Pompeu é um nome histórico com muitos pergaminhos, que inexplicavelmente está praticamente extinto. Temos a obrigação de o recuperar, não só porque é um belo nome, solene, sonoro, redondo e afirmativo, mas também para defender a língua portuguesa, enriquecendo-a por via da reciclagem dos formosos nomes de antigamente, que simultaneamente homenageiam personagens importantes da nossa história, alguns dos quais, como é o caso, injustamente postos de lado.
O nome Pompeu soa a romano, mas é de origem grega. Consultei peritos em grego antigo que me explicaram que o significado é ambíguo. Pode ser que provenha do verbo “pempo” que significa enviar, transmitir. Aliás, seria esta a origem do nome da bela cidade de Pompeia, perto de Nápoles, a tal que foi enterrada em cinzas em resultado da famosa erupção do Vesúvio, no ano 79 da nossa era. No entanto, é mais plausível que o nome Pompeu esteja relacionado com a palavra “pompe”, que significa “procissão”, “marcha solene”, da qual nitidamente deriva a palavra portuguesa pompa. Isto não fará do nosso Pompeu um gaiato pomposo, temos a certeza, mas emprestará um outro brilho e sumptuosidade à sua entrada em cena, daqui por dois meses e meio. A propósito recomendamos ao pai do gaiato que se equipe desde já com a marcha Pompa e Circunstância, do Edward Elgar, para por a por a tocar quando o gaiato estiver a nascer, http://www.youtube.com/watch?
Convém esclarecer que, apesar da semelhança, a palavra “pompe” não tem nada a ver com “vomvos”, também do grego antigo. É desta última que deriva a nossa “bomba”. O significado original, em grego antigo, é “barulho”. Faz sentido: uma bomba faz barulho. Apesar de a origem ser diferente, a proximidade sonora do nome Pompeu com a palavra bomba é muito interessante. Não auguramos para o gaiato uma carreira de bombista, é claro, mas temos a certeza que na sua meninice há de querer ser bombeiro.
Com Pompeu, prestamos a devida homenagem a Pompeu Magno, célebre general romano, parceiro de Júlio César e também de Crasso no primeiro triunvirato (hoje diríamos troika), nos anos 60 antes de Cristo. Mas a razão da nossa gratidão a Pompeu não é o seu trabalho no triunvirato. Aliás, o triunvirato acabou mal: depois de Crasso morrer, César e Pompeu desavieram-se e Pompeu, feito com Senado, e quem sabe, também com Astérix, tentou retirar a César o seu cargo de governador da Gália. César não gostou, veio da Gália em direção a Itália, atravessou o Rubicão (onde proferiu a celebra frase “alea jacta est”), conquistou Roma, e obrigou Pompeu a fugir para a Grécia. César foi atrás dele e Pompeu teve de se refugiar na Grécia onde acabou por ser assassinado. Vida gloriosa e trágica, a do homónimo do nosso gaiato.
No entanto, a parte da vida de Pompeu que verdadeiramente nos interessa aconteceu antes do triunvirato. Na verdade, foi Pompeu que venceu Sertório, na península ibérica, com isso definitivamente colocando a Hispânia sob o poder político de Roma, tornando-a uma província romana. Foi um hábil administrador, e terá sido com ele que isto tudo começou. Por “isto tudo”, refiro-me à atual configuração política na península ibérica, a qual resulta, em última análise, dos tempos do domínio romano. É verdade que o processo terá começado um pouco antes, com Sertório, mas de certa forma Sertório ainda estava envolvido com os lusitanos, combatendo os exércitos romanos, contrariando, portanto, o movimento em relação à plena assimilação. Tivesse Sertório vencido, e impedido que a organização romana se instalasse, talvez hoje falássemos, como os bascos, um dialeto estranho com raízes paleo-hispânicas, e não aquela que é a nossa bela e elegante língua, diretamente derivada do latim.
Plutarco relata assim a campanha de Pompeu na Hispânia, no seu elegante e escorreito inglês:
Pompey's career seems to have been driven by desire for military glory and disregard for traditional political constraints. In the consular elections of 78 BC, he supported Lepidus against Sulla's wishes. In 78, Sulla died; when Lepidus revolted, Pompey suppressed him on behalf of the Senate. Then he asked for proconsular imperium in Hispania to deal with the populares general Quintus Sentorius, who had held out for the past three years against Quintus Caecilius Metellus Pius, one of Sulla's most able generals. The Roman aristocracy turned him down – they were beginning to fear the young, popular and successful general. Pompey resorted to his tried and tested persuasion; he refused to disband his legions until his request was granted. The senate acceded, reluctantly granted him the title of proconsul and powers equal to those of Metellus, and sent him to Hispania.
Pompey remained there from 76 – 71 BC; he was for long unable to bring the war to an end due to Sertorius' guerrilla tactics. Though he was never able to decisively beat Sertorius (and he nearly met disaster at the battle of ), he won several campaigns against his junior officers. His war of attrition did significantly weaken Sertorius, and by 74 BC, Metellus and Pompey were winning city after city. Finally, Pompey managed to crush the populares when Sertorius was murdered by his own officer, Marcus Perperna Vento , who was defeated in 72 by the young general, at their first battle. By early 71, the whole of Hispania was subdued. Pompey showed a talent for efficient organisation and fair administration in the conquered province; this extended his patronage throughout Hispania and into southern Gaul. Some time in 71 BC, he set off for Italy, along with his army.
Meanwhile, Crassus was facing Spartacus to end Rome's Third Servile War. Crassus defeated Spartacus, but in his march towards Rome, Pompey encountered the remnants of Spartacus' army; he captured five thousand of them and claimed the credit for finishing the revolt, which infuriated Crassus. Back in Rome, Pompey was wildly popular. On December 31, 71 BC, he was given a triumph for his victories in Hispania – like his first, it was granted extralegally.
To his admirers, he was the most brilliant general of the age, evidently favoured by the gods and a possible champion of the people's rights. He had successfully faced down Sulla and his Senate; he or his influence might restore the traditional plebian rights and privileges lost under Sulla's dictatorship. So Pompey was allowed to bypass another ancient Roman tradition; at only 39 years of age and while not even a senator, he was elected Consul by an overwhelming majority vote, and served in 70 BC with Crassus as partner. Pompey's meteoric rise to the consulship was unprecedented; his tactics offended the traditionalist nobility whose values he claimed to share and defend. He had left them no option but to allow his consulship.
Perante isto, é deveras lamentável que o nome Pompeu não seja também wildly popular no nosso país, mas estamos a cuidar disso, e não duvidamos que em breve passará a ser um nome muito requisitado. Devido à grande míngua de Pompeus em Portugal, tivemos muita dificuldade em localizar Pompeus ilustres, mas alguns existem, felizmente. O mais notável Pompeu dos nossos tempos é o Pompeu dos Frangos, em Oliveira do Bairro, o qual, aliás, registou o domínio www.pompeu.pt. Quem sabe se os pais do gaiato não quererão entabular desde já negociações com vista à aquisição do domínio, para oferecer ao gaiato juntamente com o seu primeiro iPad, talvez já para o ano que vem, no primeiro aniversário. Segundo o site, “o Pompeu dos Frangos é o pioneiro em Portugal do franguinho de churrasco”, feito notabilíssimo, que ombreia com a gloriosa campanha de Pompeu Magno na península ibérica, e que prenuncia para o gaiato uma brilhante carreira no mundo dos grelhados, nisso seguindo as experientes pisadas do seu avô materno, ainda que no setor não profissional.
Em segundo lugar, logo a seguir ao Pompeu dos Frangos, temos Pompeu Ferreira da Silva, fundador da atual Antiga Casa Pompeu, http://www.antigacasapompeu.pt
Finalmente, Pompeu tem uma relação interessante a família do gaiato, pelo lado da avó materna, através do tio Fernando Pessoa, que, como sabemos, escreveu assim, no poema “Navegar é preciso”:
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Ora quem inventou a frase “navegar é preciso” não foi outro senão Pompeu Magno, que a usou na esplêndida exclamação latina “navigare necesse est, vivere non est necesse!”, para ordenar aos seus marinheiros, amedrontados no meio de uma terrível tempestade, que rumassem do norte de África em direção a Roma.
Portanto, o nosso Pompeu tem com que se inspirar: se não for com os feitos guerreiros do seu Magno homónimo, será com as belas palavras de que o tio Fernando Pessoa fez mote.
Beijinhos
Meu vo e italiano ele diz que sua familia tem descendente de Magno Pompeu, mas sei la se e so uma historia...
ResponderEliminarOla, me chamo Andre Luiz Pompeu e moro na região do Vale do Paraiba SP. Sou filho de Helio Jose Pompeu e neto de João Alves Pompeu que, segundo seus relatos, nossos antepassados tem origem na região do Nordeste do Brasil.
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