é uma bela moça, mas não é a moça de que a canção fala. A canção era de 1981 e a Maria Luísa nasceu em 1987:
Segundo: a Maria Luísa Jobim também faz uma perninha cantando. Durante algum tempo, ouvíamo-la diariamente, sem saber que era ela, na início de cada episódio da novela Páginas da Vida. Tratava-se de uma outra canção do seu pai, Wave, que ela interpretava a meias com Daniel Jobim, filho do filho mais velho de Tom Jobim. Vale a pena ouvir de novo, muitas vezes. Atualmente, forma o duo Opala, com outro músico brasileiro. Podemos escutar as suas canções no Spotify, no iTunes, mas não no Amazon Music 😥.
Finalmente, uma informação muito importante acerca do próprio António Carlos Jobim. O apelido Jobim é estranho, e não parece ser um nome português. Mas é! Trata-se de uma alteração do nome da localidade Jovim, perto de Gondomar. O trisavó do António Carlos era de lá e, já adulto, decidiu acrescentar Jovim ao seu nome. Só que, tal como Rui Veloso, trocou os bês pelos vês, neste caso o vê pelo bê, e deu Jobim. Pergunto-me se em Jovim haverá uma estátua do António Carlos ou, pelo menos, uma rua com o seu nome.
Luísa tem música, mas também tem perfume: a fragrância Loulou, de Cacharel, que deve o seu nome à atriz americana Louise Brooks.
O anúncio, de 1987, é uma pérola, e ainda hoje, quando alguém chama por nós, respondemos, tal com a Loulou do anúncio, oui, c’est moi! Para registo, a atriz é a francesa Véronique Delbourg e a banda sonora é um extrato da peça Pavane, de Gabriel Fauré, a qual o avô da nossa Luisinha anda a treinar na Banda de Faro.

Lúcia

A segunda seleção é Lúcia. Apesar da semelhança sonora com Luísa, trata-se de um nome completamente diferente. Já vimos que Luísa é de origem germânica. Ora, Lúcia é de origem latina. Corresponde à forma feminina de Lucius, nome próprio que deriva da palavra latina lux, luz. Portanto, Lucius, e também Lúcia, parecem querer dizer “que dão luz” ou “que são feitos de luz”, ambos significados muito bonitos.
Este nome é muito apropriado no caso em análise, porque coincide com o nome da bisavó materno-paterna da gaiata. Aliás, essa bisavó chamava-se Maria Lúcia da Luz (…), o que bate certo, pois era uma pessoa muito luminosa. Conseguimos uma foto da avó Lúcia, quando ainda não era avó, tirada na praia da Rocha no verão de 1953 (tinha ela 28 anos), empunhando um rechonchudo bebé não identificado. Vê-se que se trata da praia da Rocha pelo grande número de turistas ingleses no background.
Fora da árvore genealógica da gaiata, a Lúcia mais representativa é, sem dúvida, a Lúcia van Pelt, personagem dos Peanuts. Inicialmente, a Lucy era um bebé irritante que atormentava constantemente os pais. Depois, ao crescer, tornou-se mandona, egoísta e muito sarcástica. A nossa Lúcia não há de ser assim, mas aposto gostará desta sua namesake.
Ainda no capítulo ficcional, agora também musical, sobressai a Lúcia no Céu com Diamantes, dos Beatles. Há várias teorias sobre quem seria esta Lúcia, mas isso interessa pouco. O que interessa é esta grande canção, que tem 50 anos, mas que parece que foi ontem. Vinha no álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, cuja capa aqui recordamos, em benefício dos que não estavam cá quando apareceu.
Não é bem ficcional, mas há 3000000 de anos, viveu na atual Etiópia uma outra Lúcia, que é a tataravó em último grau de todos nós. Não há fotos da época, mas a reconstrução que existe no museu de história natural em Washington, é deveras impressionante e faz pensar.
Esta Lúcia de antanho chama-se assim por causa da canção dos Beatles. Segundo consta, a canção tocava muitas vezes, no campo arqueológico, lá na Etiópia, e terá inspirado os arqueólogos. Sugiro que os pais da criança lhes sigam o exemplo, e que ponham a Alexa a tocar esta canção amiúde.
Uma outra Lúcia, esta mais bonita do que a etíope, é a Lucy Miller, do filme Lucy. Se não viram, vejam. Aqui vai o trailer e o cartaz, onde reconhecemos a Scarlett Johansson, que fazia de Lucy:
Muito cuidado com esta Lucy!
De novo no setor musical, e para além da canção dos Beatles, temos de referir o Paco de Lucía e a Lucia de Lammermoor.
Paco de Lucía (1947-2014) foi um grande guitarrista espanhol. O seu verdadeira nome era Francisco Gustavo Sanchez Gomez. Nasceu em Algeciras. Paco é que os espanhóis chamam aos Franciscos e Lúcia era o nome da sua mãe, uma algarvia de Castro Marim. Aparentemente, em Algeciras é costume os rapazes serem distinguidos pelo nome da mãe, o que compreende, pois deve haver muitos Pacos, muitos Pepes e muitos Javiers. Assim, ficou Paco da Lúcia, e, do mesmo modo, acho devíamos adotar Xavier da Vera e Valentim da Diana. Para manter as coisas simétricas e igualitárias, proponho que as gaiatas sejam distinguidas pelo nome do pai. Desta forma, teremos em breve a Lúcia do João, que se junta à Olívia do mesmo. Claro que esta minha proposta é um tanto biased a meu favor, já que ganho logo duas: a Vera e a Diana do Pedro. 😎
Eis três amostras da arte do Paco da Lúcia: Entre Dos Aguas e Concerto de Aranjuez, Mediterranian Sun Dance.
Atenção, Xavier! Toca a treinar isto no teu uquelele!
No iTunes há mais e no Amazon Music também.
Finalmente, Lúcia de Lammermoor, a heroína da ópera homónima, de Donizetti:
Como se depreende desta foto, Lúcia de Lammermoor é uma daquelas óperas em que tudo acaba mal, mas pronto. Eis a famosa “cena louca”, interpretada pela Callas e outra versão mais recente, pela Sumi Jo e outra ainda, pela Diana Damrau. Esta cena integra duas árias: a o doce som e a derrama lágrimas amargas, em italiano il dulce souno e spargi d’amare pianto. Para a “o doce som”, sozinho, temos aqui a versão da Callas e uma outra, espetacular, usada no filme “O Quinto Elemento”, na cena da “dança da Diva”. Nesta, quem canta é a soprano albanesa Inva Mula Tchako. Para quem quiser ouvir só “as lágrimas amargas, termos a versão da Natalie Dessay.
Grande música para uma grande miúda!

Leila

Completo este estudo da letra ele com um nome incontornável, ainda que polémico: Leila. Incontornável, porque à escala mundial, a melhor canção com nome de mulher é a Layla, do Eric Clapton. A versão original é dos Derek and the Dominos e pertence ao disco Layla and Other Assorted Love Songs. (Xavier: isto é para ser tocado em Volume 10!)
O nome é polémico porque pode escrever-se de várias maneiras. Para Clapton é Layla; nos países de língua portuguesa parece que Leila é mais frequente. Veja-se o caso de Leila Lopes, angolana, miss universo em 2011:
Por outro lado, a lista oficial de nomes admitidos também regista Layla. Aliás, aparentemente a edição de novembro de 2017 está muito mais rica do que as anteriores: estimo mais de 4000 nomes para rapariga e outros 4000 para rapaz. A regra parece ser aceitar qualquer nome que seja nome registado de um cidadão português. Na verdade, consultando a lista, fica difícil encontrar um nome normal. A Wikipedia tem um interessante artigo que também deve ser estudado por todos os futuros progenitores, ainda que esteja desatualizado, pois não inclui Layla.
A Layla de que Eric Clapton fala ou, melhor, canta, é uma princesa persa, do século VII, envolvida num romance trágico, estilo Romeu e Julieta, com um rapaz chamado Majnum. Ora, na altura, o Eric estava in love com a Pattie Boyd, uma famosa modelo inglesa, que, por sinal, era casada com George Harrison, grande amigo e parceiro do Eric.
A Pattie Boyd era de facto uma bela garota e não admira que tivesse uma legião de admiradores:
Uns anos depois a Pattie separou-se do George e acabou por se casar com o Eric. Uns anos depois, separou-se do Eric. C’est la vie
Quer dizer, o Eric compôs a Layla quando estava na fossa causada pela sua paixão impossível (à altura) pela Pattie. Apetece dizer: ainda bem que era uma paixão impossível; se fosse possível, talvez hoje não tivéssemos essa canção.
Pattie Boyd é uma mulher muito interessante e pode gabar-se de ter sido a musa, não de uma, não de duas, mas de três grandes canções: Layla, como já sabemos, Wonderful Tonight, também do Clapton (vejam também esta versão ao vivo) e Something, do George Harrison, para os Beatles. O vídeo é fantástico, dos Beatles com as suas respetivas mulheres à época: o George com a Patti (que é mais gira de todas), o Paul com a Linda, o John com a Yoko e o Ringo com a Maureen. Do Something, há ainda esta versão notável, pelo George e pelo Eric, ao vivo no Japão.
Há que dizer que a canção Layla tem dois autores: Eric Clapton e Jim Gordon. Na verdade, a canção tem duas partes distintas: a primeira, com os famosos riffs na guitarra, é do Eric; a segunda, mais calma, é do Jim Gordon, que originalmente a escreveu para piano. Também é justo reconhecer que os riffs foram compostos por um outro guitarrista, Duane Allman, convidado para a gravações do tal álbum dos Derek and the Dominos. Este interessante vídeo isola a faixa da guitarra do Allman, por um lado, e a voz do Clapton por outro. Este outro vídeo, do produtor, Tom Dowd, muitos anos depois, também é muito bom.
O Jim Gordon que é indicado como co-autor era o baterista dos Derek and the Dominos. Alguns dizem que ele terá “roubado” a melodia à sua namorada da altura, Rita Coolidge, que a usara numa canção chamada Time.
Esse rapaz, o Jim Gordon, acabou mal. Em 1983, num ataque de esquizofrenia que não estava diagnosticada, cometeu um crime bastante chato. Ainda continua preso. Mas era um baterista excepcional. Depois de deixar os Derek and the Dominos, participou na Incredible Bongo Band. Ficou famosa a versão que esta banda fez do clássico Apache, onde podemos apreciar a força da bateria do Jim.
Finalmente, para registo, e para o Xavier ir treinando no seu uquelele, o riff da mana:

Luciano

Luciano: um belo nome, com clara sonoridade italiana, incompreensivelmente pouco usado.
Luciano, saiba-se, é um nome derivado de Lúcio, e Lúcio é a forma masculina de Lúcia, nome feminino analisado acima. Em rigor, na origem Luciano é o patronímico de Lúcio, tal como, em português, Fernandes é o patronímico de Fernando, significando “filho de Fernando”. Ora, tecnicamente, os patronímicos podem referir-se a um antepassado do indivíduo em causa, pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó, etc. Concluímos que, no caso vertente, o nome é muito apropriado e pode ser tomado como bisneto da Lúcia.
Os Lucianos mais famosos são italianos, ou de origem italiana.
Temos, para começar, o incontornável Luciano Pavarotti. Não o conhecemos assim, mas era um belo rapaz:
Não querendo documentar a sua presença aqui com o algo piroso, mas fantástico, Nessum Dorma, propomos o notável E lucevan le stelle, em português “E brilhavam as estrelas”, da ópera Tosca, de Puccini.
Outro Luciano italiano é o Berio. É menos conhecido que o Pavarotti, mas é do mesmo ramo: a música, neste caso não a ópera mas a música contemporânea, inclusivamente música eletrónica.
Eis um famoso exemplo da música de Luciano Berio: a sexta sequência para viola. E estoutro também é muito bom: Folk Songs.
Noutro ramo trabalhava o Lucky Luciano, que tinha cara de mau, como se vê neste famoso mugshot:
O Lucky Luciano é americano, o que calha bem, pois o nosso gaiato também será. Eu termos onomásticos, há que esclarecer que em rigor, Lucky é diminutivo de Lucas e Lucas é uma variante de Lúcio. Portanto Lucky Luciano é um nome redundante. Bom, se Lucas é uma variante de Lúcio e Luciano também, concluímos que Lucas e Luciano são variantes em segundo grau. Se por algum motivo técnico, Luciano não for possível, a alternativa Lucas é sempre uma possibilidade.
Esperamos, claro, que o gaiato não siga os passos deste seu concidadão e namesake no mundo do crime. Mas Lucky Luciano era um tipo organizado e amigo do seu amigo. Foi um dos fundadores do Sindicato Nacional do Crime, uma associação que, tal como seu nome revela, certamente tinha como nobre missão defender os direitos e os interesses dos trabalhadores do crime.
O quarto Luciano de hoje dedica-se, como os dois primeiros, a uma atividade mais consentânea com os bons costumes: a música, também, neste caso, com o seu irmão mais velho Zezé di Camargo, formando a dupla Zezé di Camargo & Luciano, elevados expoentes da música sertaneja.
Eis uma recente imagem dos dois irmãos, em pose bem masculina:
O Luciano é o da esquerda, acho eu…
Uma música destes dois é super-muito-conhecida, ainda que não seja um original deles: Eu só penso em você. Coma sabemos, o original é o You were always on my mind, um clássico americano, com famosas versões do Willie Nelson, do Elvis Presley e dos Pet Shop Boys, mas a versão dos dois irmãos, com a participação do Willie Nelson, é bem castiça.
Os dois versos do refrão são muito mesmerizing:
Vim aqui para te dizer
Que eu só penso em você.
O Zezé e o Luciano vêm a Lisboa e ao Porto em maio. Absolutamente a não perder! Infelizmente não têm nenhum concerto previsto para Seattle ou para o Luxemburgo. Não obstante, não duvido que os dois irmãos, Xavier e Luciano, formarão também uma dupla musical futuramente famosa tomando-os como modelo, que me apresso a batizar: Xavier di Cabrela e Luciano. Xavier na guitarra e Luciano no saxofone, só pode!

Leonardo

Outro belo nome começado por ele é Leonardo. Trata-se de um nome de origem germânica, formado a partir do prefixo “levon”, que quer dizer leão e pelo sufixo “hard”, que quer dizer bravo ou valente. Portanto, um nome de peso e apropriado, tendo o novo gaiato também o apelido Guerreiro: leão valente guerreiro!
O primeiro Leonardo ou, melhor, o mais notável e genial de todos é o da Vinci (1452-1519). Aliás, bota “genial” nisso! Leonardo da Vinci é, sem dúvida, um dos mais geniais membros da espécie Homo Sapiens. O nosso novo gaiato orgulhar-se-á de o ter como padrinho, por assim dizer, e seguir-lhe-á as pisadas, aposto.
Eis como Leonardo da Vinci se via a si próprio:
Esta página da Wikipédia italiana tem a lista das pinturas de da Vinci. Devemos organizar em breve uma excursão familiar a todas a localidades indicadas, para ver ao vivo todas elas! Isto em vez de pensar em ir de férias para o Hawaii ou para Bali. 😡
Há um desenho do da Vinci que me é particularmente querido, e antecipo que também será ao nosso Leonardo, assim como ao seu irmão mais velho. É o “guerreiro”:
Está no Museu Britânico, em Londres.
Leonardo era muito sábio. Eis alguns aforismos que lhe são atribuídos:
  • A experiência nunca falha, apenas as nossas opiniões falham, ao esperar da experiência aquilo que ela não é capaz de oferecer.
  • Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.
  • Lastimável discípulo, que não ultrapassa o mestre.
  • Nunca o homem inventará nada mais simples nem mais belo do que uma manifestação da natureza. Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido.
  • A simplicidade é a máxima sofisticação.
Antes deste Leonardo houve outro Leonardo em Itália, em relação ao qual temos uma dívida cultural imensa: Leonardo Fibonacci (c. 1175–c. 1250):
Leonardo Fibonacci, natural de Pisa, é sobretudo conhecido por ter “inventado” uma sequência de números que leva o seu nome, os números de Fibonacci: 0, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, etc. Cada número da sequência é a soma dos dois anteriores, exceto os dois primeiros, que são 0 e 1. Estes números têm grande aplicação em matemática e em informática, e também surgem na natureza, em várias situações.
No entanto, a sua principal contribuição para o progresso em geral foi ter sido ele a popularizar na Europa o sistema de numeração árabe, por meio do seu livro Liber Abaci, o Livro das Contas. Podemos especular que se não fosse Fibonacci, o sistema de numeração árabe, que, diga-se, os árabes terão ido buscar à Índia, acabaria por ser adoptado na Europa, mais cedo ou mais tarde. Fair enough. No entanto, o progresso científico que nos trouxe de 1200 até ao século XXI teria começado com atraso, e porventura estaríamos hoje a pensar como se pensava em 1900. Inversamente, quem sabe, se algum outro sábio mais vetusto, tivesse tido premonitoriamente a perspicácia de Leonardo Fibonacci, estaremos hoje, do ponto de vista científico e tecnológico, talvez tão avançados como os do Orville, o que seria muito divertido:
Um outro Leonardo das matemáticas é Leonardo Euler (1707 – 1783).
Euler foi um cientista profícuo, com trabalhos em matemática, física, astronomia, lógica e engenharia. A sua influência direta na nossa vida atual é absolutamente impressionante. Se Fibonacci nos ensinou a usar os números, Euler ensinou-nos a usar as funções. De facto, foi ele que introduziu a notação f(x) para exprimir o resultado de aplicar a função f ao argumento x. Qualquer um de nós com um pouco de conhecimento em matemática sabe que não iríamos a lado nenhum sem esta técnica tão simples mas tão expressiva. Aliás, o conceito de função foi uma invenção de Euler.
Euler também criou a teoria dos grafos, um ramo da matemática que tem inúmeras aplicações e no qual se baseia grande parte da tecnologia do século XXI. O problema que acabou por dar origem a esse novo ramos da matemática foi o das sete pontes de Conisberga. Conisberga era uma importante cidade da Prússia oriental, junto ao mar Báltico. Hoje chama-se Kaliningrado e é a principal cidade do enclave russo junto no Báltico, entre a Polónia e a Lituânia.
Pois bem, havia em Conisberga sete pontes, de acordo com o seguinte mapa:
A questão era encontrar forma de dar uma passeio por Conisberga atravessando todas as pontes, cada uma uma só vez e regressando ao ponto de partida.
Euler provou que é impossível. Ao fazê-lo, criou as bases da teoria dos grafos.
A fórmula de Euler é uma igualdade fundamental em matemática, que aqui deixo para que nosso Leonardo se habitue a ela desde bem cedo:
ei𝜑 = cos𝜑 + i sen𝜑
Um caso particular, obtido quando 𝜑 vale 𝜋 é o seguinte :
ei𝜋 + 1 = 0
Esta é a identidade de Euler e é fantasticamente notável porque relaciona numa fórmula simples as cinco constantes principais da matemática: 0, 1, i, 𝜋, e. Alias, a constante e, a base dos logaritmos naturais, chama-se e por ser a inicial de Euler.
Um outro cientista Leonardo, noutra categoria, é o Leonardo Hofstadter, físico experimental e protagonista da Teoria do Big Band, ex-roommate do Sheldon Cooper e atualmente marido da Penny:
Para quem não conhece, o Leonardo é o que tem óculos, ao lado dele, sentada no sofá, está a Penny e ao lado da Penny está o Sheldon. Aliás, da esquerda para a direita temos a Bernardette (olha, um belo nome começado por bê!), o Howard, o Leonardo, a Penny (Penny é o diminutivo de Penélope; se quisermos um nome de rapariga começado por pê, terá de ser Penépole!), o Sheldon (igualmente, se quisermos um nome de rapaz começado por esse, só poderá ser esse (viram o trocadilho?)), a Amy (Amy, já temos uma, a Amelinha) e o Raj (se quisermos um nome para rapaz, curto e começado por erre, sem ser Rui, proponho este).
Nem só da matemática e da física vivem os Leonardos. Na música também há vários e poderosos: seleciono o Bernstein, o Cohen e o Kravitz.
Leonardo Bernstein (1918-1990) foi um maestro e compositor, americano, extraordinariamente popular. Trouxe a música clássica para muitas audiências, designadamente para os jovens. Lembro-me bem do seu programa “Young People Concerts” que deu na televisão portuguesa algures nos anos 60. Aliás, vou colocar na minha wish list para o Natal: http://www.kulturvideo.com/Leonard-Bernstein-Young-Peoples-Concerts-p/d1503.htm
Curiosamente, quando estive nos Estados Unidos, em 1970, numa excursão com outros da minha idade, fomos parar a um auditório perto de Cleveland, onde estava a ensaiar a orquestra (suponho que era a Orquestra de Cleveland) e o maestro era o Bernstein. Não me lembro do que tocaram, mas foi um momento fantástico.
Apesar de ser um músico “sério”, talvez a sua obra mais popular seja a banda sonora do West Side Story.
Quem nunca viu o filme, faz favor de ir ver! Para quem não conhece a música, sugiro a versão da Orquestra Sinfónica de San Francisco.
Mesmo quem acha que não conhece a música, de certeza que já ouviu algumas das canções. Eis a minha seleção: Maria, Tonight, (perfeita, a Natalie Wood, no papel de Maria; olha, um belo nome feminino começado por ene: Natália), Somewhere, Mambo, e, especialmente dedicada aos nossos emigrantes, America. A música é fantástica, mas as letras de Stephen Sondheim não lhe ficam atrás.
Num outro registo, estilo pop music para adultos, temos o Leonard Cohen (1934-2016). As suas músicas partiam corações, e constituíam o contraponto às rocalhadas dos anos 60, 70, etc. Seleciono duas, que têm nome de mulher e que poderiam ser usadas, caso o rebento seja do sexo feminino: Suzanne e So Long, Marianne.
Finalmente, e para terminar com uma coisa mais animada, o Kravitz, conhecido pelo nome artístico Lenny Kravitz. Eis uma amostra das suas canções mais conhecidas: Fly Away, It Ain't Over Til It's Over, Again e Are You Gonna Go My Way.
Estou a ver o nosso Leonardo mais nesta onda do Kravitz do que na onda do Cohen…
O Lenny Kravitz, além de ser um músico de rock de categoria, deve ser um rapaz simpático: no seu rol de namoradas, encontramos a Vanessa Paradis, a Adriana Lima e a Nicole Kidman. Nada mau!
O Lenny Krevitz vem a Portugal no verão. Vamos ao espetáculo?

LeBron

Nenhuma lista de nomes para rapaz ficaria completa sem LeBron.
LeBrons não há muitos. Só conheço o LeBron James, famoso basquetebolista americano, um dos melhores de todos os tempos, atualmente nos Cleveland Cavaliers (olha, Cleveland aparece duas vezes citada nesta crónica!)
Segundo a revista Vogue1, o LeBron tem um dos melhores corpos masculinos, contrabalançado no setor feminino pela Gisela (ah! um belo nome começado por guê!) Bundchen:
LeBron é um belo nome, mas a sua origem é disputada. Segundo alguns, é apenas um nome inventado. Segundo outros, é de origem africana, significado “o rei”, (um bocado farfetched, parece-me). Há quem sustente, que, em vez de origem africana, é de origem francesa, constituindo uma corruptela de Le Brun, “o moreno”, que se adapta bem ao LeBron James, já que a sua pele é escura. Finalmente, pode ter origem espanhola, onde Lebrón é um apelido relativamente comum. Em espanhol, lebrón significa astuto, matreiro. Não duvido que astúcia e matreirice sejam qualidades do miúdo, ou não fosse ele filho de quem é.
O feminino de lebrón em espanhol é lebrona, mas não recomendo na eventualidade de o rebento ser uma menina.
Antecipo algumas dificuldades em registar o moço com este nome nos Estados Unidos, pois o funcionário, certamente zeloso e politicamente correto, vai dizer que LeBron é um nome afro-americano e que não pode ser dado a caucasianos, sob pena de apropriação cultural. Ao que os pais podem retorquir: nada disso, LeBron é nome ibérico e esta família é toda da península ibérica. (Talvez seja preciso explicar ao funcionário onde fica a península ibérica…)
Inversamente seria muito fácil registá-lo em Portugal, pois, surpreendentemente Lebron consta na lista de nomes autorizados. Talvez haja uma pequena dificuldade em fazer passar o bê maiúsculo, mas isso é um pormenor, pois oficialmente, isto é, no cartão de cidadão e no passaporte, os nomes vêm em caixa alta.
E pronto! Podem as avós começar a bordar eles nas fraldas, independentemente de ser menino ou menina:
  1. By Source, Fair use, https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=17017320 ↩︎

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ernesto, Emília

Ernesto, Emília Já era tempo de haver alguém com um nome começado por ‘E’. De facto, a letra ‘E’ representa a segunda vogal e, talvez por ser a segunda, é sistematicamente, e injustamente, preterida.
Não faltam belíssimos nomes começados por esta competente letra. Depois de aturado estudo, selecionámos os melhores: Ernesto, para rapaz, Emília, para menina.
Relativamente à geometria, fazemos notar que letra ‘E´ maiúscula se escreve com quatro traços, o que faz dela a letra mais complicada, juntamente com o ‘M’ e o ‘W’. Todas as outras 23 letras exigem menos esforço. Vejamos, com um traço: ‘C’, ’I’, ‘J’, ’O’, ’S’, ‘U’; com dois traços: ‘D’, ‘G’, ‘L’, ‘P’, ‘Q’, ’T’, ‘V’, ‘X’; com três traços: ‘A’, ’B’, ‘F’, ‘H’, ‘K’, ’N’, ‘R’, ‘Y’, ‘Z’.
Não temos dúvida que, sendo uma letra mais elaborada, servirá para desenvolver no nosso rebento uma maior destreza desde mais cedo. Estamos a falar em letra de imprensa. Em modo cursivo, o ‘E’ tem uma forma verdadeiramente espectacular:
As avós que tomem bem nota, para começar a bordar nas fraldas e outros adereços.
Ernesto é um nome que inspira confiança e afirma seriedade. Trata-se um nome de origem germânica, que significa precisamente “sério”.
Atualmente, é pouco usado nos Estados Unidos (onde o rapaz nascerá, recordemos), mas facilmente reconhecível. Alias, no final do século XIX até era um nome relativamente popular, atingindo um penetração de 0.65% e ocupando o lugar 21.º no ranking, o que não é nada mau. Atualmente, ocupa a modestíssima nongentésima septuagésima quinta posição, incompreensivelmente.
É interessante notar que as vogais de “Ernesto”, ‘E’ e ‘O’ são as mesmas de “Pedro”, nome do seu avô materno. Cabe dizer, como no casamento da Vera e do João, “quem sai aos seus não é de Genebra”. Se acrescentarmos o ‘R’, presente em ambos nomes, temos uma taxa de cobertura muito assinalável.
Foi nos últimos anos do século passado, em 1899, que nasceu um nos Ernestos mais famosos: Ernesto Hemingway.
O nosso Ernesto orgulhar-se-á deste seu homónimo e terá na sua biblioteca, ou no seu Kindle, pelo menos os romances mais populares: O Adeus às Armas, O Sol Nasce Sempre, O Velho e Mar, Por Quem os Sinos Dobram:
Hemingway teve o prémio Nobel da literatura, em 1954, com a seguinte menção “pela sua mestria na arte da narrativa, recentemente demonstrada em O Velho e o Mar, e pela sua influência que tem exercido sobre o estilo contemporâneo.”
Ainda antes de começar a ler os romances de Ernesto Hemingway, certamente o nosso Ernesto terá as paredes do seu quarto decoradas revolucionariamente com o famoso poster um outro Ernesto, igualmente famoso: Ernesto “Che” Guevara:
Este Ernesto ganhou a fama de herói revolucionário, lutador contra a tirania e defensor dos oprimidos. Guardemos dele essa sua faceta, benévola e romântica, porque as restantes, designadamente enquanto dirigente político, são bem menos recomendáveis.
Também podemos lembrar-nos do “Che” pelas suas viagens através da América Latina, nos anos cinquenta (ainda antes da revolução cubana), que deram um interessante filme: Os Diários da Motocicleta.
Este filme ganhou um óscar, em 2004, na categoria Best Achievement in Music Written for Motion Pictures, Original Song, com a canção “Do Outro Lado do Rio”, por Jorge Drexler. Bela canção, que o nosso Ernesto cedo aprenderá a tocar, no seu primeiro uquelele! A canção é em espanhol, mas é fácil traduzi-la para português. Curiosamente, a canção é reminiscente do título de um romance de Ernesto Hemingway, Na Outra Margem, Entre as Árvores (no original, Across the River and into the Trees).
O terceiro Ernesto de hoje é o Ernesto Rutherford, o físico britânico, de origem neozelandesa, considerado o fundador da física nuclear.
Rutherford recebeu o prémio Nobel da Química em 1908 (temos, portanto, dois nóbeis nesta lista de Ernestos, o que é de bom augúrio para o nosso moço). No entanto, o feito científico por que é mais conhecido foi posterior: a descoberta de que nos átomos há um núcleo que concentra num pequeno volume a carga positiva. Isto aconteceu em 1911. Dois anos depois, o físico Niels Bohr propôs um modelo em que os eletrões do átomo de movem em órbitas, à volta do núcleo, modelo esse que ainda hoje é usado.
Rutherford foi um cientista ilustríssimo. Tão ilustre que está sepultado na Abadia de Westminster, em Londres, não longe dos túmulos de Isaac Newton e de Charles Darwin.
No setor ficcional, temos também um Ernesto que merece referência: Ernesto Worthing, o protagonista da famosa peça de Óscar Wilde, A Importância de se Chamar Ernesto. Este título, A Importância de se Chamar Ernesto, é a tradução para português do título original, The Importance of Being Ernest, perdendo-se o trocadilho, infelizmente.
A peça foi transposta para cinema várias vezes. A melhor versão é a de 1952. Lembro-me de a ter visto algumas vezes, nos velhos tempos, na televisão. Pode ser alugada no Amazon Video por 4 dólares.
A mais recente é de 2002, e parece que não é tão boa como a primeira, mas só custa 3 dólares.
Creio ter demonstrado, e creio que não subsistem quaisquer dúvidas, que o nome certo para o garoto é Ernesto.
Não sendo rapaz, e só saberemos se é ou não daqui a quatro meses, o nome selecionado é Emília.
Note-se que Emília é diferente de Amélia. Emília é um nome de origem latina. Em latim, era Aemilia, feminino de Aemilius. O etimologia não é clara, mas a palavra tem a mesma raiz que aemolus, da qual deriva o substantivo “émulo”, palavra pouco frequente e que significa rival, concorrente, competidor, adversário (em sentido desportivo, digo eu). Quer isto dizer que a nossa Emília será uma rapariga com espírito competitivo, que é o que interessa, nestes tempos difíceis.
Portanto, segundo esta teoria, Emília seria o mesmo que “émula”, mas não se admitem piadas confundindo “émula” e “é mula”.
Amélia, por sua vez, é uma variante de Amália, nome de origem germânica, derivado da palavra “amal”, que significa “trabalho”. Não há, portanto, qualquer conflito de interesses entre Emília e Amélia.
Nos Estados Unidos, é mais comum a variante Emily, que ocupa a 19ª posição no ranking. Já o nome clássico, Emília, fica em septuagésimo segundo, lugar que, por coincidência, é ocupado por Xavier na lista de nomes para rapazes!
Uma das singulares qualidades do nome Emília é a sua grande uniformidade, nas diversas línguas europeias:
  • Emilie (alemão)
  • Emiliya (búlgaro)
  • Emilija (croata)
  • Emílie (checo)
  • Emilia, Emilie (dinamarquês)
  • Emília (eslovaco)
  • Emilija (esloveno)
  • Emilia (espanhol)
  • Emilia, Emmi (finlandês)
  • Émilie (francês)
  • Emília (húngaro)
  • Emilía (islandês)
  • Emilia (italiano)
  • Aemilia (latim)
  • Emīlija (letão)
  • Emilija (lituano)
  • Emilija (macedónio)
  • Emilia, Emilie, Milly (norueguês)
  • Emilia (polaco)
  • Emília (português)
  • Emilia (romeno)
  • Emilija (sérvio)
  • Emelie, Emilia, Emilie, Milly (sueco)
Esta universalidade no nome Emília facilitará imenso a vida à garota, quando for para Erasmus.
Das Emílias deste mundo, a mais importante será a Dickinson, a qual, na verdade, pertence à variante Emily.
Emily Dickinson é uma das mais importantes poetas americanas. Viveu entre 1830 e 1889, mas a grande maioria dos seus poemas só foram publicados mais tarde. Estão todos acessíveis na Internet, aqui. Alguns foram traduzidos para português, por Jorge de Sena, ele também um admirador da poesia de Emily Dickinson, e por outros escritores.
Eis um dos poemas mais conhecidos, em inglês:
I’m Nobody! Who are you?
Are you – Nobody – too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise – you know!
How dreary – to be – Somebody!
How public – like a Frog –
To tell one’s name – the livelong June –
To an admiring Bog!
E a respetiva tradução, deste vosso criado, com base na de Augusto de Campos:
Não sou Ninguém! Quem és tu?
Ninguém — Também?
Então somos dois!
Não digas! Espalhariam, sabes bem!
Quanta tristeza — ser — Alguém!
Quanta fama — como a Rã —
Dizer o nosso nome — Junho inteiro —
A um Pântano em espanto.
Outro, em inglês:
By a departing light
We see acuter, quite,
Than by a wick that stays.
There’s something in the flight
That clarifies the sight
And decks the rays.
E agora em português, tradução de Jorge de Sena:
A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.
Emily Dickinson não é a apenas uma poeta americana famosa. De acordo com o Cânone Ocidental, de Harold Bloom, é uma dos 26 escritores mais importantes da cultura ocidental. Desse seleto grupo fazem também parte, entre os restantes 25, Shakespeare, Cervantes, Tolstoy e Fernando Pessoa.
Ainda no setor literário, mas noutra dimensão, temos Emília, a boneca de trapos série de novelas O Sítio do Picapau Amarelo, do escritor brasileiro Monteiro Lobato.
Curiosamente, as crianças protagonistas da história d’O Sítio do Picapau Amarelo são os primos Pedrinho e Lúcia. Ambos vivem no sítio, com a sua avó, Dona Benta. Ora, Pedro é o nome do avô materno da nossa Emília e Lúcia o nome da bisavó, mãe do avô materno. Portanto, está tudo certo, não só no sítio como na família da nossa garota.
Uma outra Emília ficcional, mas noutro setor, é a Emília da peça Otelo, de Shakespeare. Nesta peça, como sabemos, os protagonistas são Otelo e Iago. Otelo é casado com Desdémona e Iago é casado com Emília. Otelo é um general veneziano um bocado bruto e confia em Iago, seu alferes, mas este é invejoso e traiçoeiro. Emília é criada de Desdémona, e também confidente, parece-me.
Uma das partes mais notáveis da peça é o célebre monólogo de Emília, na terceira cena do quarto ato. Diz Emília para Desdémona:
But I do think it is their husbands' faults
If wives do fall: say that they slack their duties,
And pour our treasures into foreign laps,
Or else break out in peevish jealousies,
Throwing restraint upon us; or say they strike us,
Or scant our former having in despite;
Why, we have galls, and though we have some grace,
Yet have we some revenge. Let husbands know
Their wives have sense like them: they see and smell
And have their palates both for sweet and sour,
As husbands have. What is it that they do
When they change us for others? Is it sport?
I think it is: and doth affection breed it?
I think it doth: is't frailty that thus errs?
It is so too: and have not we affections,
Desires for sport, and frailty, as men have?
Then let them use us well: else let them know,
The ills we do, their ills instruct us so.
Encontramos no Youtube vários clips com este monólogo: o meu preferido é este.
E eis uma foto das duas senhoras, de 2015:
Havendo uma forte tradição de nomes Shakespearianos na família, é de toda a justiça continuar a saga, batizando a gaiata com o nome de tão importante personagem.
Não poderíamos terminar esta resenha sem um apontamento musical. E, de facto, o nome Emília, na sua variante estadunidense Emily, está presente numa das melhores canções da dupla Simon and Garfunkel: For Emily, Whenever I May Find Her. Enjoy.
Ao contrário do Paul Simon, já encontrámos a nossa Emília. Chega em abril (se for menina, claro…)
Sem querer melindrar as restantes letras, depois de este conciso mas to-the-point exercício, só me resta agradecer as atenção dos leitores que chegaram até aqui. Com certeza estão todos a roer-se de não terem um filho chamado Ernesto e uma filha chamada Emília. Tivessem pedido ajuda, digo eu… O João e a Vera foram mais sensatos e assim têm o problema do nome do seu novo rebento cabalmente resolvido.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Benjamim, Bárbara

A letra ‘A’ já está tomada, com a Amelinha. Portanto, comecemos pelo B. Comecemos e podemos encerrar o assunto desde já, caso não haja reclamações, pois os dois nomes que selecionámos, Benjamim, se for homem, Bárbara, se for mulher, são praticamente imbatíveis.
Primeiro Benjamim, não por ser nome masculino, que esse critério não se aplicaria, mas por ser mais antigo. Trata-se, sabemos bem, de um nome bíblico e um dos mais populares na classe “velho testamento”, apenas superado por Noé, Etã e Elias, também belos nomes que convém considerar futuramente.
Benjamim é especialmente apropriado para o gaiato que se avizinha visto rimar com o seu primo coetâneo Valentim. Aliás, a fonética de ambos é parecida: uma sílaba terminada em “en”, outra com um “a” átono, e a alegre silaba tónica na última posição, o que faz de ambos os nomes palavras oxítonas. Ambos terminam por um repenicado “im”, que lhes dá um brilho incomparável.
Tenho uma especial predileção por este nome, para um neto meu. Na Bíblia, Benjamim é filho de Jacob e de Raquel, o que o faz dele neto materno de Labão. Portanto, eu estarei para o novo Benjamim assim como Labão estava para o velho. Aqueles de entre nós mais experientes na questão da escolha de nomes para recém-nascidos saberão que Labão é um dos meus nomes preferidos. Infelizmente, nunca consegui convencer ninguém. De certa forma, isto tem um saboroso travo de vingança: não querem Labão, ora tomem lá o neto do Labão!
Reconheço, mesmo assim, que a linha masculina de Benjamim é mais impressionante que a do lado da mãe: Benjamim era filho de Jacob, que era filho de Isaac, que era filho de Abraão. Melhor que isto não existe!
Há que esclarecer as circunstâncias da nascimento do Benjamim bíblico. Jacob, como sabemos, após sete anos de trabalho, teve de casar com Lia. Só após mais sete anos de serviço conseguiu casar com Raquel. Camões não entra em detalhes, mas o resultado é que Jacob ficou com duas mulheres, o que ao tempo era perfeitamente aceitável, note-se. Apesar de, segundo Camões, que certamente se apoiou em fontes bíblicas irrefutáveis, Jacob preferir Raquel, o facto é que a esta fez dois filhos, enquanto fez 11 a Lia. A grande discrepância leva-nos a pensar que Lia engravidava facilmente mas que Raquel nem por isso. 
De facto, o parto de Benjamim foi difícil e Raquel morreu pouco depois. Aliás, o nome que Raquel lhe deu não foi Benjamin, foi Benoni, que significa “filho da minha dor”. Nome deveras trágico! Jacob tentou aliviar a coisa, mudando o nome para Benjamim, que significará “filho do lado direito”. Isto pode parecer um bocado estranho, mas “lado direito” deve entender-se com “o lado onde reside a virtude e força”, por oposição ao lado esquerdo, tradicionalmente associado à maldade e à desonestidade.
Note-se que Jacob teria cerca de 100 anos quando Benjamim nasceu. Portanto, Raquel também já não seria nova…
Eis uma fotografia da altura, de Benjamim com seu pai, que comprova a avançada idade de Jacob:




Benjamim seguiu as pisadas do pai e teve 10 filhos: Belá, Bequer, Asbel, Gera, Naamã, Eí, Ros, Mupim, Hupim e Arde. Infelizmente, estes nomes caíram em desuso, mas proponho que lancemos uma campanha para os reabilitar.
Para mais informações sobre a vidas do Benjamim original, recomendo a leitura do Livro do Génesis. Deveras impressionante!
Além deste Benjamim bíblico, personagem de muito peso, temos outros Benjamins dignos de destaque.
O primeiro é Benjamim Franklin, conhecido por aparecer nas notas de 100 dólares:
Antes de aparecer nas notas (e no genérico da série Narcos), Benjamin Franklin foi um tipo notável, um dos “Founding Fathers” dos Estados Unidos. Além de “pai” dos Estados Unidos foi autor, editor, filósofo, político, mação, chefe dos correios nos tempos coloniais, cientista, inventor, humorista, ativista cívico, estadista e diplomata!
Aliás, conheci o Benjamim Franklin primeiro da sua qualidade de inventor do pára-raios. Aquela história da experiência com o papagaio, no meio da tempestade, à caça dos raios, para provar que eles, os raios, são de natureza elétrica, é absolutamente fascinante.




O único aspeto que me preocupa é o impacto negativo que isto pode ter no seu irmão Xavier (irmão do nosso Benjamim, entenda-se, não do Franklin), pois o Xavier é que é o inventor da família. Não sei se gostará de ter concorrência.


O Benjamim Franklin era um tipo muito sábio: a sua sabedoria está bem patente numa série de aforismos que ele criou e que entraram na cultura popular. Eis algumas das pérolas que nos deixou:
  • A metade da verdade é quase sempre uma grande mentira.
  • Nada é certo neste mundo, exceto a morte e os impostos.
  • Tempo é dinheiro. 
  • O vinho é a prova de que Deus nos ama e gosta de nos ver felizes.
  • By failing to prepare, you are preparing to fail.
  • Honesty is the best policy.
  • Diligence is the mother of good luck.
  • Rebellion against tyrants is obedience to God.
  • When you're finished changing, you’re finished.
Outro Benjamim famoso, ainda que ficcional, é o Benjamim Braddock, do filme The Graduate, personagem interpretado por Dustin Hoffman, em 1967.




This is Benjamin. He’s a little worried about his future.
Apetece dizer: “aren’t we all?
Muitos dos mais novos não terão visto o filme. Sugiro que aproveitem a ocasião, pois é um dos melhores filmes de todos os tempos, segundo o American Film Institute. Em todo o caso, certamente reconhecerão a música.
No filme, o Benjamim Braddock guiava um Alfa Romeo Spider vermelho:





Não sei se estão a ver a connection… 😉
Um quarto Benjamim que quero distinguir hoje é o Benjamim David Goodman, conhecido por Benny Goodman, o rei do swing:





Hoje talvez só os amantes de jazz saibam de que se trata, mas nos anos 30 era o líder de uma dos populares bandas musicais.
Benny Goodman era clarinetista. Portanto, não duvido que o nosso Benjamim, que, nascendo nos Estados Unidos, talvez venha a ganhar o nickname Ben, ou Benny, escolha também este belo instrumento. Os pais podem ajudar. O modelo mais simples popular custa só 89 dólares na Amazon e há em várias cores, por exemplo, verde alface:





Certamente o nosso Benjamim rapidamente aprenderá os standards mais conhecidos de Benny Goodman, por exemplo Stompin’ at the SavoySing, Sing, Sing ou How Deep is the Ocean.
Termino com um apontamento linguístico muito interessante. A língua do Livro do Génesis é o hebraico bíblico. Já percebemos que em hebraico bíblico “ben” (o “ben” de Benjamim) quer dizer “filho”. O hebraico é uma língua semítica, próxima do árabe. Em árabe, “filho” também é “ben”.
Todos sabemos que muitas palavras portuguesas começadas por “al” são de origem árabe, por exemplo, “alface”, “alferes”, “alfaiate”. Há também muitas localidades cujo nome começa por “al”, sobretudo na parte sul do país (não admira): Albufeira, Alcoutim, Alcains, Alfarelos, Almodôvar, etc.
O que muita gente não sabe é que o nome das localidades começados por “ben” também são de origem árabe. Não são tantos como os começados por “al” mas são alguns: Benavente, Benagil, Bensafrim, Benfarras, Benémola, e, … Benfica.
Nestes nomes, o prefixo “ben” pode significar “filho” ou “lugar”. Por exemplo, Benavente será “filho do devoto” ou “lugar do devoto”. E Benfica é “filho da mulher alta” ou “lugar da mulher alta”.
Eu sempre pensei que Benfica era uma aglutinação da expressão “Bem Fica”, mas, de facto, esta explicação é pouco convincente.
Portanto, o nosso Benjamim está condenado a ser do Benfica, por motivos linguísticos, para grande desgosto do pai, lagarto ferrenho.





O que é mais dramático nesta descoberta é que Alvalade, sede do Sporting, também é uma palavra árabe, que significa “o campo”.
Assim se compreende por que o Pinto da Costa trata os clubes de Lisboa por “mouros”. Tem uma certa razão…
Se for mulher, será Bárbara.
Estruturalmente, o nome Bárbara é de uma simplicidade desarmante: palavra exdrúxula (como Olívia), com três sílabas, formada por ocorrência de apenas três letras A, B e R. Esta circunstância certamente contribuirá para que ela aprenda a escrever o seu nome mais rapidamente que os irmãos: o Xavier teve de aprender 6 letras e a Olívia 5. 
Trata-se de um nome de origem grega, feminino de βάρβαρος, bárbaro.
Atenção que Bárbara não significa bárbara; significa estrangeira. Está certo: ela vai ser americana, logo em Portugal será estrangeira; inversamente, sendo americana de ascendência portuguesa, será sempre um bocado estrangeira nos Estados Unidos, pelo menos enquanto o Trump lá estiver.
Convenhamos que Bárbara Guerreiro, que será o nome artístico da gaiata, é um nome imponente. Traz à ideia imediatamente os guerreiro bárbaros que invadiram o Império Romano no século V.





Mas também temos esta bela guerreira bárbara, desenhada pela artista espanhola Arantza Sestayo:





Curiosamente, o imperador romano que teve primeiro problemas com os bárbaros, neste caso com os godos, foi o imperador Flávio Júlio Valente, que governou a parte oriental do império. Valente, Valentim! Está-se mesmo a ver o que isto prenuncia: grandes brigas entre a Bárbara e o seu primo Valentim, reminescentes das guerras góticas de antanho.
A componente desportiva afigura-se promissora. Com aquele nome, não admirará que a gaiata se dedique ao rugby, seguindo as pisadas do seu avô e do seu tio-avô, integrando mais tarde, quem sabe, a equipa feminina dos Barbarians, isto é, do Barbarian FC:




Além do desporto, certamente a gaiata terá queda para a música, seguindo as pisadas de duas outras Bárbaras: a Streisand e a Barbara (pronunciar em Francês, abrindo o “a” final).
A Streisand é uma super-estrela, tem uma carreira fantástica e mora em Malibu, nesta bela casa:




A casa é famosa por causa do chamado efeito Streisand: em 2003, a Streisand tentou retirar da Internet fotos da casa, que faziam parte de uma coleção de 12000 fotos da costa da Califórnia. Não eram fotos de paparazzi. Eram fotos oficiais que documentavam a erosão das falésias. Claro que, no meio das 12000 fotos, quase ninguém tinha notado a casa. A Streisand, muito ciosa da sua privacidade, processou o pobre do fotógrafo. O caso tornou-se conhecido e em resultados disso, milhões de pessoas terão feito download da fotografia. Hoje, mais um 🤪.
A Streisand perdeu o processo, mas acabou por ficar mais famosa ainda, por o seu nome ser atribuído a este novo fenómeno social: ao tentar esconder ou censurar algo, chamamos a atenção do público precisamente para aquilo que queremos esconder ou censurar. 
Nós desculpamos-lhe esse deslize, cuja culpa podemos atribuir aos advogados. De facto, ela canta muito bem. Eis os seus três maiores êxitos: PeopleThe Way We WereEvergreen.
As cantigas são boas, talvez um pouco adocicadas demais, e servirão para ajudar a nossa Bárbara a adormecer…
A Barbara (pronunciar em francês) era mais dura, mais agreste:




Comparemos estas três canções da Barbara (pronunciar em francês) com as da Streisand: A Águia NegraMa plus belle histoire d'amourLa solitude.
O Xavier explicará à mana a letra destas canções.
E agora algo mais alegre, ainda no capítulo musical, que a nossa Bárbara pode aprender a tocar no clarinete. (Sim, ela também tem direito a um clarinete):





Barbara Ann, dos Beach Boys, pois claro!
A música é muito elaborada e a letra de alto gabarito poético:
(…)
Went to a dance
Looking for romance
Saw Barbara Ann
So I thought I'd take a chance
(…)
Tried Betty Sue
Tried Betty Lou
Tried Mary Sue
But I knew it wouldn't do
Ba ba ba ba Barbara Ann
Há muita canções com nome de mulher: a melhor não é esta, é a Layla! (Layla seria uma bela escolha para a gaiata, se Bárbara já estive tomado). Mas a Bárbara Ana é outras das melhores. Para mim, a versão dos The Who é mais espetacular.
Mas percebo se transitoriamente a Bárbara preferir a Banana Song dos Minions.
Há uma terceira Bárbara, a quem recorremos amedrontados sempre que troveja, e que merece consideração especial: Santa Bárbara.





A razão da conexão entre Santa Bárbara e os trovões é muito violenta, é mesmo deveras bárbara, e abstenho-me de a descrever. Fora isso, é uma santa simpática e prestativa.
Aliás, Santa Bárbara é a padroeira dos soldados de artilharia, dos guerreiros, portanto, o que comprova a bondade da escolha.
No Algarve, temos Santa Bárbara de Nexe. (Nexe também é uma palavra de origem árabe, que quer dizer juventude, muito apropriado, portanto.) Quando a moça se casar, não terá de passar pelo sufoco da tia Catarina, à procura de igreja: terá a da sua freguesia, e prontos:





Na Califórnia, também há uma Santa Bárbara (ou não fosse a Califórnia um cópia adulterada do nosso Algarve…). Curiosamente, foi lá que o Benjamim Braddock foi buscar a Elaine Robinson, acelerando no seu Alfa Romeo Spider, quando ela se estava a casar com o Carl Smith, na United Methodist Church:




Se, por acaso, a moça se casar nos Estados Unidos, e não estiver muito certa do noivo, recomendo esta igreja. 

Dificilmente, ou mesmo impossivelmente, arranjaremos nomes melhores do que estes: Benjamim, se for homem, Bárbara se for mulher.