Quetzalcóatl
Aqueles de nós mais viajados reconhecerão instantaneamente das suas peregrinações mexicanas este belíssimo e melodioso nome, nitidamente formado por dois elementos provenientes da bonita língua náhuatl: quetzal e coátl. A palavra quetzal significa “pena” (como em “pena” de ave) e a palavra “cóatl” siginifica serpente. Logo “quetzalcóatl” é a serpente plumada:
Na verdade, Quetzalcóatl é o nome de um poderoso deus asteca: deus do vento, do nascer do sol, dos mercadores, dos artistas e, sobretudo, do conhecimento. Logo, com este nome, o gaiato está no bom caminho. É verdade, que sendo um nome pagão, o padre que o batizará pode torcer o nariz, ao que os pais replicarão que a tradição de nomes pagãos já há muito corre na família: veja-se o caso da tia Di.
O único inconveniente do nome é, reconheçamo-lo, o acento no ‘o’, para assinalar a sílaba tónica. Aliás, a pronúncia correta do nome é assunto de aceso debate e há até quem defenda que é impossível pronunciar. Os mais puristas quererão dizê-lo como os astecas, o que parece difícil, porque a língua náhuatl tem sons estranhos para nós, mas, no fim de contas, pronuncia-se como se escreve, tal como podemos confirmar em http://www.forvo.com/word/
Tratando-se um nome polissilábico, vem equipado com um bem ternurento diminutivo, Kétzi, que soa ainda melhor se dito repetidamente: kétzi-kétzi-kétzi. A mãe, as avós e as tias hão de querer tratá-lo assim, o que poderá tornar-se enjoativo, é verdade, mas confiamos que o pai, quando não tiver tempo para o chamar com as letras todas, recorrerá ao mais sintético mas muito efetivo “Ké”, que, por sinal, rima com “Zé”, nome do avô paterno.
Se o nome não for aceite pacificamente pelas autoridades luxemburguesas, com a desculpa esfarrapada que não é um nome tipicamente luxemburguês, os pais deverão invocar o importante ramo mexicano da família, o do tio-tataravô Vicente Guerrero, bravo lutador independentista e segundo presidente do México (ainda que só por alguns meses), filho de Pedro Guerrero e de Maria Guadalupe Saldanha, cujo nome de família foi usado para batizar um dos estados dos Estados Unidos Mexicanos, precisamente o estado de Guerrero, onde aliás Vicente Guerrero nasceu e onde se situa um dos mais requisitados destinos turísticos da zona, a bonita cidade de Acapulco. Logo, se o tio-tataravô é mexicano, torna-se legítimo utilizar para o gaiato um nome na mais pura tradição asteca.
O nome Quetzalcóatl, ainda que estranho, é muito bem estruturado. O primeiro elemento é quetzal, que, como vimos, significa pena na antiga língua náhuatl, mas também é o nome de um interessante pássaro da América Central:
O quetzal tem entre outras particularidades a de morrer se for aprisionado. Por isso, é com muita justeza considerado um símbolo da liberdade. O gaiato não se há de esquecer disso nunca, para mais trazendo o quetzal no seu nome.
O segundo elemento do quetzalcóatl é cóatl, que significa serpente, como vimos, mas que também encontramos em xocoatl. Ora xocoatl era a bebida dos astecas que os espanhóis trouxeram para a Europa e que acabou por evoluir para aquilo que hoje chamamos chocolate. Se não podemos viver sem liberdade, também é verdade que viver sem chocolate fica deveras desagradável. O gaiato há-de apreciar isso e talvez adote como divisa: “liberdade e chocolate”.
No entanto, não devemos induzi-lo em erro: o coatl de xocoatl não é o cóatl de quetzalcóatl. Com efeito, os elementos de xocoatl são xoco e atl e não xo e cóatl. Ora xoco significa amargo e atl significa água. Logo, paradoxalmente, chocolate para os astecas era uma água amarga. É verdade: originalmente o chocolate era uma espécie de droga, que devia saber bastante mal, e foram os europeus que tiveram a bela ideia de lhe juntar açúcar e leite, assim criando essa maravilha culinária.
O quetzal é também a moeda da Guatemala. Isso faz de Quetzalcóatl um membro do seleto clube dos nomes próprios também associados a nomes de moedas, como as extintas franco e marco. Quem sabe se isso não prenuncia que o rapaz há de fazer fortuna, talvez no negócio dos chocolates. Não nos espantaria se tal acontecesse, pois o pai também fez uma brilhante carreira no mundo dos lacticínios antes de enveredar pelas telecomunicações móveis.
Em Portugal, Quetzal é também nome de vinho, o vinho produzido na Quinta do Quetzal, concelho da Vidigueira. Nunca bebi, mas tenho a certeza de que é muito bom, e espero beber muitas vezes, mas sempre com moderação, à saúde do nosso Quetzalcóatl.
Finalmente, temos o quetzalcoatlus, um dos mais temíveis pterossauros, com a sua espantosa envergadura que chegava a mais de 10 metros:
O quetzalcoatlus é um dos maiores animais voadores de todos os tempos. Que pena estar extinto! Conhecendo nós a atração que os miúdos têm pelos animais jurássicos e cretácicos, é óbvio que o nosso gaiato adorará ter nome de dinossauro. Porquê negar-lhe esse pequeno orgulho e esse grande prazer?
Beijinhos
Chumbado! Devia haver regras que proibissem a proposta de nomes tão...tão.. nem sei que diga! Sorte a do gaiato que tem uma Mãe e um Pai mais bondosos que o Avô, que esse parece desejar o mal do gaiato ao sugerir este nome tão horrendo!
ResponderEliminarVenha o próximo!
concordo que o nome é horrendo... mas é o que eu digo.. depois de ler estas coisas (que sabe-se lá de onde o Avô P. tira a inspiração para escrever) até tem uma certa piada!! e acrescento: para os sobrinhos dos outros, não para o meu! ;P
ResponderEliminarViva a liberdade e o chocolate! e os nomes pagãos! e o nosso tio-tataravô Vicente Guerrero!!