Nome do dia
Sebastião
Trata-se de um nome muito distinto, facilmente reconhecível: Sebastião em português, Sébastien em francês, Sebastián em espanhol, Sebastian em inglês. O inconveniente que representa o til no ditongo nasal é minorado pela presença dos acentos em francês e em espanhol. Quer dizer, podemos considerar que a existência de sinais diacríticos neste belo nome é uma tendência internacional, e que a versão portuguesa se limita a seguir essa tendência.
Sentimos imediatamente que é um nome que impõe respeito. Não admira, pois provém do grego “sevastos”, que significa precisamente “respeitável”, “venerando”, “ilustre”. Não é isto que nós desejamos para o gaiato?
Explicam-me os peritos gregos que geralmente consulto a propósito destas difíceis matérias que a palavra “sevastos” deriva do grego antigo “sevas”, que significa respeito, honra, e a terminação “atos” que exprime a ideia de “digno de”. Encontramos a mesma construção no nome da bela cidade ucraniana de Sebastopol, que corresponde o grego “sevasti polis”, significando “cidade honrada”.
O mais universalmente ilustre dos Sebastiões (até o gaiato crescer e disputar o lugar, é claro) é o João Sebastião Ribeiro, mais conhecido pelo seu nome em alemão, Johann Sebastian Bach, um dos maiores compositores de todos os tempos.
Uma das suas obras mais icónicas é a Tocata e Fuga em ré menor para órgão: http://www.youtube.com/watch?
A presença de Bach na vida familiar do gaiato há de ser uma constante, e não só depois de mamar ou para o pôr a dormir. Quando a mãe quiser chamar para a mesa pai e filho, entretidos a ver um jogo do Sporting na SIC internacional, gritará: “João, Sebastião!”, assim trazendo à colação também o compositor.
No mundo musical, existe um outro João Sebastião relativamente famoso, se bem que eu suspeite que os pais do gaiato não o conheçam: estou a referir-me a John Sebastian o líder dos Lovin’ Spoonful, uma influente banda americana dos anos 60. Lembro-me dos Lovin’ Spoonful especialmente através do seu maior êxito, Summer in the City, uma canção rock fantástica. Oiçam: http://www.youtube.com/watch?
Em Portugal, o mais ilustre Sebastião é o Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. O Marquês de Pombal foi o primeiro-ministro do rei D. José, desde 1750 até 1777, ano em que o rei morreu. A sua herança mais evidente para quem é de Lisboa, como os pais do gaiato, é a obra de reconstrução da cidade após o terramoto de 1755. Foi provavelmente ele que aprovou o projeto do prédio onde hoje mora a tia Di, e talvez devamos censurar-lhe ter-se esquecido de prever espaço para pelo menos um elevador. Descontando esse pequeno lapso, o Marquês de Pombal modernizou, com mão de ferro, Portugal, e também o Brasil. Em Portugal, além da reconstrução de Lisboa, instituiu a região demarcada dos vinhos do porto, aboliu a escravatura, reorganizou o exército e a marinha, reestruturou a Universidade de Coimbra, acabou com a discriminação dos cristãos-novos, fundou no Algarve Vila Real de Santo António, diminuiu o poder da Igreja, subordinando ao estado o tribunal do santo ofício, assim efetivamente desmantelando a inquisição. De passagem, expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias (e com isso extinguiu a Universidade de Évora, que lhes pertencia) e limpou o sebo aos Távoras, acusados de um atentado contra a vida do rei.
Eis o famoso quadro que representa o Marquês de Pombal a fazer aquilo de que mais gostava: expulsar os jesuítas:
Quase duzentos anos antes de Carvalho e Melo, outro Sebastião ilustre quase deu cabo do país: o rei D. Sebastião, que em 1578 embarcou para o norte de África levando no seu exército a nata da nobreza portuguesa, arrastando a nação para o desastre de Alcácer Quibir. Em Lagos, de onde partiu a armada portuguesa para a fatal expedição, encontramos a célebre estátua de D. Sebastião, da autoria de João Cutileiro, que tão bem retrata o desvario, a imprudência e a megalomania do rei.
Atualmente, o Sebastião mais popular em Portugal é o Sebastião dos Morangos com Açúcar, interpretado pelo jovem e promissor ator João Maria. Não, não se trata do pai do gaiato, que este anda ocupado a vender telemóveis no Luxemburgo, mas a coincidência é de assinalar, http://www.destak.pt/artigo/
Menos popular do que o anterior, mas mesmo assim muito estimado, tivemos Sebastião da Gama, um poeta menor, mas não um pequeno poeta, também professor, cuja obra se encontra ligada à serra da Arrábida. Fundou em 1948 a Liga para a Proteção da Natureza, a mais antiga organização nacional de defesa do ambiente, como reação à destruição da mata do solitário, na serra da Árrábida, em resultado do “progresso”. A mata sobreviveu, como se pode constatar por meio desta interessante reportagem da RTP:http://tv1.rtp.pt/noticias/
Dos poemas de Sebastião da Gama, selecionei o seguinte “pequeno poema”, que vem muito a propósito, e que sei o gaiato decorará logo que aprenda a falar, para recitar à sua mãe no dia da mãe, que por coincidência acontece este ano precisamente à entrada no oitavo mês.
Pequeno poema
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o sol escureceu,
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha mãe sorriu e agradeceu.
Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha mãe...
Sebastião da Gama é recordado especialmente em Setúbal, onde a Escola Industrial e Comercial em que o avô materno do gaiato se iniciou nas lides educativas vai para quase quarenta anos se chama agora Escola Secundária Sebastião da Gama,http://pf2000.essg.pt/. Aliás, curiosamente, o Liceu de Oeiras onde o mesmo andou durante os sete anos da praxe chama-se agora Escola Secundária Sebastião e Silva, http://www.esss.edu.pt/, neste caso em homenagem ao matemático José Sebastião e Silva,http://cvc.instituto-camoes.
Num capítulo completamente diferente temos São Sebastião. São Sebastião é um dos santos mártires mais “populares”, sem ser um santo popular (no sentido em que o são os seus colegas António, João e Pedro), venerado por católicos e ortodoxos. Ele terá sido vítima das perseguições que o imperador Diocleciano fazia aos cristãos. Aparece frequentemente representado amarrado a um poste com várias flechas trespassando o corpo.
No entanto, é bom saber que essas flechas não lhe causaram a morte. Ele foi salvo por uma senhora, Irene de Milão, mas depois voltou dizer mal do imperador e então é que foi espancado brutalmente, a mando do imperador, que presumivelmente se fartou da impertinência do santo (que na altura ainda não tinha esse estatuto, bem entendido) e foi em consequência disso que morreu.
Em Lisboa, temos a freguesia de São Sebastião da Pedreira, a freguesia mais importante do país, que, graças à Maternidade Alfredo da Gosta, a qual está instalada no território da freguesia, é a naturalidade de mais de quatrocentos mil portugueses, número aproximado. É só fazer as contas: nascem para cima de 5000 bebés por anos na maternidade; a maternidade foi fundada há 80 anos; estou a admitir o que o número de partos se manteve à volta de 5000 desde o início, o que não pude confirmar… A esses quatrocentos mil há que acrescentar mais alguns, a saber, os que nasceram no Hospital Particular, ali perto, na avenida Luís Bívar, entre os quais se conta a mãe do gaiato, que não há de deixar de aproveitar esta oportunidade para afirmar, também ela, a sua naturalidade, agora mais valiosa ainda, dado estar a viver noutro país. Isto é tanto mais importante quanto é verdade que atualmente a freguesia corre o risco de desaparecer, por causa da dinâmica causada pelo projeto de diminuição do número de freguesias, sendo aglutinada com outras numa nova freguesia de “Avenidas Novas”, o que, convenhamos, é um nome bem velho e muito menos evocativo que o do santo. Acresce que São Sebastião é o único santo homem com direito a estação de metro, em Lisboa, juntamente com Santa Apolónia, no setor feminino:
São Sebastião é estação terminal da linha vermelha, a qual passa nas Olaias e em breve chegará ao aeroporto, no outro extremo. Desta forma, o gaiato, logo que chegar no voo do Luxemburgo, apanhará o metro na linha para São Sebastião e em dez minutos estará em casa da avó materna, deliciando-se com a tarte de morangos que ela terá à sua espera.
Note-se que se São Sebastião é o único santo com direito a estação de metro, não é o único Sebastião com essa prerrogativa, pois o Marquês de Pombal também tem uma estação. Esta dupla circunstância metropolitana é um indicador seguro da importância de se chamar Sebastião.
Sebastião: um nome ilustre para um ilustre gaiato!
Beijinhos
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