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terça-feira, 13 de março de 2018

Luísa, Lúcia e Leila; Luciano, Leonardo e LeBron

Encomendaram-me um estudo prévio de nomes para uma criança de sexo ainda não conhecido que começasse por ‘L’. Que começasse o nome, não a criança ou o sexo não conhecido, entenda-se.
A tarefa foi interessante e profícua. Há muito por onde escolher no setor da letra L, e hesito entre três fantásticos nomes para menina e outros tantos igualmente merecedores para rapaz: Luísa, Lúcia e Leila; e Luciano, Leonardo e LeBron.

Luísa

De entre todos os nomes possíveis, este é um dos que tem uma sonoridade mais doce, mais suave e mais musical. Começa por um ‘l’ que vem do céu da boca, depois temos um ‘u’ que coloca os lábios na posição de beijo, para logo se abrirem num sorriso, com o ‘i’. Já na parte final do nome, surge o sibilante som ‘z’, ainda que ortograficamente representado por um ’s’, e tudo termina num bonito ‘a’, breve e átono.
Luísa é a variante feminina de Luís, tal como Luís é a variante masculina de Luísa. Trata-se de um nome de origem germânica formado por duas partes: simplificando “lu”, em germânico “hlod”, significa “fama”; “isa” (ou “is” para homem), em germânico “win”, significa combate. Portanto “Luísa” significará “combatente famosa” ou “valente guerreira”, o que é extremamente apropriado, vista a família que encomendou este estudo.
À escala mundial, a Luísa mais importante e mais notável é a tia Luísa:
Ninguém faz ensopado de borrego como ela. Nem gelado de morango. Espero e desejo que a nossa Luisinha aprenda com a tia Luísa todos as exigentes técnicas culinária em que ela é perita. Aliás, eu próprio domino razoavelmente umas dessas técnicas: a técnica do alho cru no caldo verde. Em relação ao ensopado de borrego, em alternativa à original, numa emergência, sugiro esta receita.
A seguir à Tia Luísa, a Luísa mais famosa é a Luísa do António Carlos Jobim. A versão original, de 1981, era cantada pelo Edu Lobo. Este vídeo em que surgem ambos, Tom Jobim e Edu Lobo, é imperdível. Para mim, esta é a melhor canção em língua portuguesa com nome de mulher! A nossa Luisinha orgulhar-se-á disso, certamente.
Dois apontamentos úteis acerca desta Luísa musical. Primeiro, a filha mais nova de António Carlos Jobim chama-se Maria Luísa e é uma bela moça, mas não é a moça de que a canção fala. A canção era de 1981 e a Maria Luísa nasceu em 1987:
Segundo: a Maria Luísa Jobim também faz uma perninha cantando. Durante algum tempo, ouvíamo-la diariamente, sem saber que era ela, na início de cada episódio da novela Páginas da Vida. Tratava-se de uma outra canção do seu pai, Wave, que ela interpretava a meias com Daniel Jobim, filho do filho mais velho de Tom Jobim. Vale a pena ouvir de novo, muitas vezes. Atualmente, forma o duo Opala, com outro músico brasileiro. Podemos escutar as suas canções no Spotify, no iTunes, mas não no Amazon Music 😥.
Finalmente, uma informação muito importante acerca do próprio António Carlos Jobim. O apelido Jobim é estranho, e não parece ser um nome português. Mas é! Trata-se de uma alteração do nome da localidade Jovim, perto de Gondomar. O trisavó do António Carlos era de lá e, já adulto, decidiu acrescentar Jovim ao seu nome. Só que, tal como Rui Veloso, trocou os bês pelos vês, neste caso o vê pelo bê, e deu Jobim. Pergunto-me se em Jovim haverá uma estátua do António Carlos ou, pelo menos, uma rua com o seu nome.
Luísa tem música, mas também tem perfume: a fragrância Loulou, de Cacharel, que deve o seu nome à atriz americana Louise Brooks.
O anúncio, de 1987, é uma pérola, e ainda hoje, quando alguém chama por nós, respondemos, tal com a Loulou do anúncio, oui, c’est moi! Para registo, a atriz é a francesa Véronique Delbourg e a banda sonora é um extrato da peça Pavane, de Gabriel Fauré, a qual o avô da nossa Luisinha anda a treinar na Banda de Faro.

Lúcia

A segunda seleção é Lúcia. Apesar da semelhança sonora com Luísa, trata-se de um nome completamente diferente. Já vimos que Luísa é de origem germânica. Ora, Lúcia é de origem latina. Corresponde à forma feminina de Lucius, nome próprio que deriva da palavra latina lux, luz. Portanto, Lucius, e também Lúcia, parecem querer dizer “que dão luz” ou “que são feitos de luz”, ambos significados muito bonitos.
Este nome é muito apropriado no caso em análise, porque coincide com o nome da bisavó materno-paterna da gaiata. Aliás, essa bisavó chamava-se Maria Lúcia da Luz (…), o que bate certo, pois era uma pessoa muito luminosa. Conseguimos uma foto da avó Lúcia, quando ainda não era avó, tirada na praia da Rocha no verão de 1953 (tinha ela 28 anos), empunhando um rechonchudo bebé não identificado. Vê-se que se trata da praia da Rocha pelo grande número de turistas ingleses no background.
Fora da árvore genealógica da gaiata, a Lúcia mais representativa é, sem dúvida, a Lúcia van Pelt, personagem dos Peanuts. Inicialmente, a Lucy era um bebé irritante que atormentava constantemente os pais. Depois, ao crescer, tornou-se mandona, egoísta e muito sarcástica. A nossa Lúcia não há de ser assim, mas aposto gostará desta sua namesake.
Ainda no capítulo ficcional, agora também musical, sobressai a Lúcia no Céu com Diamantes, dos Beatles. Há várias teorias sobre quem seria esta Lúcia, mas isso interessa pouco. O que interessa é esta grande canção, que tem 50 anos, mas que parece que foi ontem. Vinha no álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, cuja capa aqui recordamos, em benefício dos que não estavam cá quando apareceu.
Não é bem ficcional, mas há 3000000 de anos, viveu na atual Etiópia uma outra Lúcia, que é a tataravó em último grau de todos nós. Não há fotos da época, mas a reconstrução que existe no museu de história natural em Washington, é deveras impressionante e faz pensar.
Esta Lúcia de antanho chama-se assim por causa da canção dos Beatles. Segundo consta, a canção tocava muitas vezes, no campo arqueológico, lá na Etiópia, e terá inspirado os arqueólogos. Sugiro que os pais da criança lhes sigam o exemplo, e que ponham a Alexa a tocar esta canção amiúde.
Uma outra Lúcia, esta mais bonita do que a etíope, é a Lucy Miller, do filme Lucy. Se não viram, vejam. Aqui vai o trailer e o cartaz, onde reconhecemos a Scarlett Johansson, que fazia de Lucy:
Muito cuidado com esta Lucy!
De novo no setor musical, e para além da canção dos Beatles, temos de referir o Paco de Lucía e a Lucia de Lammermoor.
Paco de Lucía (1947-2014) foi um grande guitarrista espanhol. O seu verdadeira nome era Francisco Gustavo Sanchez Gomez. Nasceu em Algeciras. Paco é que os espanhóis chamam aos Franciscos e Lúcia era o nome da sua mãe, uma algarvia de Castro Marim. Aparentemente, em Algeciras é costume os rapazes serem distinguidos pelo nome da mãe, o que compreende, pois deve haver muitos Pacos, muitos Pepes e muitos Javiers. Assim, ficou Paco da Lúcia, e, do mesmo modo, acho devíamos adotar Xavier da Vera e Valentim da Diana. Para manter as coisas simétricas e igualitárias, proponho que as gaiatas sejam distinguidas pelo nome do pai. Desta forma, teremos em breve a Lúcia do João, que se junta à Olívia do mesmo. Claro que esta minha proposta é um tanto biased a meu favor, já que ganho logo duas: a Vera e a Diana do Pedro. 😎
Eis três amostras da arte do Paco da Lúcia: Entre Dos Aguas e Concerto de Aranjuez, Mediterranian Sun Dance.
Atenção, Xavier! Toca a treinar isto no teu uquelele!
No iTunes há mais e no Amazon Music também.
Finalmente, Lúcia de Lammermoor, a heroína da ópera homónima, de Donizetti:
Como se depreende desta foto, Lúcia de Lammermoor é uma daquelas óperas em que tudo acaba mal, mas pronto. Eis a famosa “cena louca”, interpretada pela Callas e outra versão mais recente, pela Sumi Jo e outra ainda, pela Diana Damrau. Esta cena integra duas árias: a o doce som e a derrama lágrimas amargas, em italiano il dulce souno e spargi d’amare pianto. Para a “o doce som”, sozinho, temos aqui a versão da Callas e uma outra, espetacular, usada no filme “O Quinto Elemento”, na cena da “dança da Diva”. Nesta, quem canta é a soprano albanesa Inva Mula Tchako. Para quem quiser ouvir só “as lágrimas amargas, termos a versão da Natalie Dessay.
Grande música para uma grande miúda!

Leila

Completo este estudo da letra ele com um nome incontornável, ainda que polémico: Leila. Incontornável, porque à escala mundial, a melhor canção com nome de mulher é a Layla, do Eric Clapton. A versão original é dos Derek and the Dominos e pertence ao disco Layla and Other Assorted Love Songs. (Xavier: isto é para ser tocado em Volume 10!)
O nome é polémico porque pode escrever-se de várias maneiras. Para Clapton é Layla; nos países de língua portuguesa parece que Leila é mais frequente. Veja-se o caso de Leila Lopes, angolana, miss universo em 2011:
Por outro lado, a lista oficial de nomes admitidos também regista Layla. Aliás, aparentemente a edição de novembro de 2017 está muito mais rica do que as anteriores: estimo mais de 4000 nomes para rapariga e outros 4000 para rapaz. A regra parece ser aceitar qualquer nome que seja nome registado de um cidadão português. Na verdade, consultando a lista, fica difícil encontrar um nome normal. A Wikipedia tem um interessante artigo que também deve ser estudado por todos os futuros progenitores, ainda que esteja desatualizado, pois não inclui Layla.
A Layla de que Eric Clapton fala ou, melhor, canta, é uma princesa persa, do século VII, envolvida num romance trágico, estilo Romeu e Julieta, com um rapaz chamado Majnum. Ora, na altura, o Eric estava in love com a Pattie Boyd, uma famosa modelo inglesa, que, por sinal, era casada com George Harrison, grande amigo e parceiro do Eric.
A Pattie Boyd era de facto uma bela garota e não admira que tivesse uma legião de admiradores:
Uns anos depois a Pattie separou-se do George e acabou por se casar com o Eric. Uns anos depois, separou-se do Eric. C’est la vie
Quer dizer, o Eric compôs a Layla quando estava na fossa causada pela sua paixão impossível (à altura) pela Pattie. Apetece dizer: ainda bem que era uma paixão impossível; se fosse possível, talvez hoje não tivéssemos essa canção.
Pattie Boyd é uma mulher muito interessante e pode gabar-se de ter sido a musa, não de uma, não de duas, mas de três grandes canções: Layla, como já sabemos, Wonderful Tonight, também do Clapton (vejam também esta versão ao vivo) e Something, do George Harrison, para os Beatles. O vídeo é fantástico, dos Beatles com as suas respetivas mulheres à época: o George com a Patti (que é mais gira de todas), o Paul com a Linda, o John com a Yoko e o Ringo com a Maureen. Do Something, há ainda esta versão notável, pelo George e pelo Eric, ao vivo no Japão.
Há que dizer que a canção Layla tem dois autores: Eric Clapton e Jim Gordon. Na verdade, a canção tem duas partes distintas: a primeira, com os famosos riffs na guitarra, é do Eric; a segunda, mais calma, é do Jim Gordon, que originalmente a escreveu para piano. Também é justo reconhecer que os riffs foram compostos por um outro guitarrista, Duane Allman, convidado para a gravações do tal álbum dos Derek and the Dominos. Este interessante vídeo isola a faixa da guitarra do Allman, por um lado, e a voz do Clapton por outro. Este outro vídeo, do produtor, Tom Dowd, muitos anos depois, também é muito bom.
O Jim Gordon que é indicado como co-autor era o baterista dos Derek and the Dominos. Alguns dizem que ele terá “roubado” a melodia à sua namorada da altura, Rita Coolidge, que a usara numa canção chamada Time.
Esse rapaz, o Jim Gordon, acabou mal. Em 1983, num ataque de esquizofrenia que não estava diagnosticada, cometeu um crime bastante chato. Ainda continua preso. Mas era um baterista excepcional. Depois de deixar os Derek and the Dominos, participou na Incredible Bongo Band. Ficou famosa a versão que esta banda fez do clássico Apache, onde podemos apreciar a força da bateria do Jim.
Finalmente, para registo, e para o Xavier ir treinando no seu uquelele, o riff da mana:

Luciano

Luciano: um belo nome, com clara sonoridade italiana, incompreensivelmente pouco usado.
Luciano, saiba-se, é um nome derivado de Lúcio, e Lúcio é a forma masculina de Lúcia, nome feminino analisado acima. Em rigor, na origem Luciano é o patronímico de Lúcio, tal como, em português, Fernandes é o patronímico de Fernando, significando “filho de Fernando”. Ora, tecnicamente, os patronímicos podem referir-se a um antepassado do indivíduo em causa, pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó, etc. Concluímos que, no caso vertente, o nome é muito apropriado e pode ser tomado como bisneto da Lúcia.
Os Lucianos mais famosos são italianos, ou de origem italiana.
Temos, para começar, o incontornável Luciano Pavarotti. Não o conhecemos assim, mas era um belo rapaz:
Não querendo documentar a sua presença aqui com o algo piroso, mas fantástico, Nessum Dorma, propomos o notável E lucevan le stelle, em português “E brilhavam as estrelas”, da ópera Tosca, de Puccini.
Outro Luciano italiano é o Berio. É menos conhecido que o Pavarotti, mas é do mesmo ramo: a música, neste caso não a ópera mas a música contemporânea, inclusivamente música eletrónica.
Eis um famoso exemplo da música de Luciano Berio: a sexta sequência para viola. E estoutro também é muito bom: Folk Songs.
Noutro ramo trabalhava o Lucky Luciano, que tinha cara de mau, como se vê neste famoso mugshot:
O Lucky Luciano é americano, o que calha bem, pois o nosso gaiato também será. Eu termos onomásticos, há que esclarecer que em rigor, Lucky é diminutivo de Lucas e Lucas é uma variante de Lúcio. Portanto Lucky Luciano é um nome redundante. Bom, se Lucas é uma variante de Lúcio e Luciano também, concluímos que Lucas e Luciano são variantes em segundo grau. Se por algum motivo técnico, Luciano não for possível, a alternativa Lucas é sempre uma possibilidade.
Esperamos, claro, que o gaiato não siga os passos deste seu concidadão e namesake no mundo do crime. Mas Lucky Luciano era um tipo organizado e amigo do seu amigo. Foi um dos fundadores do Sindicato Nacional do Crime, uma associação que, tal como seu nome revela, certamente tinha como nobre missão defender os direitos e os interesses dos trabalhadores do crime.
O quarto Luciano de hoje dedica-se, como os dois primeiros, a uma atividade mais consentânea com os bons costumes: a música, também, neste caso, com o seu irmão mais velho Zezé di Camargo, formando a dupla Zezé di Camargo & Luciano, elevados expoentes da música sertaneja.
Eis uma recente imagem dos dois irmãos, em pose bem masculina:
O Luciano é o da esquerda, acho eu…
Uma música destes dois é super-muito-conhecida, ainda que não seja um original deles: Eu só penso em você. Coma sabemos, o original é o You were always on my mind, um clássico americano, com famosas versões do Willie Nelson, do Elvis Presley e dos Pet Shop Boys, mas a versão dos dois irmãos, com a participação do Willie Nelson, é bem castiça.
Os dois versos do refrão são muito mesmerizing:
Vim aqui para te dizer
Que eu só penso em você.
O Zezé e o Luciano vêm a Lisboa e ao Porto em maio. Absolutamente a não perder! Infelizmente não têm nenhum concerto previsto para Seattle ou para o Luxemburgo. Não obstante, não duvido que os dois irmãos, Xavier e Luciano, formarão também uma dupla musical futuramente famosa tomando-os como modelo, que me apresso a batizar: Xavier di Cabrela e Luciano. Xavier na guitarra e Luciano no saxofone, só pode!

Leonardo

Outro belo nome começado por ele é Leonardo. Trata-se de um nome de origem germânica, formado a partir do prefixo “levon”, que quer dizer leão e pelo sufixo “hard”, que quer dizer bravo ou valente. Portanto, um nome de peso e apropriado, tendo o novo gaiato também o apelido Guerreiro: leão valente guerreiro!
O primeiro Leonardo ou, melhor, o mais notável e genial de todos é o da Vinci (1452-1519). Aliás, bota “genial” nisso! Leonardo da Vinci é, sem dúvida, um dos mais geniais membros da espécie Homo Sapiens. O nosso novo gaiato orgulhar-se-á de o ter como padrinho, por assim dizer, e seguir-lhe-á as pisadas, aposto.
Eis como Leonardo da Vinci se via a si próprio:
Esta página da Wikipédia italiana tem a lista das pinturas de da Vinci. Devemos organizar em breve uma excursão familiar a todas a localidades indicadas, para ver ao vivo todas elas! Isto em vez de pensar em ir de férias para o Hawaii ou para Bali. 😡
Há um desenho do da Vinci que me é particularmente querido, e antecipo que também será ao nosso Leonardo, assim como ao seu irmão mais velho. É o “guerreiro”:
Está no Museu Britânico, em Londres.
Leonardo era muito sábio. Eis alguns aforismos que lhe são atribuídos:
  • A experiência nunca falha, apenas as nossas opiniões falham, ao esperar da experiência aquilo que ela não é capaz de oferecer.
  • Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.
  • Lastimável discípulo, que não ultrapassa o mestre.
  • Nunca o homem inventará nada mais simples nem mais belo do que uma manifestação da natureza. Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido.
  • A simplicidade é a máxima sofisticação.
Antes deste Leonardo houve outro Leonardo em Itália, em relação ao qual temos uma dívida cultural imensa: Leonardo Fibonacci (c. 1175–c. 1250):
Leonardo Fibonacci, natural de Pisa, é sobretudo conhecido por ter “inventado” uma sequência de números que leva o seu nome, os números de Fibonacci: 0, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, etc. Cada número da sequência é a soma dos dois anteriores, exceto os dois primeiros, que são 0 e 1. Estes números têm grande aplicação em matemática e em informática, e também surgem na natureza, em várias situações.
No entanto, a sua principal contribuição para o progresso em geral foi ter sido ele a popularizar na Europa o sistema de numeração árabe, por meio do seu livro Liber Abaci, o Livro das Contas. Podemos especular que se não fosse Fibonacci, o sistema de numeração árabe, que, diga-se, os árabes terão ido buscar à Índia, acabaria por ser adoptado na Europa, mais cedo ou mais tarde. Fair enough. No entanto, o progresso científico que nos trouxe de 1200 até ao século XXI teria começado com atraso, e porventura estaríamos hoje a pensar como se pensava em 1900. Inversamente, quem sabe, se algum outro sábio mais vetusto, tivesse tido premonitoriamente a perspicácia de Leonardo Fibonacci, estaremos hoje, do ponto de vista científico e tecnológico, talvez tão avançados como os do Orville, o que seria muito divertido:
Um outro Leonardo das matemáticas é Leonardo Euler (1707 – 1783).
Euler foi um cientista profícuo, com trabalhos em matemática, física, astronomia, lógica e engenharia. A sua influência direta na nossa vida atual é absolutamente impressionante. Se Fibonacci nos ensinou a usar os números, Euler ensinou-nos a usar as funções. De facto, foi ele que introduziu a notação f(x) para exprimir o resultado de aplicar a função f ao argumento x. Qualquer um de nós com um pouco de conhecimento em matemática sabe que não iríamos a lado nenhum sem esta técnica tão simples mas tão expressiva. Aliás, o conceito de função foi uma invenção de Euler.
Euler também criou a teoria dos grafos, um ramo da matemática que tem inúmeras aplicações e no qual se baseia grande parte da tecnologia do século XXI. O problema que acabou por dar origem a esse novo ramos da matemática foi o das sete pontes de Conisberga. Conisberga era uma importante cidade da Prússia oriental, junto ao mar Báltico. Hoje chama-se Kaliningrado e é a principal cidade do enclave russo junto no Báltico, entre a Polónia e a Lituânia.
Pois bem, havia em Conisberga sete pontes, de acordo com o seguinte mapa:
A questão era encontrar forma de dar uma passeio por Conisberga atravessando todas as pontes, cada uma uma só vez e regressando ao ponto de partida.
Euler provou que é impossível. Ao fazê-lo, criou as bases da teoria dos grafos.
A fórmula de Euler é uma igualdade fundamental em matemática, que aqui deixo para que nosso Leonardo se habitue a ela desde bem cedo:
ei𝜑 = cos𝜑 + i sen𝜑
Um caso particular, obtido quando 𝜑 vale 𝜋 é o seguinte :
ei𝜋 + 1 = 0
Esta é a identidade de Euler e é fantasticamente notável porque relaciona numa fórmula simples as cinco constantes principais da matemática: 0, 1, i, 𝜋, e. Alias, a constante e, a base dos logaritmos naturais, chama-se e por ser a inicial de Euler.
Um outro cientista Leonardo, noutra categoria, é o Leonardo Hofstadter, físico experimental e protagonista da Teoria do Big Band, ex-roommate do Sheldon Cooper e atualmente marido da Penny:
Para quem não conhece, o Leonardo é o que tem óculos, ao lado dele, sentada no sofá, está a Penny e ao lado da Penny está o Sheldon. Aliás, da esquerda para a direita temos a Bernardette (olha, um belo nome começado por bê!), o Howard, o Leonardo, a Penny (Penny é o diminutivo de Penélope; se quisermos um nome de rapariga começado por pê, terá de ser Penépole!), o Sheldon (igualmente, se quisermos um nome de rapaz começado por esse, só poderá ser esse (viram o trocadilho?)), a Amy (Amy, já temos uma, a Amelinha) e o Raj (se quisermos um nome para rapaz, curto e começado por erre, sem ser Rui, proponho este).
Nem só da matemática e da física vivem os Leonardos. Na música também há vários e poderosos: seleciono o Bernstein, o Cohen e o Kravitz.
Leonardo Bernstein (1918-1990) foi um maestro e compositor, americano, extraordinariamente popular. Trouxe a música clássica para muitas audiências, designadamente para os jovens. Lembro-me bem do seu programa “Young People Concerts” que deu na televisão portuguesa algures nos anos 60. Aliás, vou colocar na minha wish list para o Natal: http://www.kulturvideo.com/Leonard-Bernstein-Young-Peoples-Concerts-p/d1503.htm
Curiosamente, quando estive nos Estados Unidos, em 1970, numa excursão com outros da minha idade, fomos parar a um auditório perto de Cleveland, onde estava a ensaiar a orquestra (suponho que era a Orquestra de Cleveland) e o maestro era o Bernstein. Não me lembro do que tocaram, mas foi um momento fantástico.
Apesar de ser um músico “sério”, talvez a sua obra mais popular seja a banda sonora do West Side Story.
Quem nunca viu o filme, faz favor de ir ver! Para quem não conhece a música, sugiro a versão da Orquestra Sinfónica de San Francisco.
Mesmo quem acha que não conhece a música, de certeza que já ouviu algumas das canções. Eis a minha seleção: Maria, Tonight, (perfeita, a Natalie Wood, no papel de Maria; olha, um belo nome feminino começado por ene: Natália), Somewhere, Mambo, e, especialmente dedicada aos nossos emigrantes, America. A música é fantástica, mas as letras de Stephen Sondheim não lhe ficam atrás.
Num outro registo, estilo pop music para adultos, temos o Leonard Cohen (1934-2016). As suas músicas partiam corações, e constituíam o contraponto às rocalhadas dos anos 60, 70, etc. Seleciono duas, que têm nome de mulher e que poderiam ser usadas, caso o rebento seja do sexo feminino: Suzanne e So Long, Marianne.
Finalmente, e para terminar com uma coisa mais animada, o Kravitz, conhecido pelo nome artístico Lenny Kravitz. Eis uma amostra das suas canções mais conhecidas: Fly Away, It Ain't Over Til It's Over, Again e Are You Gonna Go My Way.
Estou a ver o nosso Leonardo mais nesta onda do Kravitz do que na onda do Cohen…
O Lenny Kravitz, além de ser um músico de rock de categoria, deve ser um rapaz simpático: no seu rol de namoradas, encontramos a Vanessa Paradis, a Adriana Lima e a Nicole Kidman. Nada mau!
O Lenny Krevitz vem a Portugal no verão. Vamos ao espetáculo?

LeBron

Nenhuma lista de nomes para rapaz ficaria completa sem LeBron.
LeBrons não há muitos. Só conheço o LeBron James, famoso basquetebolista americano, um dos melhores de todos os tempos, atualmente nos Cleveland Cavaliers (olha, Cleveland aparece duas vezes citada nesta crónica!)
Segundo a revista Vogue1, o LeBron tem um dos melhores corpos masculinos, contrabalançado no setor feminino pela Gisela (ah! um belo nome começado por guê!) Bundchen:
LeBron é um belo nome, mas a sua origem é disputada. Segundo alguns, é apenas um nome inventado. Segundo outros, é de origem africana, significado “o rei”, (um bocado farfetched, parece-me). Há quem sustente, que, em vez de origem africana, é de origem francesa, constituindo uma corruptela de Le Brun, “o moreno”, que se adapta bem ao LeBron James, já que a sua pele é escura. Finalmente, pode ter origem espanhola, onde Lebrón é um apelido relativamente comum. Em espanhol, lebrón significa astuto, matreiro. Não duvido que astúcia e matreirice sejam qualidades do miúdo, ou não fosse ele filho de quem é.
O feminino de lebrón em espanhol é lebrona, mas não recomendo na eventualidade de o rebento ser uma menina.
Antecipo algumas dificuldades em registar o moço com este nome nos Estados Unidos, pois o funcionário, certamente zeloso e politicamente correto, vai dizer que LeBron é um nome afro-americano e que não pode ser dado a caucasianos, sob pena de apropriação cultural. Ao que os pais podem retorquir: nada disso, LeBron é nome ibérico e esta família é toda da península ibérica. (Talvez seja preciso explicar ao funcionário onde fica a península ibérica…)
Inversamente seria muito fácil registá-lo em Portugal, pois, surpreendentemente Lebron consta na lista de nomes autorizados. Talvez haja uma pequena dificuldade em fazer passar o bê maiúsculo, mas isso é um pormenor, pois oficialmente, isto é, no cartão de cidadão e no passaporte, os nomes vêm em caixa alta.
E pronto! Podem as avós começar a bordar eles nas fraldas, independentemente de ser menino ou menina:
  1. By Source, Fair use, https://en.wikipedia.org/w/index.php?curid=17017320 ↩︎