Geraldo
Eis um nome consensual, que cumpre todos os requisitos na perfeição: não tem acentos nem cedilhas, tem um ‘a’ bem aberto e é facilmente reconhecido internacionalmente.
Para mais, é um nome carregado de história: terá chegado à nossa língua indiretamente, por via do latim tardio Geraldus, o qual seria uma adaptação do alto alemão Gairovald. Nesta sonora palavra “gairovald” reconhecemos facilmente dois elementos: “ger”, que significa “lança”, e “wald”, que significa “chefe”, “governante”. Portanto o Gairovald prototípico devia ser um chefe político que se apresentava com uma lança, para mostrar que era ele quem mandava.
Entre nós, o famoso Geraldo Geraldes, o Sem Pavor, fez bom jus ao seu nome. Na escola primária ensinaram-nos uma história um tanto romanceada acerca deste personagem, mas, ao que parece, Geraldo era um salteador solícito mas irascível (não sei se uma espécie de Robin dos Bosques alentejano) que se ofereceu ao D. Afonso Henriques para tomar parte no assalto à cidade de Évora. O bom do Geraldo entrou na cidade pela calada da noite, limpou o sebo ao governador mouro e entregou a cidade ao D. Afonso Henriques logo pela manhã. Piece of cake!, terá dito, ao encontrar-se com o rei.
Por isso, o gaiato, quando for a Évora, verá uma bela praça com o seu nome: a praça do Geraldo:
Aí quando chegar por volta dos 18 anos, pode até usar este facto para impressionar as garotas. Quem se pode gabar de ter uma praça inequivocamente com o seu nome, ainda por cima numa cidade património mundial?
E vejam bem a entrada na Infopédia: Geraldo Geraldes, o Sem Pavor, guerreiro português, viveu no reinado de D. Afonso Henriques (…).http://www.infopedia.pt/$
O facto de o Geraldo original ser um herói alentejano calha muito bem no caso em análise, dada a costela alentejana do pai do gaiato, o qual, aliás, também tem alguns traços de salteador, como eu já tive oportunidade de lhe explicar. Aliás, quem sabe se é descendente do Geraldo, o que explicaria muita coisa, e pode constituir um incentivo adicional para atribuir ao seu primogénito o formoso nome do seu antepassado mais ilustre.
O Sem Pavor não é o único Geraldo ligado à nossa independência nacional. Outro, menos conhecido, exceto em Braga, é o São Geraldo.
Na verdade, este Geraldo de Moissac nasceu em França, veio para Braga ainda no século XI e foi arcebispo de Braga entre 1096 e 1108, portanto quando Portugal ainda não existia propriamente. O arcebispo Geraldo apoiou o conde D. Henrique (o pai do D. Afonso Henriques, como todos sabemos) e conseguiu do papa Pascoal II a autonomia eclesiástica da Sé de Braga, o que, de certa forma, terá contribuído para a próxima independência do condado portucalense. Não espanta, pois, que são Geraldo seja o padroeiro de Braga.
Concluímos, desta breve amostra, que os Geraldos têm queda para a política: fast-forward para 1974 e encontramos Gerald Ford, presidente dos Estados Unidos. Uns anos antes tinha sido presidente John Fitzgerald Kennedy. Repararam no nome do meio, Fitzgerald? Pois bem, originalmente é um patronímico, de origem franco-normanda, que provém de “fils de Gérald”, filho do Geraldo. Portanto, o gaiato, quando tiver filhos, pode meter-lhes o nome Fitzgerald, o que ficará finíssimo.
Já que falamos de Fitzgerald, não podemos deixar de relembrar a Ella, que cantava como ninguém, http://www.youtube.com/watch?
Ainda a propósito de Fitzgerald, o nosso Geraldo Geraldes bem poderia ter-se apresentado como Geraldo Fitzgerald, pois Geraldes é também o patronímico de Geraldo. Isso torná-lo-ia muito mais cosmopolita e assegurar-lhe-ia uma fulgurante carreira internacional, mas, reconheçamo-lo, perderia um pouco o seu peculiar caráter genuinamente alentejano.
Temos portanto um nome de santo e de conquistador. Isto também se aplica ao Gerald Butler, um santo rapaz que conquistou a Jennifer Aniston, e ao Geraldo Rebelo da Cunha, o virtuoso visconde da Tamargueira, que conquistou a Joana Rita/Alexandra Lencastre. Bravo, Geraldos!
Beijinhos
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