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domingo, 20 de maio de 2012

Nome do dia: Vicente

Nome do dia

Vicente

Vicente é um nome que começa com ‘V’. É verdade que o ‘V’ era, até agora, o ‘V’ da Vera, mas temos a certeza de que a mãe do gaiato terá muito gosto, e até muito orgulho, em partilhar a sua inicial com o rebento. Aliás, na prática, em  breve, o ‘V’ terá de deixar de ser o ‘V’ da Vera, sob pena de causar uma grande confusão ao gaiato, pois a letra da mãe tem de ser o ‘M’, e não o ‘V’. Sendo assim, para que o ‘V’ inicial se mantenha da família, o melhor mesmo é passá-lo para o gaiato.

Vicente provém diretamente do latim Vincentius, que significa vencedor e que deriva do verbo “vincere”, que significa “vencer”. Recordemos, a propósito, a famosa frase de Júlio César, “veni, vidi, vici”, depois de ter despachado rapidamente as tropas do rei Farnaces, na batalha de Zela (no norte da atual Turquia), em 49 antes de Cristo. Aliás, um outro nome que provém do mesmo verbo “vincere” é Vítor que é o nome de um dos bisavôs do gaiato, uma feliz coincidência.

Vicente é um nome vitorioso, o que calha bem, e a sua inicial, a letra ‘V’, é também um dos símbolos da vitória, que associamos a Winston Churchill, no fim da guerra:


No entanto, ao fazer o sinal ‘V’ com os dedos, temos de ter cuidado, pois o sentido é diferente em algumas culturas, consoante a palma da mão é virada para a frente ou para trás, http://en.wikipedia.org/wiki/V_sign. Os pais devem ensinar quanto antes estas subtis distinções ao gaiato, que será detentor desta inicial tão propensa a ser representada digitalmente.

Quando, há 50 anos eu ia ao futebol no estádio do Restelo, precisamente com o bisavô Vítor, distinguiam-se na equipa do Belenenses três jogadores, o Matateu e o Vicente, e o guarda-redes, José Pereira. Matateu e Vicente eram irmãos. Matateu, de seu verdadeiro nome Sebastião Lucas da Fonseca, é a maior glória do futebol do Belenenses, http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Lucas_da_Fonseca, e foi o primeiro jogador africano que se distinguiu em Portugal, antes de Eusébio. Matateu era avançado e seu irmão Vicente jogava a médio ou a defesa. Vicente Lucas, http://en.wikipedia.org/wiki/Vicente_Lucas, foi também um grande jogador e, sendo mais novo, entrou na famosa e mítica equipa dos magriços, a seleção nacional que ficou em terceiro lugar no campeonato do mundo de 1966, em Inglaterra. Ficou célebre, nesse campeonato, o Portugal-Brasil, em que ganhámos por 3-1, com dois golos de Eusébio, http://www.youtube.com/watch?v=eCtbJrALp3c, e também o Portugal-Coreia, em que ganhámos por 5-3, depois de estarmos a perder por 3-0 ao fim de 25 minutos, www.dailymotion.com/video/x26cxd_portugal-5-coreia-do-norte-3-de-196_sport. Vicente alinhou nesses dois jogos.

É verdade que Vicente não aparece em destaque nos resumos desses dois jogos, o que se compreende, pois ele era defesa. Mas que foi um grande defesa, prova-o fazer parte do All-Star team do mundial de 1966, juntamente com Coluna e Eusébio,http://en.wikipedia.org/wiki/FIFA_World_Cup_awards#All-Star_Team. Essa distinção só voltou a ser atribuída a jogadores portugueses em 2006, no campeonato da Alemanha, neste caso a Ricardo, Ricardo Carvalho, Figo e Maniche. Tenho a certeza de que a tia Di ficará particularmente orgulhosa de ter um sobrinho e um gato batizados com nomes de jogadores de tão alta craveira.

Uns séculos antes de Vicente Lucas, um outro Vicente tinha-se distinguido no mundo do entretenimento, agora não desportivo, mas sim teatral: Gil Vicente, o “pai” do teatro português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente. Curiosamente, o principal clube da cidade de Barcelos, cidade onde terá nascido Gil Vicente, é o Gil Vicente Futebol Clube, e, deste modo, o pai do teatro português é também, indiretamente, um precursor do futebol português. O emblema do Gil Vicente ostenta o famoso galo de Barcelos, que acaba por ser um símbolo não-oficial da nossa nacionalidade e que é muito querido especialmente da nossa comunidade emigrada, da qual o gaiato fará parte, em posição de muito destaque, é claro.


Ainda mais antigo do que Gil Vicente, tão antigo que é mesmo anterior à nacionalidade, temos São Vicente. Este é um santo um tanto misterioso, pois, sendo oficialmente o santo padroeiro da cidade de Lisboa, foi um pouco relegado para segundo plano devido à grande popularidade do seu colega mais recente, Fernando Martins de Bulhões, que usou o nome profissional de Santo António, e que se distinguiu, entre outras coisas igualmente notáveis, pela sua propensão para casar a malta toda. Na verdade, o percurso de São Vicente é bem menos prazenteiro do que o de Santo António. Nasceu para os lados de Saragoça e foi vítima das perseguições aos cristãos realizadas a mando do imperador Diocleciano. Cristão ferrenho, não obedeceu às ordens imperiais que mandavam fazer sacrifícios aos deuses pagãos, acabou preso e foi martirizado até à morte em 304 ou 305, não sem antes ter conseguido a milagrosa conversão do seu carrasco. O seu corpo foi sepultado e depois, com o triunfo do cristianismo, foi transladado para uma basílica perto de Valência. De acordo com uma lenda, durante a ocupação muçulmana, o corpo (o que restaria dele, presumo) foi colocado num barco, deixado à deriva. Ora o barco foi dar ao Algarve, à ponta de Sagres, mais precisamente, e as relíquias foram guardadas nesse local, que passou a chamar-se cabo de São Vicente. Durante a reconquista, D. Afonso Henriques achou que seria boa ideia trazer as relíquias do santo para Lisboa, para com isso marcar a cristianização definitiva da cidade,http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/medievalista4/medievalista-picoito.htm. Segundo a tradição, durante a viagem, dois corvos acompanharam o barco que trazia as relíquias. São esses os corvos que aparecem no brasão da cidade de Lisboa:


Em resumo, temos em Portugal três importantes Vicentes: São Vicente, Gil Vicente e Vicente Lucas. Em breve teremos um quarto, tudo indica.

À escala planetária, e, atrevo-me a dizer, à escala do universo, o mais notável Vicente é o van Gogh, http://en.wikipedia.org/wiki/Vincent_van_Gogh. Não precisa de palavras, bastam os seus quadros: http://www.googleartproject.com/collection/van-gogh-museum/.

Um dos mais bonitos tributos a Vincent van Gogh é a canção “Vincent” de Don McLean: http://www.youtube.com/watch?v=Gi_P8XwrSCU. O primeiro verso, “Starry, starry night”, é logo uma referência ao quadro Noite Estrelada:


Este Don McLean, que pode ser desconhecido dos mais novos, não é um tipo qualquer: é um importante autor e cantor americano, sobretudo conhecido pela canção American Pie, uma das canções mais famosas e mais intrigantes do século XX, http://understandingamericanpie.com/mclean.htm. Os mais novos identificarão a expressão American Pie com as típicas tortas de maçã americanas e também com aquela série de filmes sobre a adolescência, http://en.wikipedia.org/wiki/American_Pie_%28film%29, no primeiro dos quais há uma famosa cena que envolve uma tarte de maçã, mas não saberão que o título do filme é tirado do título da canção do McLean, o qual, por sua vez, remete para a tarte como símbolo da quinta-essência da cultura americana. A canção American Pie está em quinto lugar na lista americana das “canções do século”, http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_songs_considered_the_best#American_culture_and_heritage.

Não confundamos a canção Vincent com o filme Vincent, www.imdb.com/title/tt0084868/. Este é pequeno filme do Tim Burton (o mesmo de Batman, Eduardo Mãos-de-Tesoura, entre muitos outros), em stop motion, que conta história de um rapazinho chamado Vincent Malloy que sonha ser como Vincent Price, http://www.youtube.com/watch?v=vDp6PXI_1u8. Sim, Vincent Price, o prestigiado ator americano, que faz narração do filme com a sua voz inconfundível, e que entrou definitivamente para a cultura popular com o fantástico voiceover do Thriller do Michael Jackson, http://www.youtube.com/watch?v=dgDSXlXkJv4, “can you dig it? ah ah ah ah”. Tenho a certeza de que nosso gaiato adorará o filmezito, o riso maléfico do Vincent Price e, sobretudo, o Michael Jackson, cantando e dançando o Thriller,http://www.youtube.com/watch?v=jQ_ExkfcBao. O pai e a mãe podem já começar a preparar as máscaras para o carnaval, inspiradas nestes simpáticos bailarinos. Para outras coisas de arrepiar, temos o The Raven, do Edgar Allen Poe, lido pelo Vincent  Price, www.youtube.com/watch?v=27ZvwQd-wXw, poema esse que já encontrámos anteriormente. Para referência, aqui estão o original em inglês, http://www.heise.de/ix/raven/Literature/Lore/TheRaven.html, e a notável tradução do tio Fernando Pessoa, http://www2.dem.ist.utl.pt/~jsantos/Literature/O_Corvo.html. Isto fecha o nosso círculo, de maneira completamente premonitória: o Vicente Price, lendo o Corvo, que é o pássaro de Lisboa e de São Vicente.

Vicente: um nome convincente. Can you dig it?

Beijinhos

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