Wagner
Wagner é um nome claramente germânico, alemão mesmo, que assenta como uma luva a um rapaz filho de emigrantes nascido no Luxemburgo. Wagner significa “carpinteiro de rodas”, profissão de ricos pergaminhos, com origem muito antiga, e à qual se deve em larguíssima medida o desenvolvimento da civilização. A roda é, sem dúvida, uma das mais importantes invenções tecnológicas e, não fora as gerações sucessivas de competentes carpinteiros de rodas, a humanidade certamente estaria bem mais atrasada do que está. É verdade que se trata de uma profissão hoje pouco praticada na sua forma original, mas podemos considerar que, por via da evolução que ela própria desencadeou e permitiu, os carpinteiros de rodas são os antecessores dos engenheiros mecânicos de hoje em dia. Assim sendo, só podemos augurar que o gaiato siga as pisadas do seu tio-avô Mané, e que, quem sabe, venha a ter uma carreira auspiciosa no ramo da indústria automóvel.
Significando, na origem, “carpinteiro de rodas”, Wagner é um espécime notável da respeitável classe dos nomes ocupacionais, isto é, nomes que representam profissões. Em português não há muitos, infelizmente. Além de Wagner, consegui identificar os seguintes: Jorge (que significa “lavrador”), Fabrício (“artesão” ou “operário”), Custódio (“guarda” ou, por extensão, “polícia”), Sérgio (“criado”). Conspicuamente ausentes desta lista de nomes ocupacionais estão nomes para as belas profissões de bombeiro, astronauta ou futebolista, que qualquer gaiato gostaria de ter, o que é uma pena e uma debilidade da nossa língua. Mesmo assim, sem preconceitos e recorrendo ao grego, nossa língua mãe para estas coisas, facilmente construímos belos nomes que outros pais poderão querer escolher para os seus rebentos: para bombeiro, Pirasfális (que defende do fogo); para astronauta, Astério (que vem das estrelas) e para futebolista, Filosfério (que gosta da bola).
Ao registarmos o gaiato no Luxemburgo estaremos a tornear a eventual resistência, ou mesmo intransigência, que provavelmente encontraríamos se tentássemos fazê-lo em Portugal, onde o conservador, se fosse conhecedor das regras do nosso belo idioma e também amante da cultura europeia, insistiria, com razão e algum fundamento, na grafia Vágner. De facto, a base IX do acordo ortográfico da língua portuguesa de 1990 (é de 1990, mas só estamos a aplicar agora) estabelece que as palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente, mas que recebem acento agudo “as palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps (…): (…) açúcar, almíscar, cadáver, caráter, ímpar (…)” Por outro lado, é verdade que a base I do acordo, que trata do alfabeto, refere explicitamente primeiro que o alfabeto português contém 26 letras, abcdefghijklmnopqrstuvwxyz, as quais têm “uma forma minúscula e outra maiúscula”, acrescentando que “além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u)”. Esta mesma base ensina que o nome da letra w, que será inicial do nosso gaiato, se chama “dáblio”. Além disso, indica que as letras k, w e y se usam em casos especiais, um dos quais nos interessa particularmente: “em antropónimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista;” Há aqui um conflito linguístico interessante: o antropónimo Wagner, sendo originário de outra língua, pode escrever-se com W, tal como na língua de origem. No entanto, se é aceite como palavra portuguesa, devia aplicar-se a regra da base IX e colocar um acento no a, acento esse que não existe no original alemão. Mas então, digo eu, o melhor seria aportuguesar completamente, por via popular, e, transformar o W original em V, obtendo Vágner. Não o faremos aqui, pois convém-nos manter o caráter germânico do nome, para facilitar a vida ao gaiato, na escola luxemburguesa, cujos professores certamente seriam insensíveis às normas da ortografia portuguesa e constantemente lhe baralhariam o nome.
Desta forma, o nome Wagner/Vágner fica associado, não só a lista dos nomes ocupacionais, como já vimos, mas também à dos antropónimos paroxítonos terminados em “er”, onde se junta a Áser (que significa feliz, de origem hebraica), Deméter (que ama a terra ou que é um seguidor da Demetra, deusa grega da agricultura, colega da deusa Diana, esta com o pelouro da caça no panteão romano e madrinha virtual da tia do gaiato), Éder (que significa bando ou manada, sabe-se lá porquê, de origem hebraica), Élmer (de nobre fama, de origem anglo-saxónica), Guálter (poderoso guerreiro, que também ficaria muito bem ao nosso gaiato, de origem teutónica), Hélder (luminoso, de origem polaca), Jáder (significado desconhecido), Vérter (soldado valoroso, de origem germânica), entre outros.
Que a variante Vágner é a mais consensual e a mais avançada, provam-nos os nossos irmãos brasileiros, que são mais cuidadosos com a língua que os próprios portugueses. Temos, por exemplo, o famoso futebolista brasileiro Vágner Love, atualmente no Flamengo, mas que os sportinguistas bem conhecem, de quando ele jogava no CSKA de Moscovo e veio a Alvalade ganhar ao Sporting na final da taça UEFA, em 2005, onde marcou o terceiro golo da equipa russa, golo que arrumou com as esperanças do Sporting e de milhões de portugueses na altura, diga-se, http://terceiroanel.weblog.
Mas é claro que não será neste Vágner que o nosso gaiato se reverá (nem o gaiato, nem, muito menos, o pai dele…), mas sim no compositor alemão, Richard Wagner e nas suas belíssimas e grandiosas óperas. Sendo um compositor clássico, duas das obras de Wagner fazem parte da cultura popular, à escala mundial: a cavalgada das valquírias e a marcha nupcial. A primeira tornou-se ainda mais conhecida pela utilização que de dela foi feita no filme Apocalipse Now, http://www.imdb.pt/title/
Ainda no setor musical, se bem que noutro género, temos Wagner Tiso, o qual, sendo brasileiro, é Wagner e não Vágner. Ei-lo ao piano, com orquestra, tocando uma peça de António Carlos Jobim que todos conhecemos, mas cujo título não refiro, para dar ao pai do gaiato a oportunidade de se exprimir nesta ocasião: http://www.youtube.com/watch?
Um outro Wagner de algum mérito é o ator americano Robert Wagner, não pelas suas qualidades no grande ecrã, mas porque a ele associamos a Natalie Wood, a miúda mais gira de todos os tempos ou, melhor, pelo menos de quando eu era novo. O Robert, que era um galã, casou-se com ela primeiro em 1957, divorciou-se em 1962, e voltou a casar em 1972, o que só mostra que parvo não era. A Natalie Wood infelizmente morreu ainda muito nova, em 1981, ano em que nasceu a mãe do gaiato. Portanto, perdeu-se uma miúda gira, ganhou-se outra. Recordemo-la no filme West Side Story, onde fazia o papel de Maria (numa óbvia referência à avó materna do gaiato), cantando I feel pretty: http://www.youtube.com/watch?
Se houvesse dúvidas de que o gaiato deve ser Wagner, com W, elas dissipar-se-iam pela simples observação de que se o filho vem a seguir à mãe, então a letra do filho deve vir a seguir à letra da mãe, caso contrário ninguém se entende! Teremos V seguido de W, como deve ser, o que imediatamente nos remete para o emblema da famosa marca de automóveis, também alemã, a Volkswagen.
Wagner? Warum nicht?
Beijinhos
Como eu não me reconheço como Maria mas sim Manel, a obvia referência à avó materna do gaiato só pode ser da canção "I feel pretty" (modéstia à parte, claro!)
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