novidades do miudo e da bebe

a pedido das famílias, aqui ficam as fotos e novidades do X-kid e baby Y

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Nomes ha muitos...

Viva o Avo P! chegamos ao fim do alfabeto J Agora, está  na altura de escolher!

A Avó  M. muito previdentemente, tem estado a recolher os nomes todos num rico ficheiro, para que não esquecessemos nenhum na altura de escolher – ora aqui fica a revisão:

(apesar desta ser a lista completa, para efeitos desta votação so considerámos os nomes do alfabeto (na primeira coluna)... os extras nao tem sumo suficiente para serem considerados)

Vamos entao rever as regras do nome para nos ajudar a chegar a shortlist:

1)  Nome internacional, facil de reconhecer e pronunciar (em particular por fracofonos, germanofonos, anglofonos, espanhois e chineses). Tambem e essencial que nao seja preciso mudar a grafia. Perdem-se aqui nomes com grande potencial como Anibal (que mudaria para Hannibal) ou Vicente (que muda para ViNcent)

2) Sem acentos! Abre-se a exceção  para os acentos que não fazem falta (como em Felix ou Jeronimo). Apesar da excelente argumentacão, nao se abre a excepcao para os tils, o que elimina alguns dos nomes mais populares como Zenão, Tristão e Sebastião.

3) Facil de aprender a escrever. Como em Cesar: um ce e um é – CE, um esse um á e um érre –ZAR, CESAR. Perdem-se aqui outros nomes bons de inspiração  estrangeira como Wagner ou Yannick.

Ha que realcar ainda o unico nome que falhou simultaneamente as tres regras, o grande favorito das familias: 
Quetzalcóatl.

Chegamos assim a uma shortlist de 10 nomes:

Dilan (mas com a grafia Dylan)

E isto! Agora enquanto assistimos ao Roland Garros, vamos deixar a democracia funcionar: 1 comentario=1 voto. Ganha o nome com mais votos,  e na segunda-feira anunciamos os resultados. Bale?

Vamos a isso!

Beijinhos e abracos,

Vera, Joao e ???

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Nome do dia: Zenão

Nome do dia

Zenão

Zenão é um nome de origem grega, que significa “dádiva de Zeus”. Zeus, como sabemos, é o rei dos deuses, o deus máximo no panteão grego. A palavra Zeus significa “tesouro de luz” ou “o que lança a luz”, tanto em sentido próprio de relâmpago e trovão como no sentido metafórico de luz = conhecimento. Ora em grego moderno, Zeus é chamado Dias, o que imediatamente remete para a mãe do gaiato, cujo penúltimo apelido de solteira é precisamente Dias. Temos de concluir que Zeus está presente na mãe do gaiato. Isso só pode ter acontecido por via do pai dela, também ele Dias, e também ele da família de Zeus, portanto. Acresce que a avó paterna da mãe se chamava Lúcia, nome que significa “luz”, e tinha de solteira o apelido Luz. Isso significa claramente que o pai da mãe, sendo filho da Lúcia era o “tesouro da luz”, ou seja, é uma reincarnação tardia de Zeus. Tudo isto é altamente premonitório e converge na mãe do gaiato. Por isso, o gaiato que ela agora vai dar à luz é uma dádiva indireta de Zeus. Logo, não há melhor nome para ele do que Zenão.


A anterior argumentação tem a concisão e a clareza dos silogismos que aprendemos com os filósofos gregos e é irrefutável.

End of story!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Nome do dia: Yannick

Nome do dia

Yannick

O nome Yannick é o diminutivo de Yann, e Yann é João em bretão. Calha bem, porque assim o gaiato terá o nome do pai, o segundo nome do avô materno, e também o nome do bisavô materno-materno, mas sem os inconvenientes da repetição literal do nome. Bem escolhido, portanto!

Convém saber que João provém do latim Iohannes, e que este nome latino provém por sua vez do nome hebraico Yochanan, que significa “Deus é generoso”. Na parte inicial do nome reconhecemos o elemento “Yo…”, cuja raiz deve ser a mesma de “Iavé”, o nome que nós pensamos que os judeus dão a Deus, mas a história é um pouco mais complicada do que isso,http://wiki.answers.com/Q/What_does_Yahweh_mean.

Como sabemos, João costumava ser um dos nomes mais populares em Portugal e no mundo ocidental em geral. No entanto, agora é bastante menos escolhido do que antes e por isso a opção por Yannick é duplamente feliz: não só recupera o nome, como o faz de forma sub-reptícia.

Quanto ao bretão, é uma língua céltica, falada na Bretanha. Atualmente, apenas cerca de 200000 pessoas falam bretão, e a maior parte são pessoas de idade. Parece que já não há ninguém que só fale bretão, quando em 1950 havia 100000 pessoas assim. Por isso, o bretão é uma língua em perigo de extinção, http://en.wikipedia.org/wiki/Breton_language, o que é muito triste. Deste modo, a escolha de Yannick representa uma homenagem à Europa na sua rica diversidade, em que, lá por falarmos línguas diferentes, não deixamos de nos entender e de partilhar tantos valores comuns.

O primeiro Yannick que eu conheci, pela televisão, bem entendido, foi o Yannick Noah, famoso tenista francês,http://en.wikipedia.org/wiki/Yannick_Noah. O segundo foi o Yannick Djaló. http://pt.wikipedia.org/wiki/Yannick_Djal%C3%B3. Ambos os Yannicks são homens e desportistas de muitas qualidades, e o nosso Yannick tem com quem se inspirar.

É verdade que o Djaló cometeu o pecado de trocar o Sporting pelo Benfica, algo que o pai do gaiato certamente não apreciou. Mas a vida é assim, e no passado houve bons jogadores que fizeram a mudança em sentido contrário: estou a lembrar-me do João Pinto e do Paulo Sousa. Portanto, “no hard feelings…”

O Djaló, além de ser muito bom futebolista (tinha sido vendido pelo Sporting ao Nice por 6 milhões de euros, mas o contrato não se consumou, devido a problemas burocráticos), é colega do pai do gaiato, na ilustre ocupação de ser “pai de gaiato”. Na verdade, o Djaló tem duas gaiatas da Luciana Abreu, http://lucianaabreu.org/, e mais um de uma anterior relação (como agora se diz…). Para os três selecionou nomes muito criativos: Lyonce e Lyani para as gaiatas e Christian para o gaiato. O pai e a mãe no nosso Yannick seguem as pisadas do Djaló e da Luciana ao escolher nomes exemplarmente pouco usuais mas muito evocativos. Veremos se continuam à altura daqueles dois colegas, nas próximas ocasiões.

Yannick, ya!

Beijinhos

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Nome do dia: Xavier

Nome do dia

Xavier

Ao contrário de maior parte dos outros nomes próprios, Xavier não tem significado autónomo. É meramente o nome de uma pequena localidade espanhola, na província de Navarra. A vila de Xavier é famosa sobretudo por ter sido o local onde em 1506 nasceu Francisco de Jasso y Azpilicueta, que em 1541 havia de ser enviado pelo nosso rei D. João III, o Piedoso, para o oriente, com a missão de espalhar a fé cristã pelos territórios que os portugueses haviam descoberto. O jovem Francisco de Jasso y Azpilicueta revolou logo uma grande dose de sensatez ao optar por ser conhecido mais simplesmente por Francisco de Xavier.

É público e notório que Francisco de Xavier teve grande êxito na sua missão, pois a Igreja Católica canonizou-o em 1662, com o nome hagiográfico de São Francisco Xavier, e considera-o “o apóstolo do oriente”. A Igreja estima ser ele o número 2 no ranking dos santos que mais conversões conseguiram, em todos os tempos, apenas suplantado por São Paulo, mas este tinha a vantagem de falar a língua dos nativos, coisa que não acontecia com Azpilicueta.


Em espanhol o nome da povoação que em português chamamos Xavier é Javier e em basco é Xabier. Etimologicamente, a palavra provém da expressão basca etxe berri significa casa nova, etxe = casa, berri = nova. Não parece haver relação entre este significado e a atual Xavier, isto é, não consta que lá exista alguma casa nova digna de referência. O que há é um castelo, o castelo de Xavier:



Que gaiato não gosta de ter um castelo com o seu nome?

Xavier só começou a ser usado como nome próprio em meados do século XVIII, algum tempo depois da canonização, portanto. Desde então, espalhou-se pelos países católicos, e é muito popular em Espanha e na América de língua espanhola. É verdade que existem outros nomes parecidos com Xavier, mais antigos, mas não têm nada a ver e não devem ser confundidos. Um deles é o muçulmano Jafar, de origem hindu, que significa “riacho” (pequeno rio) ou “aquele que protege” (o que nós hoje chamaríamos “guarda-costas”), consoante as fontes.

O Jafar mais conhecido é o bruxo Jafar, antagonista de Aladino no filme da Walt Disney, http://www.imdb.com/title/tt0103639/, sempre maleficamente inventando novas trapaças para conseguir roubar a Aladino a lâmpada mágica, e através dela alcançar o poder em Agrabah, roubando o trono ao sultão, pai da princesa Jasmine, a qual é, por assim dizer, a namorada de Aladino. Jafar não é um personagem simpático, mas tem um certo encanto, por oposição ao bom-rapazismo do Aladino, e o nosso Xavier há de gostar muito das máscaras de bruxo que a mãe e as avós lhe hão de arranjar pelo carnaval e pelo halloween.


Outro nome parecido com Xavier é Severo, que é auto-explicativo. Este nome é bem mais antigo, e todos conhecemos o imperador Sétimo Severo, que governou Roma entre 193 e 211. Ainda hoje, quando vamos a Roma, lá vemos o arco do triunfo que os romanos construíram em sua honra, após as brilhantes vitórias militares na guerra contra os Partas.


Quando em Roma, convém não esquecer de seguir o conselho da nossa perita em assuntos romanos, a tia Kate, e ir comer uma piza ao Baffetto:


Portanto, o nosso Xavier, à míngua de ter um nome com significado próprio, pode optar por um destes alter-egos. Aliás, nesta senda, e atendendo à etimologia basca da palavra Xavier, encontramos Giacomo Girolamo Casanova, autor e aventureiro italiano do século XVIII. Casanova esteve várias vezes em Roma e, ao que consta, era cliente habitual do Baffetto (joke).




Se bem que Casanova seja geralmente avaliado em termos depreciativos, com fama de conquistador inveterado, a verdade é que é um personagem interessante, e não parece tão mau como geralmente o pintam. Aliás, nem sequer era muito gabarola: afirma ter tido 122 namoradas ao longo da sua vida. Atendendo a que começou cedo, com 11 anos, e que morreu com 73, isso dá menos de duas por ano, em média, resultado relativamente modesto para os padrões atuais. Basta pensar na Carrie (Andie MacDowell) do filme Quatro Casamentos e um Funeral, http://www.imdb.com/title/tt0109831/, que aos trinta e poucos anos já contabilizava 32 namorados, para grande estupefacção e engraçado embaraço de Charles (Hugh Grant).






Fora-da-lei, rebelde, espião, lendário, são os epítetos usados para caracterizar o Giacomo Girolamo no filme Casanova, de 2005,http://www.imdb.com/title/tt0402894/, com Heath Ledger, o malogrado jovem ator australiano, no papel do protagonista,http://pt.wikipedia.org/wiki/Heath_LedgerWatch the trailerhttp://www.youtube.com/watch?v=Hzs_uDZUYzY. Não vi o filme, mas pelo trailer, o Giacomo parece realmente um tipo bastante simpático e percebe-se que as miúdas gostem dele.

Ainda neste agradável setor das relações com o sexo oposto, se o Giacomo era o super-galã do século XVIII, esse título pertence, nestes anos iniciais do século XXI, a um outro Casanova, na circunstância a um Xavier, o Bardem. Basta recordá-lo no filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, onde o pobre, no papel do atrapalhadíssimo Juan António, não sabe para onde se há de virar: se para a Vicky (Rebecca Hall), se para a Cristina (Scarlett Johansson), se para a Maria Elena (Penélope Cruz). Tal como ao Sérgio Godinho,“vem-nos à memória aquela frase batida” da mãe do gaiato, que, temos a certeza, o Juan António terá repetido a si próprio muitas vezes: “a minha vida é um sacrifício!”. Watch the trailerhttp://www.youtube.com/watch?v=39PuFOTjtk8.


Curiosamente, encontramos no concelho de Tavira, onde os pais do gaiato deram o auspicioso nó, uma simpática localidade chamada precisamente Casa Nova, que fica perto da também famosa Zorrinhos de Cima, ambas na freguesia de Cachopo. Portanto, para o nosso Xavier visitar Xavier não precisa de ir a Navarra, basta ir à serra do Caldeirão: sai de casa do avô em Faro para norte pela estrada nacional 2, até ao Ameixial. Aí vira para nascente pela nacional 504 em direção a Corte do Ouro e depois Cortes João Marques. Em Cortes João Marques continua para norte, sempre pela 504, e a uns cinco quilómetros mais à frente, can’t miss it, terá à sua frente Zorrinhos de Cima e à sua esquerda a sua terra, Casa Nova.




No regresso, o melhor é recuar até Cortes João Marques e aí virar à esquerda, para nascente, em direção a Mealha e depois a Cachopo. A meio caminho entre Mealha e Cachopo, verá uma pequena estrada do lado esquerdo. Se tiver tempo, valerá a pena ir por essa estrada até ao fim (são apenas uns dois quilómetros) onde encontrará o espetacular lugarejo Alcaria Pedro Guerreiro, terra de seu avô materno (not really…) Aliás dizer que Alcaria Pedro Guerreiro é um lugarejo é redundante, pois, como sabemos, a palavra alcaria, de óbvia origem árabe, significa precisamente “pequeno povoado”.



Retemperado pela visita às origens, o nosso gaiato voltará à estrada para Cachopo e daí seguirá para sul, pela nacional 397, sempre em frente até Tavira, e depois, pela 125 para Cabanas, claro, ainda a tempo de ir à praia dar um mergulho, antes do jantar que a mãe ou a avó com desvelo terão preparado.


Voltando ao nome Xavier, não espanta que, até agora, o Xavier mais famoso seja o santo. Em Lisboa há uma rua e uma freguesia com o seu nome, mas curiosamente a rua não fica na freguesia homónima, fica sim na rival freguesia de Santa Maria de Belém. Aliás, a rua São Francisco Xavier é paralela à rua Tristão de Cunha, que já encontramos anteriormente  e era nela que o avô materno e os seus amigos jogavam à bola, quando gaiatos. A baliza de cima ficava no enfiamento da rua 11 e a baliza de baixo no enfiamento da rua 7. Logo, a linha de meio-campo era no enfiamento da rua 9, agora chamada rua Álvaro Fernandes, precisamente a rua em que morava o avô. Era sempre melhor jogar a subir, porque se controlava melhor a bola, mas com atenção ao candeeiro perto da rua 9, que atrapalhava um pouco a estratégia atacante (se bem que nesse tempo esse conceito não fizesse parte do nosso léxico). Tínhamos de ter cuidado para não atirar a bola para o quintal do Zé Palmiro, porque a mãe dele, a Dona Palmira, não facilitava.




A freguesia de São Francisco Xavier é adjacente para norte à freguesia de Santa Maria de Belém. Recentemente esteve em destaque, precisamente pela inauguração da igreja de São Francisco Xavier, um templo moderno, com uma arquitetura muito arrojada:


Em matéria de igrejas relacionadas com São Francisco Xavier, temos de referir a velha basílica do Bom Jesus, em Goa, que os pais do gaiato certamente visitaram quando lá estiveram de férias e, quem sabe, lá decidiram dar ao seu primeiro rebento o formoso nome do santo cujas relíquias a basílica guarda.


Aliás,este será sem dúvida um nome escolhido consensualmente: o pai, sportinguista ferrenho, quererá com certeza secretamente homenagear Carlos Xavier, um ícone do seu clube, que fez quase toda a sua carreira de leão ao peito, tendo sido campeão na época de 1981-1982, precisamente a época que se seguiu ao nascimento do pai do gaiato, acontecimento que nisso deve ter tido alguma influência. A mãe, benfiquista moderada, não se oporá, porque associará Xavier a Abel Xavier, que jogou alguns anos no Benfica, e também na seleção, e que os portugueses nunca esquecerão, não por causa do seu penteado sui generis, mas por em desequilíbrio e involuntariamente ter posto mão à bola dentro da grande área durante o prolongamento da meia-final Portugal-França, no campeonato da Europa do ano 2000, com isso provocando um penalti que o Zidane não falhou, assim despachando imediatamente o jogo, por aplicação da regra da golo de ouro, em vigor na altura, tristemente arredando-nos da final, que todos já antecipávamos, até porque Portugal estava a jogar muito bem.

No período que mediou entre o santo e os dois futebolistas, o Xavier mais conhecido foi o Cugat, maestro espanhol-cubano, o rei da música latino-americana, que teve uma fabulosa carreira internacional, http://www.xaviercugat.com/. Durante vários anos, o Cugat foi o maestro residente da orquestra do hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, hotel onde os pais do gaiato costumam ficar quando visitam a grande metrópole norte-americana. É claro que os pais do gaiato não se cruzaram com o Cugat, mas suspeito que, sem saber, a ambiência do hotel tenha subliminarmente contribuído pela mútua afeição pelo nome do famoso maestro.

Oiçam só esta maravilha, a célebre canção Perfídia, na versão instrumental da orquestra do Cugat, http://www.youtube.com/watch?v=VtEXWP5JHEM. Tenho a certeza que, ao ouvir isto, o pai do gaiato imediatamente agarrará a mãe do mesmo, grávida e tudo, para dar imediatamente um pé de dança, no salão da sua mansão luxemburguesa. Mas não convém esquecer a letra, no belo idioma de Cervantes, que era afinal, também a língua do Xavier original, http://lyrics.wikia.com/Luis_Miguel:Perfidia . Eis um pequeno extrato, muito representativo:

Mujer,
Si puedes tu con Dios hablar,
Pregúntale si yo alguna vez
Te he dejado de adorar.

Y al mar,
Espejo de mi corazón,
Las veces que me ha visto llorar
La perfidia de tu amor...



E que tal o bem mais alegre Tico Tico? http://www.youtube.com/watch?v=sJcLUxKUOiQ. E o irresistível Mambo número 5,http://www.youtube.com/watch?v=-UIiYxXW32s.

Se bem que o nome Xavier, sem ter uma grande riqueza etimológica, seja um nome muito ilustre e com valorosos praticantes, a sua incontornável característica mais distinta é a inicial que ostenta, a letra xis, não só pela raridade de nomes próprios começados por esta formosa letra, como pelo seu incomparável significado cultural.




Este aqui acima é o X da Xerox, um dos xis mais icónicos do mundo.



Para nós, com formação matemática, a letra xis representa o desconhecido. Não o desconhecido absoluto, que nos amedronta, mas o desconhecido que nós queremos desvendar. Este metafórico significado provém de nós usarmos a letra xis para representar a incógnita nas equações. Por esta via, e generalizando, o xis representa aquilo que não sabemos e que, por aplicação da força do nosso raciocínio sistemático, conseguiremos descobrir. A escolha da letra xis para representar a incógnita é interessante: os matemáticos árabes usavam, não uma letra para isso, mas sim uma palavra que soa mais ou menos como “xei” e que significa “coisa” em árabe. Portanto, a incógnita era a “coisa”. Na adaptação dos compêndios árabes às línguas europeias (isto é, ao latim, suponho) em vez dos carateres árabes da tal palavra “coisa”, ter-se-á usado uma transcrição fonética, a qual depois, com o passar dos tempos, se foi reduzindo apenas à letra inicial, o xis.


Mais tarde, Leibniz, ao inventar a notação funcional f(x), deu ao xis uma outra dimensão. Se antes, o xis era a incógnita, agora o xis é também a variável que representa o argumento da função, isto é, que representa o objeto que é transformado pela função. Portanto, se a letra efe representa metaforicamente a mudança (já dizia Camões: todo o mundo é composto de mudança), a letra xis representa cada um de nós, que somos os agentes e os sujeitos dessa mudança permanente.

Note-se que a letra xis é a letra de mais difícil leitura em Português. Há que ter muito cuidado com isso. Na verdade, quem nunca tenha ouvido a palavra Xavier dita em português, mas conheça as regras da nossa língua, hesitará em pronunciar “chavier”, com o xis a valer “ch”, como em chave, ou “zavier”, com o xis a valer zê, como em exame, ou “kzavier”, com o xis a valer “cs”, como em tórax, ou “javier”, com o xis a valer “j, como em excesso, ou “savier”, com o xis a valer “s” ou “ce”, como em “próximo”. Este caráter misterioso do som do xis não deixa de ter uma conexão fascinante com a utilização do xis como incógnita em matemática.

Aliás, este mesmo caráter misterioso e fantástico do xis está presente no filme de animação X, http://www.imdb.com/title/tt0184041/, que conta a história de um rapazito, que se chama Kamui Shiro, mas que devia chamar-se Xavier, digo eu, que tem de decidir sobre o destino do mundo: ou se torna o dragão dos céus e salva a humanidade ou se torna o dragão da terra e destrói a civilização, para que o planeta possa recuperar de todos os estragos que a humanidade lhe causou. Watch the trailer:http://www.youtube.com/watch?v=MDJ2GYIoo1U.


Se o nosso gaiato vai certamente adorar ter um filme de animação com a sua inicial, vai delirar com ter um raio só para si, o raio X. De facto, o raio X foi identificado pelo cientista alemão Wilhelm Röntgen, o qual descreveu o raio num artigo científico publicado em 1895, com o titulo “Um novo tipo de raio: comunicação preliminar”. No texto, referia-se à radiação descoberta como X, para indicar que era um tipo novo, desconhecido, de radiação. O nome pegou, e ainda bem para o nosso Xavier. Refira-se que o primeiro prémio Nobel da Física, atribuído em 1901 foi para Röntgen, pela sua descoberta.


Todos esperamos que o nosso gaiato tenha uma infância muito feliz, com muita saúde, muita alegria e muitos brinquedos. Arrisco-me a adivinhar que o brinquedo preferido será a Xbox e não só porque tem não um mas dois xis:




Refira-se, a título de curiosidade, que o nome Xbox não era para ser. De facto, o nome pensado inicialmente era DirectX box, que fazia referência à tecnologia gráfica DirectX usada no produto. Durante o desenvolvimento, o nome DirectX box encolheu para Xbox. Os tipos do marketing da Microsoft não gostaram do nome (o pai do gaiato, perito no assunto, certamente fará um comentário a explicar porquê). Mesmo assim, deixaram o nome passar, juntamente com outras alternativas, mas só para provar que os consumidores nunca o escolheriam. Enganaram-se! Os estudos revelaram que este seria o nome preferido, de longe,http://en.wikipedia.org/wiki/Xbox_%28console%29.

Ainda no capítulo do lazer e da brincadeira, temos os X-Men, uma equipa de fantásticos super-heróis, de que o nosso X-Avier quererá fazer parte, dentro de pouco anos:


Sobre os X-Men, nada acrescento, por receio de que o gaiato muito em breve perceba que na verdade eu nem sequer sei quem são estes tipos.

Para além de todos os fatores relatados, que provam à saciedade que Xavier é um belo nome para um belo gaiato, o nome Xavier tem a grande vantagem suplementar ser um nome verbal: não só xavier poderia ser um verbo regular da segunda conjugação, como poderia ser uma forma verbal do verbo irregular xavir, derivado do verbo vir. O verbo xavir conjugar-se-á como o verbo vir: eu xavenho, tu xavéns, ele xavém, …; se eu xavier, se tu xavieres, se ele xavier, se nós xaviermos, se vós xavierdes, se eles xavierem. O verbo regular xavier também não é fácil: eu xavio, tu xavies, ele xavie, nós xaviemos, vós xavieis, eles xaviem; eu xavii (!!!), tu xavieste, ele xavieu, …; eu xavierei, tu xavierás, ele xavierá; etc. E no futuro do conjuntivo coincide com o verbo xavir, o que é deveras notável! Antecipo grandes tertúlias familiares, com todos dando palpites e ensinando o gaiato a conjugar o seu nome, e, por essa via, a conjugar toda a panóplia de verbos regulares e irregulares, o que mais tarde o gaiato há de agradecer, pois ter-lhe-á dado uma importante vantagem competitiva na escola primária, ainda que as línguas de instrução sejam o francês e o luxemburguês.

Resta discutir o significado do verbo xavier: parece-me que, atendendo ao significado etimológico, xavier só pode significar “ir morar para uma casa nova”. Portanto, quando os pais do gaiato se mudaram de Hanover para o Luxemburgo, poderiam sinteticamente ter anunciado: “vamos xavier para o Luxemburgo”. E não é que foram mesmo! ;-)




Por sinal, o Luxemburgo é o único país europeu que tem xis no nome, nalguma das suas línguas oficiais. Talvez os gaiatos com nome começado por xis tenham direito a subsídio.

Xavier, um nome com muitas histórias.

Beijinhos

sábado, 26 de maio de 2012

Nome do dia: Wagner

Nome do dia

Wagner

Wagner é um nome claramente germânico, alemão mesmo, que assenta como uma luva a um rapaz filho de emigrantes nascido no Luxemburgo. Wagner significa “carpinteiro de rodas”, profissão de ricos pergaminhos, com origem muito antiga, e à qual se deve em larguíssima medida o desenvolvimento da civilização. A roda é, sem dúvida, uma das mais importantes invenções tecnológicas e, não fora as gerações sucessivas de competentes carpinteiros de rodas, a humanidade certamente estaria bem mais atrasada do que está. É verdade que se trata de uma profissão hoje pouco praticada na sua forma original, mas podemos considerar que, por via da evolução que ela própria desencadeou e permitiu, os carpinteiros de rodas são os antecessores dos engenheiros mecânicos de hoje em dia. Assim sendo, só podemos augurar que o gaiato siga as pisadas do seu tio-avô Mané, e que, quem sabe, venha a ter uma carreira auspiciosa no ramo da indústria automóvel.



Significando, na origem, “carpinteiro de rodas”, Wagner é um espécime notável da respeitável classe dos nomes ocupacionais, isto é, nomes que representam profissões. Em português não há muitos, infelizmente. Além de Wagner, consegui identificar os seguintes: Jorge (que significa “lavrador”), Fabrício (“artesão” ou “operário”), Custódio (“guarda” ou, por extensão, “polícia”), Sérgio (“criado”). Conspicuamente ausentes desta lista de nomes ocupacionais estão nomes para as belas profissões de bombeiro, astronauta ou futebolista, que qualquer gaiato gostaria de ter, o que é uma pena e uma debilidade da nossa língua. Mesmo assim, sem preconceitos e recorrendo ao grego, nossa língua mãe para estas coisas, facilmente construímos belos nomes que outros pais poderão querer escolher para os seus rebentos: para bombeiro, Pirasfális (que defende do fogo); para astronauta, Astério (que vem das estrelas) e para futebolista, Filosfério (que gosta da bola).

Ao registarmos o gaiato no Luxemburgo estaremos a tornear a eventual resistência, ou mesmo intransigência, que provavelmente encontraríamos se tentássemos fazê-lo em Portugal, onde o conservador, se fosse conhecedor das regras do nosso belo idioma e também amante da cultura europeia, insistiria, com razão e algum fundamento, na grafia Vágner. De facto, a base IX do acordo ortográfico da língua portuguesa de 1990 (é de 1990, mas só estamos a aplicar agora) estabelece que as palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente, mas que recebem acento agudo “as palavras paroxítonas que apresentam na sílaba tónica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps (…): (…) açúcar, almíscar, cadáver, caráter, ímpar (…)” Por outro lado, é verdade que a base I do acordo, que trata do alfabeto, refere explicitamente primeiro que o alfabeto português contém 26 letras, abcdefghijklmnopqrstuvwxyz, as quais têm “uma forma minúscula e outra maiúscula”, acrescentando que “além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u)”. Esta mesma base ensina que o nome da letra w, que será inicial do nosso gaiato, se chama “dáblio”. Além disso, indica que as letras k, w e y se usam em casos especiais, um dos quais nos interessa particularmente: “em antropónimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista;” Há aqui um conflito linguístico interessante: o antropónimo Wagner, sendo originário de outra língua, pode escrever-se com W, tal como na língua de origem. No entanto, se é aceite como palavra portuguesa, devia aplicar-se a regra da base IX e colocar um acento no a, acento esse que não existe no original alemão. Mas então, digo eu, o melhor seria aportuguesar completamente, por via popular, e, transformar o W original em V, obtendo Vágner. Não o faremos aqui, pois convém-nos manter o caráter germânico do nome, para facilitar a vida ao gaiato, na escola luxemburguesa, cujos professores certamente seriam insensíveis às normas da ortografia portuguesa e constantemente lhe baralhariam o nome.

Desta forma, o nome Wagner/Vágner fica associado, não só a lista dos nomes ocupacionais, como já vimos, mas também à dos antropónimos paroxítonos terminados em “er”, onde se junta a Áser (que significa feliz, de origem hebraica), Deméter (que ama a terra ou que é um seguidor da Demetra, deusa grega da agricultura, colega da deusa Diana, esta com o pelouro da caça no panteão romano e madrinha virtual da tia do gaiato), Éder (que significa bando ou manada, sabe-se lá porquê, de origem hebraica), Élmer (de nobre fama, de origem anglo-saxónica), Guálter (poderoso guerreiro, que também ficaria muito bem ao nosso gaiato, de origem teutónica), Hélder (luminoso, de origem polaca), Jáder (significado desconhecido), Vérter (soldado valoroso, de origem germânica), entre outros.

Que a variante Vágner é a mais consensual e a mais avançada, provam-nos os nossos irmãos brasileiros, que são mais cuidadosos com a língua que os próprios portugueses. Temos, por exemplo, o famoso futebolista brasileiro Vágner Loveatualmente no Flamengo, mas que os sportinguistas bem conhecem, de quando ele jogava no CSKA de Moscovo e veio a Alvalade ganhar ao Sporting na final da taça UEFA, em 2005, onde marcou o terceiro golo da equipa russa, golo que arrumou com as esperanças do Sporting e de milhões de portugueses na altura, diga-se, http://terceiroanel.weblog.com.pt/arquivo/2005/05/18/sporting_1_3_cska_moscovo.html.

Mas é claro que não será neste Vágner que o nosso gaiato se reverá (nem o gaiato, nem, muito menos, o pai dele…), mas sim no compositor alemão, Richard Wagner e nas suas belíssimas e grandiosas óperas. Sendo um compositor clássico, duas das obras de Wagner fazem parte da cultura popular, à escala mundial: a cavalgada das valquírias e a marcha nupcial. A primeira tornou-se ainda mais conhecida pela utilização que de dela foi feita no filme Apocalipse Now, http://www.imdb.pt/title/tt0078788/, na espetacular e medonha cena do ataque dos helicópteros: http://www.youtube.com/watch?v=Gz3Cc7wlfkI. A marcha nupcial sempre foi conhecida, acho eu: http://www.youtube.com/watch?v=vFTnFErJEu4. Para algo diferente e verdadeiramente entusiasmante, temos, por exemplo, a abertura dos mestres cantores de Nuremberga: http://www.youtube.com/watch?v=dOb2XsqYawk.

Ainda no setor musical, se bem que noutro género, temos Wagner Tiso, o qual, sendo brasileiro, é Wagner e não Vágner. Ei-lo ao piano, com orquestra, tocando uma peça de António Carlos Jobim que todos conhecemos, mas cujo título não refiro, para dar ao pai do gaiato a oportunidade de se exprimir nesta ocasião: http://www.youtube.com/watch?v=wsnPtZPDufA. E, já agora, esta outra pérola da música brasileira, choro de mãe, que vem tão a propósito, ainda que desejemos que poucas vezes faça o gaiato a mãe chorar, bem entendido: http://www.youtube.com/watch?v=5J_EmtxgBSI.

Um outro Wagner de algum mérito é o ator americano Robert Wagnernão pelas suas qualidades no grande ecrã, mas porque a ele associamos a Natalie Wood, a miúda mais gira de todos os tempos ou, melhor, pelo menos de quando eu era novo. O Robert, que era um galã, casou-se com ela primeiro em 1957, divorciou-se em 1962, e voltou a casar em 1972, o que só mostra que parvo não era. A Natalie Wood infelizmente morreu ainda muito nova, em 1981, ano em que nasceu a mãe do gaiato. Portanto, perdeu-se uma miúda gira, ganhou-se outra. Recordemo-la no filme West Side Story, onde fazia o papel de Maria (numa óbvia referência à avó materna do gaiato), cantando I feel prettyhttp://www.youtube.com/watch?v=Ye7PIyIcCro.

Se houvesse dúvidas de que o gaiato deve ser Wagner, com W, elas dissipar-se-iam pela simples observação de que se o filho vem a seguir à mãe, então a letra do filho deve vir a seguir à letra da mãe, caso contrário ninguém se entende! Teremos V seguido de W, como deve ser, o que imediatamente nos remete para o emblema da famosa marca de automóveis, também alemã, a Volkswagen.


Isto bate tudo certo, pois sabemos que a mãe e o pai do gaiato muito namoraram no Volkswagen carocha do avô paterno, antes de se mudarem para a Renault.

Wagner? Warum nicht?

Beijinhos

segunda-feira, 21 de maio de 2012

33 semanas

Enquanto esperavamos pelo V da Vera (e do Vicente) chegamos as 33 semanas. Ai que isto esta a passar muito depressa... O update das 32 semanas foi live in Portugal, por ocasiao do batizado da minha rica sobrinha e afilhada Amelia! (As fotos ficaram da responsabilidade da Catarina Andreia, faxavor de enviar para publicacao!). As 33 semanas foram muito produtivas para o nesting, gracas ao feriado na quinta-feira e a uma visita ao Ikea no Sabado, e assim a pouco e pouco o 'ninho' vai ficando mais completo e pronto para a chegada do gaiato (e das visitas que o vao querer vir conhecer em breve!).

Primeiro - a foto da barriga, claro:


Como esta semana tambem teve direito a ecografia, ficamos a saber que o miudo continua sentadinho de cabeca para cima, e a crescer a olhos vistos (agora nos 2.1kg, +/- 300g). Cada vez se mexe mais, agora parece mesmo que tenho um alien na barriga com tanto pontape e espreguicadela. Continuamos com fe que ele ainda se vai virar de cabeca para baixo (so para chatear o medico!) e eu ca ate acho que ele anda a praticar umas cambalhotas, porque de vez em quando vai experimentar a outra metade da barriga (mas depois volta para o lado direito).

Depois, a foto do quarto das visitas que estivemos a arrumar e decorar na quinta-feira. Filipa e Amelia, podem vir, ja tem cama feita e quadros nas paredes e tudo!


Finalmente, o registo das actividades do fim-de-semana. O Joao a trabalhar no duro (que eu ja nao ajudo muito com estas montagens de moveis do ikea) a construir a nossa nova cabeceira de cama! A foto da cama para provar que ficou tudo montado, e podem reparar no tapete - que tambem e novo, mas vai ter de voltar para a Belgica porque decidimos que era demasiado pequeno. Em cima da nossa comoda ja temos o colchaozinho muda-fraldas (com resguardo novo do Ikea) e uma grande animacao floral que ja nao me lembro se tinhamos publicado. E compramos um cadeirao grande que ha de servir para por ao lado do berco, mas por enquanto fica muito bem na nossa sala.


Depois deste trabalho todo, o ultimo 'to-do' deste fim-de-semana e ir marcar mais um fim-de-semana de passeio para ir descansar e aproveitar o feriado que ai vem (28 Maio).

Beijinhos e abracos,

Vera

domingo, 20 de maio de 2012

Nome do dia: Vicente

Nome do dia

Vicente

Vicente é um nome que começa com ‘V’. É verdade que o ‘V’ era, até agora, o ‘V’ da Vera, mas temos a certeza de que a mãe do gaiato terá muito gosto, e até muito orgulho, em partilhar a sua inicial com o rebento. Aliás, na prática, em  breve, o ‘V’ terá de deixar de ser o ‘V’ da Vera, sob pena de causar uma grande confusão ao gaiato, pois a letra da mãe tem de ser o ‘M’, e não o ‘V’. Sendo assim, para que o ‘V’ inicial se mantenha da família, o melhor mesmo é passá-lo para o gaiato.

Vicente provém diretamente do latim Vincentius, que significa vencedor e que deriva do verbo “vincere”, que significa “vencer”. Recordemos, a propósito, a famosa frase de Júlio César, “veni, vidi, vici”, depois de ter despachado rapidamente as tropas do rei Farnaces, na batalha de Zela (no norte da atual Turquia), em 49 antes de Cristo. Aliás, um outro nome que provém do mesmo verbo “vincere” é Vítor que é o nome de um dos bisavôs do gaiato, uma feliz coincidência.

Vicente é um nome vitorioso, o que calha bem, e a sua inicial, a letra ‘V’, é também um dos símbolos da vitória, que associamos a Winston Churchill, no fim da guerra:


No entanto, ao fazer o sinal ‘V’ com os dedos, temos de ter cuidado, pois o sentido é diferente em algumas culturas, consoante a palma da mão é virada para a frente ou para trás, http://en.wikipedia.org/wiki/V_sign. Os pais devem ensinar quanto antes estas subtis distinções ao gaiato, que será detentor desta inicial tão propensa a ser representada digitalmente.

Quando, há 50 anos eu ia ao futebol no estádio do Restelo, precisamente com o bisavô Vítor, distinguiam-se na equipa do Belenenses três jogadores, o Matateu e o Vicente, e o guarda-redes, José Pereira. Matateu e Vicente eram irmãos. Matateu, de seu verdadeiro nome Sebastião Lucas da Fonseca, é a maior glória do futebol do Belenenses, http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Lucas_da_Fonseca, e foi o primeiro jogador africano que se distinguiu em Portugal, antes de Eusébio. Matateu era avançado e seu irmão Vicente jogava a médio ou a defesa. Vicente Lucas, http://en.wikipedia.org/wiki/Vicente_Lucas, foi também um grande jogador e, sendo mais novo, entrou na famosa e mítica equipa dos magriços, a seleção nacional que ficou em terceiro lugar no campeonato do mundo de 1966, em Inglaterra. Ficou célebre, nesse campeonato, o Portugal-Brasil, em que ganhámos por 3-1, com dois golos de Eusébio, http://www.youtube.com/watch?v=eCtbJrALp3c, e também o Portugal-Coreia, em que ganhámos por 5-3, depois de estarmos a perder por 3-0 ao fim de 25 minutos, www.dailymotion.com/video/x26cxd_portugal-5-coreia-do-norte-3-de-196_sport. Vicente alinhou nesses dois jogos.

É verdade que Vicente não aparece em destaque nos resumos desses dois jogos, o que se compreende, pois ele era defesa. Mas que foi um grande defesa, prova-o fazer parte do All-Star team do mundial de 1966, juntamente com Coluna e Eusébio,http://en.wikipedia.org/wiki/FIFA_World_Cup_awards#All-Star_Team. Essa distinção só voltou a ser atribuída a jogadores portugueses em 2006, no campeonato da Alemanha, neste caso a Ricardo, Ricardo Carvalho, Figo e Maniche. Tenho a certeza de que a tia Di ficará particularmente orgulhosa de ter um sobrinho e um gato batizados com nomes de jogadores de tão alta craveira.

Uns séculos antes de Vicente Lucas, um outro Vicente tinha-se distinguido no mundo do entretenimento, agora não desportivo, mas sim teatral: Gil Vicente, o “pai” do teatro português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente. Curiosamente, o principal clube da cidade de Barcelos, cidade onde terá nascido Gil Vicente, é o Gil Vicente Futebol Clube, e, deste modo, o pai do teatro português é também, indiretamente, um precursor do futebol português. O emblema do Gil Vicente ostenta o famoso galo de Barcelos, que acaba por ser um símbolo não-oficial da nossa nacionalidade e que é muito querido especialmente da nossa comunidade emigrada, da qual o gaiato fará parte, em posição de muito destaque, é claro.


Ainda mais antigo do que Gil Vicente, tão antigo que é mesmo anterior à nacionalidade, temos São Vicente. Este é um santo um tanto misterioso, pois, sendo oficialmente o santo padroeiro da cidade de Lisboa, foi um pouco relegado para segundo plano devido à grande popularidade do seu colega mais recente, Fernando Martins de Bulhões, que usou o nome profissional de Santo António, e que se distinguiu, entre outras coisas igualmente notáveis, pela sua propensão para casar a malta toda. Na verdade, o percurso de São Vicente é bem menos prazenteiro do que o de Santo António. Nasceu para os lados de Saragoça e foi vítima das perseguições aos cristãos realizadas a mando do imperador Diocleciano. Cristão ferrenho, não obedeceu às ordens imperiais que mandavam fazer sacrifícios aos deuses pagãos, acabou preso e foi martirizado até à morte em 304 ou 305, não sem antes ter conseguido a milagrosa conversão do seu carrasco. O seu corpo foi sepultado e depois, com o triunfo do cristianismo, foi transladado para uma basílica perto de Valência. De acordo com uma lenda, durante a ocupação muçulmana, o corpo (o que restaria dele, presumo) foi colocado num barco, deixado à deriva. Ora o barco foi dar ao Algarve, à ponta de Sagres, mais precisamente, e as relíquias foram guardadas nesse local, que passou a chamar-se cabo de São Vicente. Durante a reconquista, D. Afonso Henriques achou que seria boa ideia trazer as relíquias do santo para Lisboa, para com isso marcar a cristianização definitiva da cidade,http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/medievalista4/medievalista-picoito.htm. Segundo a tradição, durante a viagem, dois corvos acompanharam o barco que trazia as relíquias. São esses os corvos que aparecem no brasão da cidade de Lisboa:


Em resumo, temos em Portugal três importantes Vicentes: São Vicente, Gil Vicente e Vicente Lucas. Em breve teremos um quarto, tudo indica.

À escala planetária, e, atrevo-me a dizer, à escala do universo, o mais notável Vicente é o van Gogh, http://en.wikipedia.org/wiki/Vincent_van_Gogh. Não precisa de palavras, bastam os seus quadros: http://www.googleartproject.com/collection/van-gogh-museum/.

Um dos mais bonitos tributos a Vincent van Gogh é a canção “Vincent” de Don McLean: http://www.youtube.com/watch?v=Gi_P8XwrSCU. O primeiro verso, “Starry, starry night”, é logo uma referência ao quadro Noite Estrelada:


Este Don McLean, que pode ser desconhecido dos mais novos, não é um tipo qualquer: é um importante autor e cantor americano, sobretudo conhecido pela canção American Pie, uma das canções mais famosas e mais intrigantes do século XX, http://understandingamericanpie.com/mclean.htm. Os mais novos identificarão a expressão American Pie com as típicas tortas de maçã americanas e também com aquela série de filmes sobre a adolescência, http://en.wikipedia.org/wiki/American_Pie_%28film%29, no primeiro dos quais há uma famosa cena que envolve uma tarte de maçã, mas não saberão que o título do filme é tirado do título da canção do McLean, o qual, por sua vez, remete para a tarte como símbolo da quinta-essência da cultura americana. A canção American Pie está em quinto lugar na lista americana das “canções do século”, http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_songs_considered_the_best#American_culture_and_heritage.

Não confundamos a canção Vincent com o filme Vincent, www.imdb.com/title/tt0084868/. Este é pequeno filme do Tim Burton (o mesmo de Batman, Eduardo Mãos-de-Tesoura, entre muitos outros), em stop motion, que conta história de um rapazinho chamado Vincent Malloy que sonha ser como Vincent Price, http://www.youtube.com/watch?v=vDp6PXI_1u8. Sim, Vincent Price, o prestigiado ator americano, que faz narração do filme com a sua voz inconfundível, e que entrou definitivamente para a cultura popular com o fantástico voiceover do Thriller do Michael Jackson, http://www.youtube.com/watch?v=dgDSXlXkJv4, “can you dig it? ah ah ah ah”. Tenho a certeza de que nosso gaiato adorará o filmezito, o riso maléfico do Vincent Price e, sobretudo, o Michael Jackson, cantando e dançando o Thriller,http://www.youtube.com/watch?v=jQ_ExkfcBao. O pai e a mãe podem já começar a preparar as máscaras para o carnaval, inspiradas nestes simpáticos bailarinos. Para outras coisas de arrepiar, temos o The Raven, do Edgar Allen Poe, lido pelo Vincent  Price, www.youtube.com/watch?v=27ZvwQd-wXw, poema esse que já encontrámos anteriormente. Para referência, aqui estão o original em inglês, http://www.heise.de/ix/raven/Literature/Lore/TheRaven.html, e a notável tradução do tio Fernando Pessoa, http://www2.dem.ist.utl.pt/~jsantos/Literature/O_Corvo.html. Isto fecha o nosso círculo, de maneira completamente premonitória: o Vicente Price, lendo o Corvo, que é o pássaro de Lisboa e de São Vicente.

Vicente: um nome convincente. Can you dig it?

Beijinhos