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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ernesto, Emília

Ernesto, Emília Já era tempo de haver alguém com um nome começado por ‘E’. De facto, a letra ‘E’ representa a segunda vogal e, talvez por ser a segunda, é sistematicamente, e injustamente, preterida.
Não faltam belíssimos nomes começados por esta competente letra. Depois de aturado estudo, selecionámos os melhores: Ernesto, para rapaz, Emília, para menina.
Relativamente à geometria, fazemos notar que letra ‘E´ maiúscula se escreve com quatro traços, o que faz dela a letra mais complicada, juntamente com o ‘M’ e o ‘W’. Todas as outras 23 letras exigem menos esforço. Vejamos, com um traço: ‘C’, ’I’, ‘J’, ’O’, ’S’, ‘U’; com dois traços: ‘D’, ‘G’, ‘L’, ‘P’, ‘Q’, ’T’, ‘V’, ‘X’; com três traços: ‘A’, ’B’, ‘F’, ‘H’, ‘K’, ’N’, ‘R’, ‘Y’, ‘Z’.
Não temos dúvida que, sendo uma letra mais elaborada, servirá para desenvolver no nosso rebento uma maior destreza desde mais cedo. Estamos a falar em letra de imprensa. Em modo cursivo, o ‘E’ tem uma forma verdadeiramente espectacular:
As avós que tomem bem nota, para começar a bordar nas fraldas e outros adereços.
Ernesto é um nome que inspira confiança e afirma seriedade. Trata-se um nome de origem germânica, que significa precisamente “sério”.
Atualmente, é pouco usado nos Estados Unidos (onde o rapaz nascerá, recordemos), mas facilmente reconhecível. Alias, no final do século XIX até era um nome relativamente popular, atingindo um penetração de 0.65% e ocupando o lugar 21.º no ranking, o que não é nada mau. Atualmente, ocupa a modestíssima nongentésima septuagésima quinta posição, incompreensivelmente.
É interessante notar que as vogais de “Ernesto”, ‘E’ e ‘O’ são as mesmas de “Pedro”, nome do seu avô materno. Cabe dizer, como no casamento da Vera e do João, “quem sai aos seus não é de Genebra”. Se acrescentarmos o ‘R’, presente em ambos nomes, temos uma taxa de cobertura muito assinalável.
Foi nos últimos anos do século passado, em 1899, que nasceu um nos Ernestos mais famosos: Ernesto Hemingway.
O nosso Ernesto orgulhar-se-á deste seu homónimo e terá na sua biblioteca, ou no seu Kindle, pelo menos os romances mais populares: O Adeus às Armas, O Sol Nasce Sempre, O Velho e Mar, Por Quem os Sinos Dobram:
Hemingway teve o prémio Nobel da literatura, em 1954, com a seguinte menção “pela sua mestria na arte da narrativa, recentemente demonstrada em O Velho e o Mar, e pela sua influência que tem exercido sobre o estilo contemporâneo.”
Ainda antes de começar a ler os romances de Ernesto Hemingway, certamente o nosso Ernesto terá as paredes do seu quarto decoradas revolucionariamente com o famoso poster um outro Ernesto, igualmente famoso: Ernesto “Che” Guevara:
Este Ernesto ganhou a fama de herói revolucionário, lutador contra a tirania e defensor dos oprimidos. Guardemos dele essa sua faceta, benévola e romântica, porque as restantes, designadamente enquanto dirigente político, são bem menos recomendáveis.
Também podemos lembrar-nos do “Che” pelas suas viagens através da América Latina, nos anos cinquenta (ainda antes da revolução cubana), que deram um interessante filme: Os Diários da Motocicleta.
Este filme ganhou um óscar, em 2004, na categoria Best Achievement in Music Written for Motion Pictures, Original Song, com a canção “Do Outro Lado do Rio”, por Jorge Drexler. Bela canção, que o nosso Ernesto cedo aprenderá a tocar, no seu primeiro uquelele! A canção é em espanhol, mas é fácil traduzi-la para português. Curiosamente, a canção é reminiscente do título de um romance de Ernesto Hemingway, Na Outra Margem, Entre as Árvores (no original, Across the River and into the Trees).
O terceiro Ernesto de hoje é o Ernesto Rutherford, o físico britânico, de origem neozelandesa, considerado o fundador da física nuclear.
Rutherford recebeu o prémio Nobel da Química em 1908 (temos, portanto, dois nóbeis nesta lista de Ernestos, o que é de bom augúrio para o nosso moço). No entanto, o feito científico por que é mais conhecido foi posterior: a descoberta de que nos átomos há um núcleo que concentra num pequeno volume a carga positiva. Isto aconteceu em 1911. Dois anos depois, o físico Niels Bohr propôs um modelo em que os eletrões do átomo de movem em órbitas, à volta do núcleo, modelo esse que ainda hoje é usado.
Rutherford foi um cientista ilustríssimo. Tão ilustre que está sepultado na Abadia de Westminster, em Londres, não longe dos túmulos de Isaac Newton e de Charles Darwin.
No setor ficcional, temos também um Ernesto que merece referência: Ernesto Worthing, o protagonista da famosa peça de Óscar Wilde, A Importância de se Chamar Ernesto. Este título, A Importância de se Chamar Ernesto, é a tradução para português do título original, The Importance of Being Ernest, perdendo-se o trocadilho, infelizmente.
A peça foi transposta para cinema várias vezes. A melhor versão é a de 1952. Lembro-me de a ter visto algumas vezes, nos velhos tempos, na televisão. Pode ser alugada no Amazon Video por 4 dólares.
A mais recente é de 2002, e parece que não é tão boa como a primeira, mas só custa 3 dólares.
Creio ter demonstrado, e creio que não subsistem quaisquer dúvidas, que o nome certo para o garoto é Ernesto.
Não sendo rapaz, e só saberemos se é ou não daqui a quatro meses, o nome selecionado é Emília.
Note-se que Emília é diferente de Amélia. Emília é um nome de origem latina. Em latim, era Aemilia, feminino de Aemilius. O etimologia não é clara, mas a palavra tem a mesma raiz que aemolus, da qual deriva o substantivo “émulo”, palavra pouco frequente e que significa rival, concorrente, competidor, adversário (em sentido desportivo, digo eu). Quer isto dizer que a nossa Emília será uma rapariga com espírito competitivo, que é o que interessa, nestes tempos difíceis.
Portanto, segundo esta teoria, Emília seria o mesmo que “émula”, mas não se admitem piadas confundindo “émula” e “é mula”.
Amélia, por sua vez, é uma variante de Amália, nome de origem germânica, derivado da palavra “amal”, que significa “trabalho”. Não há, portanto, qualquer conflito de interesses entre Emília e Amélia.
Nos Estados Unidos, é mais comum a variante Emily, que ocupa a 19ª posição no ranking. Já o nome clássico, Emília, fica em septuagésimo segundo, lugar que, por coincidência, é ocupado por Xavier na lista de nomes para rapazes!
Uma das singulares qualidades do nome Emília é a sua grande uniformidade, nas diversas línguas europeias:
  • Emilie (alemão)
  • Emiliya (búlgaro)
  • Emilija (croata)
  • Emílie (checo)
  • Emilia, Emilie (dinamarquês)
  • Emília (eslovaco)
  • Emilija (esloveno)
  • Emilia (espanhol)
  • Emilia, Emmi (finlandês)
  • Émilie (francês)
  • Emília (húngaro)
  • Emilía (islandês)
  • Emilia (italiano)
  • Aemilia (latim)
  • Emīlija (letão)
  • Emilija (lituano)
  • Emilija (macedónio)
  • Emilia, Emilie, Milly (norueguês)
  • Emilia (polaco)
  • Emília (português)
  • Emilia (romeno)
  • Emilija (sérvio)
  • Emelie, Emilia, Emilie, Milly (sueco)
Esta universalidade no nome Emília facilitará imenso a vida à garota, quando for para Erasmus.
Das Emílias deste mundo, a mais importante será a Dickinson, a qual, na verdade, pertence à variante Emily.
Emily Dickinson é uma das mais importantes poetas americanas. Viveu entre 1830 e 1889, mas a grande maioria dos seus poemas só foram publicados mais tarde. Estão todos acessíveis na Internet, aqui. Alguns foram traduzidos para português, por Jorge de Sena, ele também um admirador da poesia de Emily Dickinson, e por outros escritores.
Eis um dos poemas mais conhecidos, em inglês:
I’m Nobody! Who are you?
Are you – Nobody – too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise – you know!
How dreary – to be – Somebody!
How public – like a Frog –
To tell one’s name – the livelong June –
To an admiring Bog!
E a respetiva tradução, deste vosso criado, com base na de Augusto de Campos:
Não sou Ninguém! Quem és tu?
Ninguém — Também?
Então somos dois!
Não digas! Espalhariam, sabes bem!
Quanta tristeza — ser — Alguém!
Quanta fama — como a Rã —
Dizer o nosso nome — Junho inteiro —
A um Pântano em espanto.
Outro, em inglês:
By a departing light
We see acuter, quite,
Than by a wick that stays.
There’s something in the flight
That clarifies the sight
And decks the rays.
E agora em português, tradução de Jorge de Sena:
A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.
Emily Dickinson não é a apenas uma poeta americana famosa. De acordo com o Cânone Ocidental, de Harold Bloom, é uma dos 26 escritores mais importantes da cultura ocidental. Desse seleto grupo fazem também parte, entre os restantes 25, Shakespeare, Cervantes, Tolstoy e Fernando Pessoa.
Ainda no setor literário, mas noutra dimensão, temos Emília, a boneca de trapos série de novelas O Sítio do Picapau Amarelo, do escritor brasileiro Monteiro Lobato.
Curiosamente, as crianças protagonistas da história d’O Sítio do Picapau Amarelo são os primos Pedrinho e Lúcia. Ambos vivem no sítio, com a sua avó, Dona Benta. Ora, Pedro é o nome do avô materno da nossa Emília e Lúcia o nome da bisavó, mãe do avô materno. Portanto, está tudo certo, não só no sítio como na família da nossa garota.
Uma outra Emília ficcional, mas noutro setor, é a Emília da peça Otelo, de Shakespeare. Nesta peça, como sabemos, os protagonistas são Otelo e Iago. Otelo é casado com Desdémona e Iago é casado com Emília. Otelo é um general veneziano um bocado bruto e confia em Iago, seu alferes, mas este é invejoso e traiçoeiro. Emília é criada de Desdémona, e também confidente, parece-me.
Uma das partes mais notáveis da peça é o célebre monólogo de Emília, na terceira cena do quarto ato. Diz Emília para Desdémona:
But I do think it is their husbands' faults
If wives do fall: say that they slack their duties,
And pour our treasures into foreign laps,
Or else break out in peevish jealousies,
Throwing restraint upon us; or say they strike us,
Or scant our former having in despite;
Why, we have galls, and though we have some grace,
Yet have we some revenge. Let husbands know
Their wives have sense like them: they see and smell
And have their palates both for sweet and sour,
As husbands have. What is it that they do
When they change us for others? Is it sport?
I think it is: and doth affection breed it?
I think it doth: is't frailty that thus errs?
It is so too: and have not we affections,
Desires for sport, and frailty, as men have?
Then let them use us well: else let them know,
The ills we do, their ills instruct us so.
Encontramos no Youtube vários clips com este monólogo: o meu preferido é este.
E eis uma foto das duas senhoras, de 2015:
Havendo uma forte tradição de nomes Shakespearianos na família, é de toda a justiça continuar a saga, batizando a gaiata com o nome de tão importante personagem.
Não poderíamos terminar esta resenha sem um apontamento musical. E, de facto, o nome Emília, na sua variante estadunidense Emily, está presente numa das melhores canções da dupla Simon and Garfunkel: For Emily, Whenever I May Find Her. Enjoy.
Ao contrário do Paul Simon, já encontrámos a nossa Emília. Chega em abril (se for menina, claro…)
Sem querer melindrar as restantes letras, depois de este conciso mas to-the-point exercício, só me resta agradecer as atenção dos leitores que chegaram até aqui. Com certeza estão todos a roer-se de não terem um filho chamado Ernesto e uma filha chamada Emília. Tivessem pedido ajuda, digo eu… O João e a Vera foram mais sensatos e assim têm o problema do nome do seu novo rebento cabalmente resolvido.