A letra ‘A’ já está tomada, com a Amelinha. Portanto, comecemos pelo B. Comecemos e podemos encerrar o assunto desde já, caso não haja reclamações, pois os dois nomes que selecionámos, Benjamim, se for homem, Bárbara, se for mulher, são praticamente imbatíveis.
Primeiro Benjamim, não por ser nome masculino, que esse critério não se aplicaria, mas por ser mais antigo. Trata-se, sabemos bem, de um nome bíblico e um dos mais populares na classe “velho testamento”, apenas superado por Noé, Etã e Elias, também belos nomes que convém considerar futuramente.
Benjamim é especialmente apropriado para o gaiato que se avizinha visto rimar com o seu primo coetâneo Valentim. Aliás, a fonética de ambos é parecida: uma sílaba terminada em “en”, outra com um “a” átono, e a alegre silaba tónica na última posição, o que faz de ambos os nomes palavras oxítonas. Ambos terminam por um repenicado “im”, que lhes dá um brilho incomparável.
Tenho uma especial predileção por este nome, para um neto meu. Na Bíblia, Benjamim é filho de Jacob e de Raquel, o que o faz dele neto materno de Labão. Portanto, eu estarei para o novo Benjamim assim como Labão estava para o velho. Aqueles de entre nós mais experientes na questão da escolha de nomes para recém-nascidos saberão que Labão é um dos meus nomes preferidos. Infelizmente, nunca consegui convencer ninguém. De certa forma, isto tem um saboroso travo de vingança: não querem Labão, ora tomem lá o neto do Labão!
Reconheço, mesmo assim, que a linha masculina de Benjamim é mais impressionante que a do lado da mãe: Benjamim era filho de Jacob, que era filho de Isaac, que era filho de Abraão. Melhor que isto não existe!
Há que esclarecer as circunstâncias da nascimento do Benjamim bíblico. Jacob, como sabemos, após sete anos de trabalho, teve de casar com Lia. Só após mais sete anos de serviço conseguiu casar com Raquel. Camões não entra em detalhes, mas o resultado é que Jacob ficou com duas mulheres, o que ao tempo era perfeitamente aceitável, note-se. Apesar de, segundo Camões, que certamente se apoiou em fontes bíblicas irrefutáveis, Jacob preferir Raquel, o facto é que a esta fez dois filhos, enquanto fez 11 a Lia. A grande discrepância leva-nos a pensar que Lia engravidava facilmente mas que Raquel nem por isso.
De facto, o parto de Benjamim foi difícil e Raquel morreu pouco depois. Aliás, o nome que Raquel lhe deu não foi Benjamin, foi Benoni, que significa “filho da minha dor”. Nome deveras trágico! Jacob tentou aliviar a coisa, mudando o nome para Benjamim, que significará “filho do lado direito”. Isto pode parecer um bocado estranho, mas “lado direito” deve entender-se com “o lado onde reside a virtude e força”, por oposição ao lado esquerdo, tradicionalmente associado à maldade e à desonestidade.
Note-se que Jacob teria cerca de 100 anos quando Benjamim nasceu. Portanto, Raquel também já não seria nova…
Eis uma fotografia da altura, de Benjamim com seu pai, que comprova a avançada idade de Jacob:
Benjamim seguiu as pisadas do pai e teve 10 filhos: Belá, Bequer, Asbel, Gera, Naamã, Eí, Ros, Mupim, Hupim e Arde. Infelizmente, estes nomes caíram em desuso, mas proponho que lancemos uma campanha para os reabilitar.
Para mais informações sobre a vidas do Benjamim original, recomendo a leitura do Livro do Génesis. Deveras impressionante!
Além deste Benjamim bíblico, personagem de muito peso, temos outros Benjamins dignos de destaque.
O primeiro é Benjamim Franklin, conhecido por aparecer nas notas de 100 dólares:
Antes de aparecer nas notas (e no genérico da série Narcos), Benjamin Franklin foi um tipo notável, um dos “Founding Fathers” dos Estados Unidos. Além de “pai” dos Estados Unidos foi autor, editor, filósofo, político, mação, chefe dos correios nos tempos coloniais, cientista, inventor, humorista, ativista cívico, estadista e diplomata!
Aliás, conheci o Benjamim Franklin primeiro da sua qualidade de inventor do pára-raios. Aquela história da experiência com o papagaio, no meio da tempestade, à caça dos raios, para provar que eles, os raios, são de natureza elétrica, é absolutamente fascinante.
O Benjamim Franklin era um tipo muito sábio: a sua sabedoria está bem patente numa série de aforismos que ele criou e que entraram na cultura popular. Eis algumas das pérolas que nos deixou:
- A metade da verdade é quase sempre uma grande mentira.
- Nada é certo neste mundo, exceto a morte e os impostos.
- Tempo é dinheiro.
- O vinho é a prova de que Deus nos ama e gosta de nos ver felizes.
- By failing to prepare, you are preparing to fail.
- Honesty is the best policy.
- Diligence is the mother of good luck.
- Rebellion against tyrants is obedience to God.
- When you're finished changing, you’re finished.
Outro Benjamim famoso, ainda que ficcional, é o Benjamim Braddock, do filme The Graduate, personagem interpretado por Dustin Hoffman, em 1967.
This is Benjamin. He’s a little worried about his future.
Apetece dizer: “aren’t we all?”
Muitos dos mais novos não terão visto o filme. Sugiro que aproveitem a ocasião, pois é um dos melhores filmes de todos os tempos, segundo o American Film Institute. Em todo o caso, certamente reconhecerão a música.
No filme, o Benjamim Braddock guiava um Alfa Romeo Spider vermelho:
Não sei se estão a ver a connection… 😉
Um quarto Benjamim que quero distinguir hoje é o Benjamim David Goodman, conhecido por Benny Goodman, o rei do swing:
Hoje talvez só os amantes de jazz saibam de que se trata, mas nos anos 30 era o líder de uma dos populares bandas musicais.
Benny Goodman era clarinetista. Portanto, não duvido que o nosso Benjamim, que, nascendo nos Estados Unidos, talvez venha a ganhar o nickname Ben, ou Benny, escolha também este belo instrumento. Os pais podem ajudar. O modelo mais simples popular custa só 89 dólares na Amazon e há em várias cores, por exemplo, verde alface:
Certamente o nosso Benjamim rapidamente aprenderá os standards mais conhecidos de Benny Goodman, por exemplo Stompin’ at the Savoy, Sing, Sing, Sing ou How Deep is the Ocean.
Termino com um apontamento linguístico muito interessante. A língua do Livro do Génesis é o hebraico bíblico. Já percebemos que em hebraico bíblico “ben” (o “ben” de Benjamim) quer dizer “filho”. O hebraico é uma língua semítica, próxima do árabe. Em árabe, “filho” também é “ben”.
Todos sabemos que muitas palavras portuguesas começadas por “al” são de origem árabe, por exemplo, “alface”, “alferes”, “alfaiate”. Há também muitas localidades cujo nome começa por “al”, sobretudo na parte sul do país (não admira): Albufeira, Alcoutim, Alcains, Alfarelos, Almodôvar, etc.
O que muita gente não sabe é que o nome das localidades começados por “ben” também são de origem árabe. Não são tantos como os começados por “al” mas são alguns: Benavente, Benagil, Bensafrim, Benfarras, Benémola, e, … Benfica.
Nestes nomes, o prefixo “ben” pode significar “filho” ou “lugar”. Por exemplo, Benavente será “filho do devoto” ou “lugar do devoto”. E Benfica é “filho da mulher alta” ou “lugar da mulher alta”.
Eu sempre pensei que Benfica era uma aglutinação da expressão “Bem Fica”, mas, de facto, esta explicação é pouco convincente.
Portanto, o nosso Benjamim está condenado a ser do Benfica, por motivos linguísticos, para grande desgosto do pai, lagarto ferrenho.
O que é mais dramático nesta descoberta é que Alvalade, sede do Sporting, também é uma palavra árabe, que significa “o campo”.
Assim se compreende por que o Pinto da Costa trata os clubes de Lisboa por “mouros”. Tem uma certa razão…
Se for mulher, será Bárbara.
Estruturalmente, o nome Bárbara é de uma simplicidade desarmante: palavra exdrúxula (como Olívia), com três sílabas, formada por ocorrência de apenas três letras A, B e R. Esta circunstância certamente contribuirá para que ela aprenda a escrever o seu nome mais rapidamente que os irmãos: o Xavier teve de aprender 6 letras e a Olívia 5.
Trata-se de um nome de origem grega, feminino de βάρβαρος, bárbaro.
Atenção que Bárbara não significa bárbara; significa estrangeira. Está certo: ela vai ser americana, logo em Portugal será estrangeira; inversamente, sendo americana de ascendência portuguesa, será sempre um bocado estrangeira nos Estados Unidos, pelo menos enquanto o Trump lá estiver.
Convenhamos que Bárbara Guerreiro, que será o nome artístico da gaiata, é um nome imponente. Traz à ideia imediatamente os guerreiro bárbaros que invadiram o Império Romano no século V.
Mas também temos esta bela guerreira bárbara, desenhada pela artista espanhola Arantza Sestayo:
Curiosamente, o imperador romano que teve primeiro problemas com os bárbaros, neste caso com os godos, foi o imperador Flávio Júlio Valente, que governou a parte oriental do império. Valente, Valentim! Está-se mesmo a ver o que isto prenuncia: grandes brigas entre a Bárbara e o seu primo Valentim, reminescentes das guerras góticas de antanho.
A componente desportiva afigura-se promissora. Com aquele nome, não admirará que a gaiata se dedique ao rugby, seguindo as pisadas do seu avô e do seu tio-avô, integrando mais tarde, quem sabe, a equipa feminina dos Barbarians, isto é, do Barbarian FC:
Além do desporto, certamente a gaiata terá queda para a música, seguindo as pisadas de duas outras Bárbaras: a Streisand e a Barbara (pronunciar em Francês, abrindo o “a” final).
A Streisand é uma super-estrela, tem uma carreira fantástica e mora em Malibu, nesta bela casa:
A casa é famosa por causa do chamado efeito Streisand: em 2003, a Streisand tentou retirar da Internet fotos da casa, que faziam parte de uma coleção de 12000 fotos da costa da Califórnia. Não eram fotos de paparazzi. Eram fotos oficiais que documentavam a erosão das falésias. Claro que, no meio das 12000 fotos, quase ninguém tinha notado a casa. A Streisand, muito ciosa da sua privacidade, processou o pobre do fotógrafo. O caso tornou-se conhecido e em resultados disso, milhões de pessoas terão feito download da fotografia. Hoje, mais um 🤪.
A Streisand perdeu o processo, mas acabou por ficar mais famosa ainda, por o seu nome ser atribuído a este novo fenómeno social: ao tentar esconder ou censurar algo, chamamos a atenção do público precisamente para aquilo que queremos esconder ou censurar.
Nós desculpamos-lhe esse deslize, cuja culpa podemos atribuir aos advogados. De facto, ela canta muito bem. Eis os seus três maiores êxitos: People, The Way We Were, Evergreen.
As cantigas são boas, talvez um pouco adocicadas demais, e servirão para ajudar a nossa Bárbara a adormecer…
A Barbara (pronunciar em francês) era mais dura, mais agreste:
Comparemos estas três canções da Barbara (pronunciar em francês) com as da Streisand: A Águia Negra, Ma plus belle histoire d'amour, La solitude.
O Xavier explicará à mana a letra destas canções.
E agora algo mais alegre, ainda no capítulo musical, que a nossa Bárbara pode aprender a tocar no clarinete. (Sim, ela também tem direito a um clarinete):
Barbara Ann, dos Beach Boys, pois claro!
A música é muito elaborada e a letra de alto gabarito poético:
(…)
Went to a dance
Looking for romance
Saw Barbara Ann
So I thought I'd take a chance
(…)
Tried Betty Sue
Tried Betty Lou
Tried Mary Sue
But I knew it wouldn't do
Ba ba ba ba Barbara Ann
Há muita canções com nome de mulher: a melhor não é esta, é a Layla! (Layla seria uma bela escolha para a gaiata, se Bárbara já estive tomado). Mas a Bárbara Ana é outras das melhores. Para mim, a versão dos The Who é mais espetacular.
Mas percebo se transitoriamente a Bárbara preferir a Banana Song dos Minions.
Há uma terceira Bárbara, a quem recorremos amedrontados sempre que troveja, e que merece consideração especial: Santa Bárbara.
A razão da conexão entre Santa Bárbara e os trovões é muito violenta, é mesmo deveras bárbara, e abstenho-me de a descrever. Fora isso, é uma santa simpática e prestativa.
Aliás, Santa Bárbara é a padroeira dos soldados de artilharia, dos guerreiros, portanto, o que comprova a bondade da escolha.
No Algarve, temos Santa Bárbara de Nexe. (Nexe também é uma palavra de origem árabe, que quer dizer juventude, muito apropriado, portanto.) Quando a moça se casar, não terá de passar pelo sufoco da tia Catarina, à procura de igreja: terá a da sua freguesia, e prontos:
Na Califórnia, também há uma Santa Bárbara (ou não fosse a Califórnia um cópia adulterada do nosso Algarve…). Curiosamente, foi lá que o Benjamim Braddock foi buscar a Elaine Robinson, acelerando no seu Alfa Romeo Spider, quando ela se estava a casar com o Carl Smith, na United Methodist Church:
Se, por acaso, a moça se casar nos Estados Unidos, e não estiver muito certa do noivo, recomendo esta igreja.
Dificilmente, ou mesmo impossivelmente, arranjaremos nomes melhores do que estes: Benjamim, se for homem, Bárbara se for mulher.