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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nome do dia: Raimundo

Nome do dia

Raimundo

Este é um nome de que toda a gente gosta. Há até uma famosa série televisiva chamada precisamente “Everybody loves Raymond”.

Não admira que gostem. Raimundo é um nome com uma sonoridade única, muito agradável e com muita personalidade. O áspero e forte ‘r’ inicial é imediatamente contrabalançado por um alegre e prazenteiro “ai”, ao qual se segue, num registo diametralmente oposto, um introspetivo “mun”, tudo terminando decrescentemente pelo suave, breve e quase sussurado “do”. Reparem que é uma palavra que requer uma grande ginástica facial, pois para dizer “rai” é preciso abrir bem a boca (já para não falar do gutural ‘r’, que muito exige da garganta) e para dizer “mun” é preciso fechá-la rapidamente, projetanto os lábios para a frente. Isto é um belo exercício vocal e o gaiato, ao aprender a dizer o seu nome, estará ao mesmo tempo a treinar-se para começar a articular palavras corretamente mais cedo do que os seu colegas de berçário.

O nome Raimundo é talvez o mais representativo da família dos nomes anglo-saxões terminados em “mundo”, da qual fazem parte outros interessantes nomes, como Edmundo, Segismundo, Faramundo, Osmundo, Blimundo (este agora muito popular na sua versão feminina, Blimunda, graças ao Memorial do Convento). O elemento “mundo” corresponde ao alto alemão “mund”, que significa “mão”, “ajuda” ou “proteção”. Portanto, todos aqueles nomes exprimem a ideia de proteção, o que é muito bonito. No nosso caso, Raimundo provém de Raginmund, onde o primeiro elemento “ragin”, tipicamente teutónico, significa “conselho” ou “justiça”, exprimindo também a ideia de sabedoria (a sabedoria que permite dar conselhos justos). Logo Raimundo é a mão da justiça ou a proteção da justiça, ou ainda aquele que protege a justiça. Qualquer um destes significados assenta como um luva ao nosso gaiato, que há de ser um homem justo e sábio e que saberá defender os mais desprotegidos.

Já agora, Edmundo é aquele que protege a riqueza, Segismundo, o que protege a vitória, Faramundo, o que protege a viagem (ou os viajantes), Blimundo, o que protege a felicidade. Quanto a Osmundo, parece querer transmitir a ideia de proteção divina. A propósito de Blimundo/Blimunda, não deixa de ser curioso, e muito significativo, que estes nomes de altíssimo valor literário nem sequer figurem na lista oficial dos vocábulos admitidos como nomes próprios, como aliás não figuram Faramundo, Osmundo e nem sequer o moderadamente popular Edmundo.

Paradoxalmente, mas em linha com os restantes nomes da mesma extirpe, o nome Raimundo é pouco usado em Portugal. No entanto, é popularíssimo em países mais próximos de nós como por exemplo em França, na forma Raymond, e nos Estados Unidos, onde o mesmo Raymond juntamente com as suas variantes ocupa a posição 36 na lista dos nomes masculinos mais populares. Em espanhol é o famoso Ramón, que nós confundimos ao pronunciar com jámon, mas é claro que são coisas diferentes…

Aliás, por influência da versão castelhana, o nosso Raimundo tornar-se-á fã da marcante banda de rock punk dos anos 70, 80 e 90, que tem o seu nome: os Ramones. Talvez o pai do gaiato não estivesse a par, mas perante esta pérola, vai envergonhar-se de não ter selecionado os Ramones para a banda sonora do dia 10 de setembro de 2011:http://www.youtube.com/watch?v=l4H9yZBjgSI.

A França é talvez o país dos Raimundos. Restringindo-nos ao século XX, temos dois famosos desportistas Raymond: o Poulidor e o Kopa (pronunciar Kopa com as duas vogais abertas). O Poulidor foi um ciclista famoso, dos anos 60 e 70, querido de todos os franceses, e não só, que ficou conhecido por “o eterno segundo”. De facto, ficou quatro vezes em segundo lugar na volta à França, que nunca conseguiu ganhar, e onde nunca vestiu a camisola amarela. É o ciclista que mais vezes subiu ao pódio no fim do Tour, juntamente com Lance Armstrong: oito vezes. Só que o Armstrong ganhou em sete dessas oito… Não obstante, o Poulidor é um símbolo. Lembro-me bem da angústia coletiva, a cada volta a França, para ver se era desta que o Poulidor ganhava. Nunca aconteceu. Faz jus à máxima “a tragédia de um homem não é perder: é quase ganhar.” Não ganhou a volta à França, mas ganhou muitas outras corridas, claro, e continua a ser uma referência, http://fr.wikipedia.org/wiki/Raymond_Poulidor.

Se em Portugal temos o Eusébio, o Figo e o Cristiano Ronaldo, em França (e os pais do gaiato, que moram lá perto podem confirmar) eles têm o Kopa, o Platini e o Zidane. O Kopa jogou primeiro do Stade de Reims, que, na altura, e estamos a falar dos anos 50, era a melhor equipa francesa, e depois, durante três épocas, no Real Madrid, equipa pela qual venceu três vezes a taça dos campeões europeus, em 1957, 1958 e 1959. No Real Madrid foi companheiro do Di Stéfano e do Puskas, duas outras lendas do futebol mundial. Kopa venceu também a taça latina em 1957,  pelo Real Madrid, frente ao Benfica, num jogo ainda hoje recordado com amargura pelos benfiquistas empedernidos. Foi também considerado um dos melhor jogadores do mundial de 1958, na Suécia, fazendo parte do All-Star team desse campeonato, http://en.wikipedia.org/wiki/FIFA_World_Cup_awards#All-Star_Team. Foi nesse mundial que se estreou, na seleção brasileira, um rapazito de 17 anos chamado Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido por Pelé.

No setor da relojoaria, e ali ao lado da França, na Suíça, temos o Raymond Weil, http://www.raymond-weil.com/. Esta circunstância facilita muito a tarefa de encontrar prendas para o gaiato: basta escolher um relógio Raymond Weil. Não são muitos os que podem gabar-se de ter no pulso um relógio com o seu nome. Para mim, que não me chamo Raimundo, pode ser este:

Do outro lado do Atlântico, também há muitos Raymonds. Um dos primeiros que eu conheci foi o Raymond Burr,http://en.wikipedia.org/wiki/Raymond_Burr, isto é, Perry Mason, http://en.wikipedia.org/wiki/Perry_Mason_(TV_series). Por pouco, eu próprio não fui para advogado, para ser como o Perry Mason e ter uma secretária como a Della Street. Quem nunca viu, pode recorrer à Amazon, começando pela primeira série, de 1957, http://www.amazon.com/Perry-Mason-Season-One-Vol/dp/B000F48D0Uu.


Ainda no mundo do crime, temos Raymond Chandler, escritor de livros policiais, criador do famoso detetive Philip Marlowe, imortalizado por Humphrey Bogart, não sem a ajuda da Lauren Bacall, no filme de 1946, “The Big Sleep”, ou, em português, “À beira do abismo. Watch the trailer: http://www.youtube.com/watch?v=VjJlBnfyiI4. Na verdade, nos primeiros tempos, Chandler foi um escritor de “pulp fiction”, um género de histórias publicadas em revistas baratas, que usavam papel de baixa qualidade (“pulp”, tal como na expressão “polpa de papel”, presumo), e inspirou-se precisamente nos livros de Earl Stanley Gardner, o autor das histórias do Perry Mason. A primeira obra profissional do Chandler foi publicada no Black Mask, uma revista “pulp”:




Recordemos, até para fazer a ligação para o próximo Raimundo, o célebre adágio de Philip Marlowe, que tinha queda para filosofar, certamente proferido num momento de desânimo após algum desaire amoroso, mas que não pode ser tomado à letra: “a woman will lie about anything, just to stay in practice”. Percebe-se a ideia, mas felizmente nem todas as mulheres são assim, como o nosso gaiato comprovará, em devido tempo.

Continuando no mundo do cinema, temos o conhecido ator Ray Liotta, de seu nome completo Raymond Allen Liotta, que é da família da Amelinha, pelo menos conhecido lado do pai, e que no divertido filme “Selvagem e Perigosa”, compõe o personagem Ray Sinclair (presumivelmente também Raimundo, portanto), psicopata, ex-marido da Melanie Griffith, que torna deveras infernal a aventura do pobre Jeff Daniels. Watch the trailer: http://www.imdb.com/video/screenplay/vi2091162905/. Mesmo assim, esperamos que o nosso Raimundo, quando chegar à altura de arranjar namorada, arranje uma a quem se possa aplicar a famosa tirada deste seu homónimo ator e personagem, neste caso dirigindo-se ao Jeff Daniels, que no filme era o Charlie, a propósito, bem entendido, da personagem da Melanie Griffith: “Charlie, you gotta fight for a woman like this.” E note-se que no filme a personagem da Melanie Griffith é um caso em que o adágio do Marlowe se aplica na perfeição.

Regressando ao rock, encontramos Raymond Daniel Manzarek, que usou o nome artístico Ray Manzarek, e que foi o teclista dos Doors, http://en.wikipedia.org/wiki/Ray_Manzarek. Uma das canções mais icónicas dos Doors, Light my fire, tem uma entrada memorável de órgão eletrónico pelo Ray Manzarek, que todos reconhecemos instantaneamente, mesmo os que ainda não eram nascidos nessa época fascinante de que os Doors são um elemento essencial: http://www.youtube.com/watch?v=iGQwAA3I-eQ.

No campo ficcional, existe um importante Raimundo na literatura de língua portuguesa e, mais do que isso, na telenovelística lusófona. Trata-se de Raimundo Falcão, mais conhecido por Mundinho Falcão, personagem central no romance de Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela, e da correspondente novela Gabriela, http://www.youtube.com/watch?v=FBvUILjCSSc.

Esta novela Gabriela foi produzida no Brasil em 1975 e passou em Portugal em 1977. Foi um tremendo sucesso entre nós, e ainda hoje os que a viram a recordam com saudade. Os quatro personagens principais eram a atrevida cabocla Gabriela, interpretada por Sónia Braga, http://www.youtube.com/watch?v=o5MkXHTRexw´, o retrógrado cacique local, coronel Ramiro Bastos, interpretado por Paulo Gracindo, o bem-disposto “seu” Nacib, proprietário do bar Vesúvio, parceiro da bela Gabriela, interpretado por Armando Bógus e o nosso Mundinho Falcão, empresário exportador cacau, símbolo do progresso (em oposição ao coronel Ramiro), interpretado por José Wilker. http://www.youtube.com/watch?v=qx6_cWMSUic.

Portanto, Mundinho é o símbolo do progresso numa sociedade meio acomodada. É gente assim que faz falta!

Quem não viu, pode esperar mais um pouco e ver a nova versão, certamente a cores e em HD, que a Globo está a preparar lá mais para o fim do ano. No papel de Gabriela teremos a Juliana Paes, que não fica a dever nada à Sónia Braga, http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI284010-9531,00.html.

Se estes Raimundos têm alguma importância nas nossas vidas, o Raimundo mais importante mesmo é de uma outra época, mas também veio de França, como o Poulidor e o Kopa: é Raimundo de Borgonha, tio de D. Afonso Henriques, a quem devemos, ainda que indiretamente, a nossa identidade nacional.




Raimundo de Borgonha nasceu em 1059 e era filho de Guilherme I, conde da Borgonha. Dois dos seus irmãos, Reinaldo (Renaud) e Estêvão (Etienne), foram condes de Borgonha, sucedendo o primeiro ao pai e o segundo ao primeiro. Morreram ambos nas cruzadas. O terceiro irmão, Gui, foi papa entre 1119 e 1124, com o nome de Calixto II. Gente fina, portanto. Raimundo, rapaz mais sensato, em vez de ir para as cruzadas, veio para península ibérica, mas também para combater infiéis, acompanhando o duque da Borgonha, Odo I, que em 1086 veio ajudar na reconquista. Atenção: não confundamos os duques e os condes. Há os duques da Borgonha e os condes da Borgonha. São todos da Borgonha, mas, segundo entendi, os condes prestavam vassalagem aos duques. Faz sentido, portanto que Raimundo acompanhasse Odo e não o contrário. Quatro anos mais tarde, em 1090, Raimundo regressa e traz o primo Henrique, irmão mais novo de Odo. Nessa altura, Raimundo tinha 31 anos e Henrique 21. Apesar de Henrique ser filho do herdeiro do ducado (herdeiro esse que morreu antes de herdar), era um dos filhos mais novos e não tinha hipóteses de fazer carreira na Borgonha. Assim se compreende (digo eu…) que tenha vindo com o primo mais experiente, tentar a sorte por estes lados, certamente bem mais aprazíveis do que a hostil Palestina, que, não obstante, estava muito na moda naqueles recuados tempos.

Pouco depois de chegar, Raimundo casa com a filha do rei Afonso VI, de Castela e Leão. É sinal de que se deve ter portado bem, durante a primeira visita, quatro anos antes. Em 1093, é a vez de Henrique se casar, agora com a filha bastarda do rei Afonso VI, Teresa, que na altura tinha só 13 anos, enquanto Henrique ia nos 24. Aparentemente, o rei estaria muito grato a Henrique, pelos seus bons serviços contra os mouros. O resto da história já nós sabemos: Raimundo ficou com a Galiza, Henrique com Portucale, o filho do primeiro, Afonso Raimundes, tornou-se o rei Afonso VII de Castela e Leão, o filho do segundo, Afonso Henriques, chateou-se com a mãe, guerreou com o primo Raimundes (todos nos recordamos daquela cena em 1127, com Egas Moniz, aio de Afonso Henriques a convencer Afonso VII de que não era nada e que Afonso Henriques lhe continuaria leal) e transformou o condado de Portucale no reino de Portugal. Fast-forward até 2012, 901 anos após o nascimento de Afonso Henrique e aqui estamos nós, sempre em crise. Note-se que Afonso Raimundes e Afonso Henriques eram primos muito próximos, pois as mães eram meias-irmãs e os pais eram primos. Raimundes nasceu em 1104 e Henriques em 1111. Portanto, na cena do Egas Moniz com a corda ao pescoço, o rei de Castela e Leão tinha 23 anos e o seu primo mal comportado tinha 17. Tudo coisas de miúdos, portanto. Não admira que tenha dado no que deu. Não admira que o Afonso Henriques fosse um revoltado: o tio era mais influente do que o pai; a tia era uma celebridade mais importante do que a mãe, o primo mais velho era rei e sobrinho de um papa: como é que Afonso Henriques se havia de contentar apenas com um condadozito? Para uma cronologia dos acontecimentos, veja-se http://www.portugal-info.com/historia/segundo-condado.htm.

Raimundo: um nome fantástico, que explica tudo!

1 comentário:

  1. Filipa Cabral de Melo24 de maio de 2012 às 00:51

    so agora vi o post do Raimundo... e da familia da Amelinha! So o Pedrocas para fazer esta associação! muito bom

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