Na tribo dos programadores, muitas vezes se
ouve dizer “para quê fazer simples, se podemos fazer complicado?” Isto não é
para levar à letra, antes representa o desespero por não termos visto logo a
solução simples para o problema e só a termos encontrado depois de muitas
voltas e reviravoltas complicadas e complicativas.
Na questão da escolha do nome da nova gaiata
ou do novo gaiato, temos um exemplo dessa clássica situação. A solução simples
está bem à nossa frente e nós não a enxergamos! Por isso, andamos às voltas com
soluções imaginativas, mas desnecessariamente complicadas.
Vejamos: o irmão mais velho chama-se como?
Xavier. Que outro nome faz Xavier lembrar, imediatamente? Francisco, claro.
Todos sabemos Xavier era inicialmente o nome da aldeia de onde vinha o tal Francisco
que havia de ficar conhecido por São Francisco Xavier. Portanto, o nome próprio
Xavier nem sequer existiria se não fosse pelo Francisco.
Francisco é um belo nome, em qualquer parte do
mundo. É o nome do papa atual, e certamente o papa atual escolheu o nome por
inspiração divina. Esta circunstância dá ao nome Francisco um selo de qualidade
admirável, a que não somos indiferentes e a que muito menos devemos desprezar.
Ainda no setor religioso, Francisco tem dois
santos altamente: o supracitado São Francisco Xavier e
o incontornável São
Francisco de Assis, fabulosa personalidade, para muitos a principal figura
do cristianismo, desde Jesus Cristo.
Curiosamente, o nome original do frade era
João Pedro Bernardão (em italiano Giovanni di Pietro di Bernardone), o que
calha bem, pois o pai do gaiato é João, e assim, sub-repticiamente, dá ao filho
o seu nome, e também o avô materno fica todo contente pois os seus dois nomes
próprios ficam representados cabalisticamente, ainda que por ordem inversa.
A etimologia do nome é simples: Francisco
significa … “francês”! No caso vertente, é o melhor que se pode arranjar, já
que não consegui localizar nenhum nome próprio cuja etimologia remeta para “luxemburguês”.
Fôssemos nós de extração brasileira, proporia Luxisco, mas receio que no
consulado não aceitassem.
Apesar do significado do nome, os Franciscos
mais famosos nem sequer vêm de França. Descontando os que são santos, em número
um aparece o Francisco Sinatra, mais conhecido pelo seu petit-nom americano, Frank. A sua marca na cultura popular é
indelével, desde o piroso strangers
in the night ao fantástico New York, New York,
passando pelo brincalhão something
stupid, muito apropriado nesta ocasião, também porque é a meias a sua filha
Nancy.
O nome completo do Sinatra era Francis Albert
Sinatra, pelo que se os pais do nosso gaiato finalmente optarem por um nome
duplo, o problema fica resolvido: Francisco Alberto.
Se o gaiato não for fã do Sinatra logo de
início (admito que só comece a apreciar quando for mais velhinho), tenho a
certeza que aderirá logo ao seu outro namesake
Francisco Zappa, e não me admiraria que lá
pelos 16 anos, quando começar a ter barba que chegue, deixe crescer um bigode e
mosca à Frank Zappa. Frank Zappa: Montana.
Certos pais refreiam-se de dar o belo nome de
Francisco aos seus rebentos com medo que eles fiquem conhecidos pelo diminutivo
Chico. Não sei porquê. Ombreando em popularidade com o Sinatra, temos o Chico
Moleza, tão bem reincarnado pelo irmão do novo gaiato, ainda recentemente,
e que aqui vemos contracenando com o professor Josué e com a irrequieta Malvina:
Francisco é dos nomes mais internacionais que
há, até por causa de San Francisco, cidade de onde vêm os iPhones (de onde vem
o projeto dos iPhones, pois os iPhones propriamente ditos vêm da China…) e
outras maravilhas da tecnologia e que foi há quase 50 anos a meca dos hippies,
para onde todos nós que já por cá andávamos nessa altura queríamos ir, com flores no cabelo,
claro.
Para a gaiata, podíamos escolher Francisca, e
referi-la à Françoise
Hardy, ídolo e modelo das avós da gaiata, tenho a certeza, com os seus icónicos
cabelos lisos, que todas as miúdas dos anos 60 se esforçavam por copiar, mas
isso seria óbvio de mais. Alternativamente, e socorrendo-nos novamente da
inspiração papal, optamos por Benedita, que é o feminino de Bento, nome do papa
emérito. É verdade que também existe Benta em português, que é um bonito nome
aliás, com um toque medieval, mas não queremos que no futuro os pais caiam no
erro de a educar com frases do estilo “ó Benta, ou te portas bem ou levas nas
ventas” e “ó Benta, tu precisas é de água benta”. Com Benedita, não corremos
esse risco.
Benedita (e Benta também) significa
“abençoada”, o que é muito bonito, ainda que os abençoados pela sorte sejamos
nós, que vamos ter o privilégio de a ver crescer.
Benedita é um nome pouco usado em Portugal.
Com algum destaque popular, temos a interessante e jovial Benedita Pereira, estrela dos
morangos com açúcar e mais ninguém. Por isso, o campo está praticamente livre
para a nossa Benedita.
Em termos geográficos, sobressai a pujante
freguesia da Benedita, no concelho de Alcobaça, de onde é natural a tia
Encarnação. Se San Francisco, nos EUA, é a capital da tecnologia, Benedita, em
Portugal, é a capital da indústria da cutelaria, sede da famosíssima marca ICEL. Vejam só este belo facalhão, fabricado na
Benedita:
É na Benedita que se situa a famosa aldeia da Venda
das Raparigas, onde antigamente passávamos quando íamos para o Porto, nos
questionando sempre sobre a ambiguidade do nome: vendia-se lá raparigas ou as
raparigas é que estavam lá a vender, por exemplo, facas da ICEL?
Quando íamos ao Porto pela Venda das
Raparigas, não passávamos por Alcobaça, sede do concelho. Mas se fosse hoje,
devíamos passar, e não apenas para visitar o túmulo de Pedro e Inês, esse casal
pouco recomendável, no mosteiro,
mas certamente para ir à pastelaria
Alcoa comprar os melhores pastéis de nata do mundo, e talvez outras
delícias da doçaria conventual. Claro que, se lá fôssemos uma vez, teríamos de
lá voltar, como cantava a
Maria de Lurdes Resende, numa das canções mais famosas da música popular,
cujo refrão ficou impresso nos nossos genes: “quem passa por Alcobaça, não
passa sem lá voltar” (o que agora é mais verdadeiro ainda, visto a pastelaria…)
Esta deambulação gastronómica leva-me a fazer
uma proposta, por antecipação: cá para nós, os ovos benedict, que costumam
alegrar os nossos pequenos-almoços, passarão a chamar-se “ovos à nossa Benedita”.
Combinado?
Foi ou não foi simples escolher o nome,
apoiando-nos simplesmente (passe a repetição) nas garantidas opções papais?
Benedita se for menina, Francisco, se for menino.
Não compliquemos!
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