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domingo, 20 de abril de 2014

Nome do dia: Benedita, Francisco

Na tribo dos programadores, muitas vezes se ouve dizer “para quê fazer simples, se podemos fazer complicado?” Isto não é para levar à letra, antes representa o desespero por não termos visto logo a solução simples para o problema e só a termos encontrado depois de muitas voltas e reviravoltas complicadas e complicativas.

Na questão da escolha do nome da nova gaiata ou do novo gaiato, temos um exemplo dessa clássica situação. A solução simples está bem à nossa frente e nós não a enxergamos! Por isso, andamos às voltas com soluções imaginativas, mas desnecessariamente complicadas.

Vejamos: o irmão mais velho chama-se como? Xavier. Que outro nome faz Xavier lembrar, imediatamente? Francisco, claro. Todos sabemos Xavier era inicialmente o nome da aldeia de onde vinha o tal Francisco que havia de ficar conhecido por São Francisco Xavier. Portanto, o nome próprio Xavier nem sequer existiria se não fosse pelo Francisco.

Francisco é um belo nome, em qualquer parte do mundo. É o nome do papa atual, e certamente o papa atual escolheu o nome por inspiração divina. Esta circunstância dá ao nome Francisco um selo de qualidade admirável, a que não somos indiferentes e a que muito menos devemos desprezar.
Ainda no setor religioso, Francisco tem dois santos altamente: o supracitado São Francisco Xavier e o incontornável São Francisco de Assis, fabulosa personalidade, para muitos a principal figura do cristianismo, desde Jesus Cristo.

Curiosamente, o nome original do frade era João Pedro Bernardão (em italiano Giovanni di Pietro di Bernardone), o que calha bem, pois o pai do gaiato é João, e assim, sub-repticiamente, dá ao filho o seu nome, e também o avô materno fica todo contente pois os seus dois nomes próprios ficam representados cabalisticamente, ainda que por ordem inversa.

A etimologia do nome é simples: Francisco significa … “francês”! No caso vertente, é o melhor que se pode arranjar, já que não consegui localizar nenhum nome próprio cuja etimologia remeta para “luxemburguês”. Fôssemos nós de extração brasileira, proporia Luxisco, mas receio que no consulado não aceitassem.

Apesar do significado do nome, os Franciscos mais famosos nem sequer vêm de França. Descontando os que são santos, em número um aparece o Francisco Sinatra, mais conhecido pelo seu petit-nom americano, Frank. A sua marca na cultura popular é indelével, desde o piroso strangers in the night ao fantástico New York, New York, passando pelo brincalhão something stupid, muito apropriado nesta ocasião, também porque é a meias a sua filha Nancy.

O nome completo do Sinatra era Francis Albert Sinatra, pelo que se os pais do nosso gaiato finalmente optarem por um nome duplo, o problema fica resolvido: Francisco Alberto.
Se o gaiato não for fã do Sinatra logo de início (admito que só comece a apreciar quando for mais velhinho), tenho a certeza que aderirá logo ao seu outro namesake Francisco Zappa, e não me admiraria que lá pelos 16 anos, quando começar a ter barba que chegue, deixe crescer um bigode e mosca à Frank Zappa. Frank Zappa: Montana.

Certos pais refreiam-se de dar o belo nome de Francisco aos seus rebentos com medo que eles fiquem conhecidos pelo diminutivo Chico. Não sei porquê. Ombreando em popularidade com o Sinatra, temos o Chico Moleza, tão bem reincarnado pelo irmão do novo gaiato, ainda recentemente, e que aqui vemos contracenando com o professor Josué e com a irrequieta Malvina:

Francisco é dos nomes mais internacionais que há, até por causa de San Francisco, cidade de onde vêm os iPhones (de onde vem o projeto dos iPhones, pois os iPhones propriamente ditos vêm da China…) e outras maravilhas da tecnologia e que foi há quase 50 anos a meca dos hippies, para onde todos nós que já por cá andávamos nessa altura queríamos ir, com flores no cabelo, claro.

Para a gaiata, podíamos escolher Francisca, e referi-la à Françoise Hardy, ídolo e modelo das avós da gaiata, tenho a certeza, com os seus icónicos cabelos lisos, que todas as miúdas dos anos 60 se esforçavam por copiar, mas isso seria óbvio de mais. Alternativamente, e socorrendo-nos novamente da inspiração papal, optamos por Benedita, que é o feminino de Bento, nome do papa emérito. É verdade que também existe Benta em português, que é um bonito nome aliás, com um toque medieval, mas não queremos que no futuro os pais caiam no erro de a educar com frases do estilo “ó Benta, ou te portas bem ou levas nas ventas” e “ó Benta, tu precisas é de água benta”. Com Benedita, não corremos esse risco.

Benedita (e Benta também) significa “abençoada”, o que é muito bonito, ainda que os abençoados pela sorte sejamos nós, que vamos ter o privilégio de a ver crescer.

Benedita é um nome pouco usado em Portugal. Com algum destaque popular, temos a interessante e jovial Benedita Pereira, estrela dos morangos com açúcar e mais ninguém. Por isso, o campo está praticamente livre para a nossa Benedita.

Em termos geográficos, sobressai a pujante freguesia da Benedita, no concelho de Alcobaça, de onde é natural a tia Encarnação. Se San Francisco, nos EUA, é a capital da tecnologia, Benedita, em Portugal, é a capital da indústria da cutelaria, sede da famosíssima marca ICEL. Vejam só este belo facalhão, fabricado na Benedita:

É na Benedita que se situa a famosa aldeia da Venda das Raparigas, onde antigamente passávamos quando íamos para o Porto, nos questionando sempre sobre a ambiguidade do nome: vendia-se lá raparigas ou as raparigas é que estavam lá a vender, por exemplo, facas da ICEL?

Quando íamos ao Porto pela Venda das Raparigas, não passávamos por Alcobaça, sede do concelho. Mas se fosse hoje, devíamos passar, e não apenas para visitar o túmulo de Pedro e Inês, esse casal pouco recomendável, no mosteiro, mas certamente para ir à pastelaria Alcoa comprar os melhores pastéis de nata do mundo, e talvez outras delícias da doçaria conventual. Claro que, se lá fôssemos uma vez, teríamos de lá voltar, como cantava a Maria de Lurdes Resende, numa das canções mais famosas da música popular, cujo refrão ficou impresso nos nossos genes: “quem passa por Alcobaça, não passa sem lá voltar” (o que agora é mais verdadeiro ainda, visto a pastelaria…)

Esta deambulação gastronómica leva-me a fazer uma proposta, por antecipação: cá para nós, os ovos benedict, que costumam alegrar os nossos pequenos-almoços, passarão a chamar-se “ovos à nossa Benedita”. Combinado?


Foi ou não foi simples escolher o nome, apoiando-nos simplesmente (passe a repetição) nas garantidas opções papais?


Benedita se for menina, Francisco, se for menino. Não compliquemos!

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